Dilma pede 'paciência' e diz que sociedade precisa dividir esforço
09/03/2015 00h36Fonte G1
Em pronunciamento à nação em cadeia de rádio e televisão na noite deste domingo (8), por ocasião do Dia da Mulher, a presidente Dilma Rousseff admitiu que o Brasil passa por dificuldades, consequências da crise financeira mundial e da "maior seca" da história", e pediu paciência aos brasileiros. Disse ainda que o governo absorveu, até o ano passado, todos efeitos negativos da crise e que "agora" tem "que dividir parte deste esforço com todos os setores da sociedade".
Durante o pronunciamento, houve protestos em algumas cidades do país.
"Entre muitos efeitos graves, esta seca tem trazido aumentos temporários no custo da energia e de alguns alimentos. Tudo isso, eu sei, traz reflexos na sua vida. Você tem todo direito de se irritar e de se preocupar. Mas lhe peço paciência e compreensão porque esta situação é passageira", declarou. Segundo ela, o Brasil tem condições de vencer os "problemas temporários", e afirmou que a vitória "será ainda mais rápida se todos nós nos unirmos neste enfrentamento”.
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De acordo com a presidente, "todos efeitos negativos" da crise financeira foram absorvidos pelo governo, até o ano passado, por meio de reduções de impostos para estimular a economia e favorecer a geração de empregos. Acrescentou que não havia como prever que a crise duraria "tanto" e que viria acompanhada de "grave crise climática".
"Absorvemos a carga negativa até onde podíamos e agora temos que dividir parte deste esforço com todos os setores da sociedade. É por isso que estamos fazendo correções e ajustes na economia", afirmou, acrescentando que um ajuste semelhante foi feito no início do governo Luiz Inácio Lula da Silva, em 2003.
Protestos
Gritos, vaias, panelas batendo e buzinas foram ouvidos em algumas cidades do país na noite de domingo durante o discurso da presidente Dilma Rousseff em rede nacional de televisão.
Em São Paulo, isso aconteceu em bairros como Aclimação, Pinheiros, Santana, Vila Leopoldina, Brooklin, Vila Mariana, Perdizes, Moema, Itaim Bibi e Morumbi; em Brasília, em Águas Claras, no Sudoeste, em Guará, nas Asas Norte e Sul e Eixo Monumental; no Rio de Janeiro, no Recreio dos Bandeirantes e em Ipanema; em Goiânia, no Jardim Goiás, no Alto da Glória, em Bueno, em Bela Vista, em Pedro Ludovico e Marista; em Curitiba, no Batel, Água Verde e Bigorrilho; em Vitória, na Praia do Canto e Mata da Praia; em Vilha Velha (ES) na Praia da Costa e Itapuã; em Belo Horizonte, nas regiões Centro-Sul; Noroeste e Oeste.
O panelaço registrado nessas cidades foi uma resposta à convocação que circulou neste domingo nas redes sociais, convidando as pessoas para protestar durante a fala da presidente.
Nas redes sociais houve manifestações contra e a favor de Dilma.
Crise financeira
Ainda durante o pronunciamento, Dilma afirmou que o mundo passa pela segunda etapa de combate à "mais grave crise internacional desde a grande depressão de 1929". "E, nesta segunda etapa, estamos tendo que usar armas diferentes e mais duras daquelas que usamos no primeiro momento", declarou a presidente.
Disse ainda que a crise afetou "severamente" grandes economias, como os Estados Unidos, a União Européia, o Japão e "até mesmo a China”.
Segundo ela, o Brasil foi um dos países que melhor reagiram em um primeiro momento da crise financeira internacional e, neste momento, está "implantando as bases para enfrentar a crise e dar um novo salto no seu desenvolvimento". Ela afirmou que, pela primeira vez na história, o Brasil enfrenta a crise sem "quebra financeira e cambial" e, ao mesmo tempo, preservando e aumentando o emprego e o salário.
Novo 'método' contra a crise
Segundo Dilma, após o governo ter absorvido nos últimos anos todos efeitos negativos da crise com reduções de impostos para estimular a atividade e o emprego, houve uma escolha por "mudar de método e buscar soluções mais adequadas ao atual momento". "Mesmo que isso signifique alguns sacrifícios temporários para todos e críticas injustas e desmesuradas ao governo", afirmou.
Nos últimos meses, para reequilibrar as contas públicas, que tiveram o pior resultado da história em 2014, o governo subiu tributos sobre combustíveis, automóveis, cosméticos, empréstimos e sobre a folha de pagamentos. Para combater a alta da inflação, que está pressionada neste ano principalmente aumento de tarifas públicas, como energia elétrica e gasolina, e também pela disparada do dólar, o Banco Central já promoveu quatro aumentos seguidos nos juros, que estão no maior patamar em seis anos.
Além disso, informou que não fará mais repasses à Conta de Desenvolvimento Energético (CDE) - o que impactará a conta de luz, que, segundo analistas, pode ter aumento acima de 40% neste ano - limitou benefícios sociais, como seguro-desemprego e abono salarial, e reduziu gastos de custeio e do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).
Economistas já preveem a maior contração do Produto Interno Bruto (PIB) em 25 anos e não afastam a possibilidade de nova recessão neste ano. No pronunciamento à nação, a presidente Dilma admitiu que espera "uma primeira reação [da economia]" no final do segundo semestre deste ano.
De acordo com a presidente da Repúblcia, as medidas são necessárias para "sanear as nossas contas e, assim, dar continuidade ao processo de crescimento com distribuição de renda, de modo mais seguro, mais rápido e mais sustentável”.
Petrobras
A presidente avaliou ainda que este esforço "tem que ser visto como mais um tijolo, no grande processo de construção do novo Brasil".
"Esta construção não é só física, mas também espiritual. De fortalecimento moral e ético. Com coragem e até sofrimento, o Brasil tem aprendido a praticar a justiça social em favor dos mais pobres, como também aplicar duramente a mão da justiça contra os corruptos. É isso, por exemplo, que vem acontecendo na apuração ampla, livre e rigorosa nos episódios lamentáveis contra a Petrobras", afirmou.
Nova lei para as mulheres
Dilma anunciou ainda que sancionará, nesta segunda-feira (9), a Lei do Feminicídio, que transforma em crime hediondo, o assassinato de mulheres decorrente de violência doméstica ou de discriminação de gênero. Em sua visão, este é "um novo passo no fortalecimento da justiça, em favor de nós, mulheres brasileiras".