'Achei que ia morrer antes de ele ser preso', diz pai de Sandra Gomide

25/05/2011 10h02


Fonte G1

Imagem: Juliana Cardilli/G1Pais de Sandra Gomide têm problemas de saúde e dificuldades motoras.(Imagem:Juliana Cardilli/G1)Pais de Sandra Gomide têm problemas de saúde e dificuldades motoras.

Feliz e aliviado. É assim que o aposentado João Gomide, de 72 anos, disse se sentir na manhã desta quarta-feira (25), um dia após a prisão do jornalista Antonio Marcos Pimenta Neves, condenado pelo assassinato de sua filha, a também jornalista Sandra Gomide. A prisão ocorreu na noite de terça-feira (24), após o Supremo Tribunal Federal (STF) negar o último recurso pendente da defesa de Pimenta Neves, que foi condenado a 15 anos de prisão em 2006, mas recorria em liberdade.

“Achei que ia morrer antes de ver o Pimenta Neves preso. Ou eu ou ele íamos morrer antes de isso acontecer. Eu não tinha mais esperanças de vê-lo na cadeia. Não dava vontade nem de viver. Agora estou satisfeito”, disse o aposentado nesta manhã. “Pensei que ele estava um bagaço, cheguei a ter dó dele, mas ele está melhor do que eu. Ele está andando, eu não”, afirmou o pai de Sandra sobre as imagens de Pimenta Neves sendo preso.

Atualmente, ele vive com a mulher em uma casa simples em Suzano, na Grande São Paulo. A notícia sobre a prisão do algoz da filha veio em um momento difícil: há cerca de um mês ele está preso a uma cadeira de rodas, devido a uma fratura no fêmur sofrida em uma queda dentro de casa. A mãe de Sandra, a aposentada Leonilda Paziam Florentino, também está debilitada. Aos 74 anos, ela se locomove com a ajuda de um andador e tem dificuldades para falar.

João Gomide acompanhava o processo por meio de seu advogado, que já o havia avisado que os ministros do STF provavelmente negariam a liberdade a Pimenta Neves. Nesta terça, o aposentado já estava deitado na cama quando recebeu uma ligação de seu irmão contando que a Justiça havia determinado a prisão. “Eu deito cedo, porque preciso de ajuda. Meu irmão ligou e falou que ele ia ser preso, que tinha polícia na casa dele, mas eu fiquei parado, estava dopado dos remédios”, contou.

Pouco depois, a empregada da família, Cremilda Bezerra da Silva Santos, de 48 anos, foi até o imóvel do casal avisá-los do ocorrido. “Já estava em casa quando vi a reportagem e vim correndo para contar. Aumentei o som da TV para ele escutar e fiquei aqui até 23h atendendo os telefonemas. Conheço eles tem pouco tempo, mas fico contente. Todos os assassinos têm que cumprir pena”, afirmou Cremilda.

Nesta manhã, o aposentado conseguiu ter uma noção maior do ocorrido. “Estou feliz demais. Estou esperando meu advogado ligar para agradecê-lo. As pessoas duvidavam que ele seria preso, eu ficava triste, incomodado”, disse o pai de Sandra Gomide. “Meu desejo é que ele fique preso pelo menos sete anos, metade da pena. Mas você não pode prever nada, porque cada preso tem sua regalia, dependendo do dinheiro. Eu tenho medo de que ele seja beneficiado.”

Dificuldades
A vida do casal ficou suspensa após a morte da filha. Sandra ajudava os pais, que passaram por dificuldades financeiras após sua morte – por isso, venderam uma casa na Saúde, Zona Sul de São Paulo, e compraram a propriedade onde moram atualmente em Suzano. “Agora está melhor. Com o dinheiro que sobrou e as aposentadorias dá para viver.”

A mãe de Sandra, Leonilda, que chegou a dizer na época do crime que perdoava Pimenta Neves, hoje já não tem tanta certeza assim. “Sei lá, Jesus é que sabe”, disse ela ao ser questionada se ainda o perdoava. “Estar satisfeita não é uma maneira de dizer, ele é um ser humano. Mas deve pagar pelo que fez, e muito.”

Prisão
Pimenta Neves se entregou na noite desta terça para policiais civis da Divisão de Capturas. Investigadores e os delegados Pablo Baccin e Waldomiro Milanesi foram recebidos por ele por volta das 19h30. Ao abrir a porta de sua casa, na Chácara Santo Antônio, Zona Sul de São Paulo, Pimenta Neves sorriu e cumprimentou os policiais.

Meia hora depois, ele entrou em um carro da polícia. Parte das dezenas de pessoas que se aglomeravam em frente à casa bateu palmas no momento em que o carro saiu em direção à sede da Divisão de Capturas, no Centro da cidade. Outras pessoas gritaram “assassino”.
O advogado Itagiba Francês, um dos advogados de Pimenta Neves, disse que em nenhum momento seu cliente pensou em fugir. “Ele está ciente. Esperava isso há muito tempo. Não tem esse negócio de fugir.”

De acordo com Francês, o jornalista de 74 anos “está bem, mas debilitado”. “Ele está magoado, triste. É um momento de tristeza.” Ele informou que Pimenta Neves mora sozinho e toma remédio para problemas de saúde, como hipertensão.

Ao chegar à Divisão de Capturas, no Centro de São Paulo, Pimenta Neves disse: "Eu estava esperando". Questionado por jornalistas se estava preparado para ficar 15 anos preso, disse apenas uma palavra: “Claro”.

Pimenta Neves foi levado para o 2º DP, no Bom Retiro, na região central de São Paulo, por volta das 23h35 desta terça, após ser submetido a exames de corpo de delito na sede do Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP), no Centro. Ele passou a noite na delegacia.