Land Rover de nutricionista estava três vezes acima da velocidade permitida, diz perito

07/08/2011 23h01


Fonte Fantástico

Imagem: Reprodução/TV GloboClique para ampliarLand Rover de nutricionista estava três vezes acima da velocidade permitida, diz perito.(Imagem:Reprodução/TV Globo)Land Rover de nutricionista estava três vezes acima da velocidade permitida, diz perito.

O Fantástico tem com novas revelações sobre a motorista do Land Rover que atropelou e matou um jovem em São Paulo. Afinal, por que ela não fez teste do bafômetro? Durante essa semana, as equipes de reportagem circularam pelas ruas da capital paulista e comprovaram: nas blitz da Lei Seca também tem muita gente que se recusa a passar pelo exame.

É madrugada em São Paulo. Em uma avenida da Zona Oeste, muitos motoristas colaboram, mas nem todos.

“Não precisa pôr a mão nem encostar a boca. É só assoprar de longe, por favor”, orienta o policial. “Não, eu não quero fazer”, responde uma mulher. “Dá para encostar aqui, por gentileza”, pede o policial. Ela se recusou a fazer o bafômetro e agora o policial está verificando se existe algum sinal de embriaguez. Os documentos são checados. “Ela foi liberada. Neste caso, ela não precisa ser levada à delegacia por se recusar a fazer o bafômetro, ela não apresentou nenhum sinal de embriaguez. Não há o que se fazer”, conta o mesmo policial.

Há duas semanas, a nutricionista Gabriella Guerrero Pereira, de 28 anos, que atropelou e matou Vitor Gurman, 24, também não fez o exame. Este foi o segundo caso de grande repercussão em São Paulo em menos de um mês envolvendo motoristas que bebem e acabam provocando mortes no trânsito.

Circulando pelas madrugadas, o Fantástico encontrou outros exemplos de imprudência. Um homem é parado por policiais. Dentro do carro, a imagem denuncia: o copo de uísque está em um suporte. Ele conta ao policial que bebeu três doses. “Um pouquinho, sim”, admite. Ele se recusa a fazer o teste do bafômetro e é levado para a delegacia.

No Instituto Médico Legal, o homem também não aceita fazer um exame de sangue. Então, passa por uma avaliação médica, o chamado exame clínico. Os resultados ainda não saíram. Como o amigo também havia bebido, os dois vão embora a pé.

Segundo o código de trânsito, quem se recusa a fazer o teste do bafômetro ou outros exames está sujeito a perder a carteira de motorista por um ano, a receber multa e ter o veículo apreendido. Mas, segundo a Secretaria de Segurança de São Paulo, policiais usam o bom senso e liberam o motorista quando não há indícios de embriaguez.

Os motoristas alegam que não são obrigados a produzir provas contra eles mesmos. O desembargador Marco Antônio Marques da Silva, do Tribunal de Justiça de São Paulo, discorda dessa atitude e lamenta que a falta dos exames dificulte o processo na Justiça.

“Não é fazer prova contra si, no meu entender. É fazer prova em busca da verdade. Se ele não está embriagado, não tem por que não fazer. Então, quer dizer, nós estamos liberando, a lei não tem validade nenhuma”, observa o desembargador.

Na última sexta-feira (5), a nutricionista Gabriella prestou depoimento sobre o acidente com o Land Rover. Ela disse que havia bebido em um bar apenas uma margarita, um drinque à base de tequila, às 23h30 e que não se negou a fazer o teste do bafômetro.

O Fantástico teve acesso ao inquérito policial, em que um dos policiais dá outra versão: Gabriella havia concordado em fazer o exame, mas, quando os familiares chegaram, mudou de ideia.

Gabriella foi trazida para o Instituto Médico Legal, onde também não fez o exame de sangue. Ela passou apenas pela avaliação de um médico. Os resultados trazem informações importantes.

Ela apresentava hálito “discretamente etílico”, mesmo cerca de sete horas depois de beber. Gabriella não conseguiu fazer o chamado exame de calcanhar-joelho, ou seja, fazer o “quatro”. Falhou ainda em outros dois: encostar o dedo no nariz e juntar os dois dedos indicadores. Apesar disso, tinha memória, atenção e concentração preservadas.

“Qualquer nível de álcool no sangue já altera o funcionamento tanto neurológico do nosso cérebro, dos nossos nervos, quanto do coração e dos outros órgãos”, afirma o toxicologista Anthony Wong, do Hospital das Clínicas de São Paulo.

Como não fez o teste do bafômetro na hora do acidente, a polícia disse que não pode concluir que Gabriella estava embriagada. Mesmo assim, ela foi indiciada por homicídio doloso, aquele em que há intenção de matar, porque assumiu esse risco ao dirigir em alta velocidade. A polícia se baseou nas câmeras de segurança da rua. “Passa um carro antes e o carro Land Rover, quando passa, está numa velocidade muito alta”, aponta o delegado Ricardo Arantes Cestari.

Mas qual era a velocidade do Land Rover? O Fantástico fez um teste. O carro passa na frente da mesma câmera. Seguimos na velocidade máxima permitida na rua: 30 quilômetros por hora. Um perito analisou as duas gravações

“Pode-se chegar a uma conclusão que o veículo transitava em uma velocidade superior à máxima permitida para o local, aproximadamente três vezes superior. Ele estava em torno de 87 a 90 quilômetros por hora, segundo os cálculos realizados”, afirma o perito em acidentes de trânsito Sérgio Ricardo Paulino.

O cálculo considera o tempo que os carros demoraram para ir de um ponto ao outro da tela. “A 30 quilômetros por hora, o veículo percorreu aproximadamente 2 segundos e 181 milésimos de segundos. A Land Rover levou aproximadamente 750 milésimos de segundo”, diz o perito.

Vitor foi atingido instantes depois. Gabriella contou em depoimento que só assumiu a direção do Land Rover porque o namorado, Roberto de Souza Lima, tinha bebido muito. Eles estão juntos há dois meses. O acidente teria acontecido quando ela tentou segurar o namorado, que estava sem cinto de segurança. Nesta semana, testemunhas chegaram a dizer que era ele quem estava ao volante, mas acabaram voltando atrás.

“Para a gente tanto faz. O importante é que quem quer que seja que estava dirigindo e assassinou uma pessoa pague por isso. Meu sobrinho morreu e não vai voltar, mas, para que outros sobrinhos e outros filhos voltem para casa, o assassino ou a assassina dele tem que ser exemplarmente punidos”, protesta Nilton Gurman, tio de Vitor Gurman.

Na tarde deste domingo (7), jogadores do Corinthians na partida contra o Atlético Paranaense, em Curitiba, homenagearam Vitor. Ele era um torcedor fanático.