Brasil tem 14,5 milhões de famÃlias vivendo em situação de extrema pobreza
23/05/2021 11h37Fonte meio norte
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Atualmente o Brasil tem 14,5 milhões de famílias registradas no CadÚnico (Cadastro Único do governo federal) vivendo em extrema pobreza. O número alcançado em abril é o maior de famílias na miséria desde o início dos registros disponíveis do Ministério da Cidadania —a partir de agosto de 2012— e representa mais de 40 milhões de pessoas.Há dois meses, a desempregada Niedja da Silva, 29, deixou o barraco onde vivia na favela da Vila Emater, em Maceió, para morar com o marido e as duas filhas na praça do Conjunto José Tenório, no bairro da Serraria, em Maceió. Embaixo de uma lona, pede ajuda a quem passa. A gente hoje vive à base da doação. As pessoas nos ajudam com qualquer coisa, senão vivíamos na fome completa."
Antes da pandemia, em fevereiro de 2020, no país havia 1 milhão a menos: 13,4 milhões. Família em extrema pobreza é aquela com renda per capita de até R$ 89 mensais, de acordo com o governo federal. Em regra, são pessoas que vivem nas ruas ou em barracos de favelas. Há ainda 2,8 milhões de famílias vivendo .. em pobreza (com renda entre R$ 90 e 178 per capita mensais).
Durante a entrevista ao UOL em sua "casa", ou seja, embaixo da lona montada na praça à beira do asfalto, Niedja da Silva é chamada pelo motorista de um carro. Recebe três pacotes de massa de milho para cuscuz. É assim, as pessoas aqui passam, nos veem e ajudam. Aqui é melhor do que lá [na favela], onde ninguém nos via."
O marido de Niedja estava fora no momento em que a reportagem a visitou, catando material reciclável nas ruas. Ela conta que o homem foi demitido no início do ano passado por uma empresa de material reciclável. A família conseguiu manter o pagamento do aluguel do barraco em que vivia (pagando R$ 180 por mês) graças ao auxílio emergencial. Entretanto, a situação de miséria chegou com o fim do benefício em 2021 —beneficiária do Bolsa Família, a família recebe R$ 130 por mês— e foi despejada do imóvel.
"Não dava mais para pagar pela casa. Meu marido passa o dia fora e só volta quando termina de conseguir algo. Mas vale muito pouco o que ele cata, é só uma ajuda mesmo com coisas básicas", afirma ela, que pede para não ser fotografada de frente. "Tenho vergonha de foto", diz. Neste mês diz que começou a receber R$ 375 do novo auxílio emergencial. "Ajuda, a gente consegue comer pelo menos duas vezes por dia, mas ainda é muito pouco, não dá para pagar para morar em um lugar digno", conta. Sem nada de carne em 2021 Em um terreno próximo à praça, sete famílias ocupam a área pública para escaparem dos dias difíceis.
"Fomos despejados dos nossos barracos e não tínhamos como pagar um local. Aí viemos para cá", afirma Maikon Ferreira Vital, 35, que é uma espécie de líder do local. Maikon Ferreira Vital em comunidade em Maceió: "Não tínhamos como pagar moradia".
"Aqui temos umas três pessoas que vêm doar sempre, dão pelo menos cesta básica por mês. Mas muita gente que vem se vacinar n nos vê nessa situação e doa algo. Sobrevivemos assim", afirma. Vital conta que, ali, ninguém comeu carne neste ano. Com o auxílio ainda dava, mas acabou, e a carne ainda subiu de preço. Agora não tem como, na última vez que comi caiu até o dente [mostrando o espaço deixado pela queda dente da frente]" No pequeno acampamento eles montaram uma cozinha coletiva e se revezam nos serviços, enquanto crianças se divertem com uma bola velha e descosturada.
Entre os moradores, há adolescentes chefes de família. Casada, a jovem A. C., 15, jogava baralho em uma mesa quebrada com amigos para passar o tem
gava baralho em uma mesa quebrada com amigos para passar o tempo. Mãe de um bebê de três meses, ela conta que a situação da alimentação precária é o que mais a incomoda. Aqui só comemos ovo e salame, e olhe lá. Até o ovo está caro. Falta tudo aqui, infelizmente, e não vejo como melhorar."