Papa diz que viveu momentos difíceis e continuará servindo à Igreja

27/02/2013 14h25


Fonte Msn

Cidade do Vaticano, 27 fev (EFE).- Cerca de 200 mil pessoas se despediram nesta quarta-feira de Bento XVI em seu último ato público no Vaticano antes de deixar o pontificado, no qual disse que seu período à frente da igreja teve momentos 'difíceis' e que sua renúncia não significa voltar à vida privada, já que 'não abandona a cruz'.

Sereno, sorridente, 'consciente de ter realizado um bom trabalho', segundo afirmou o porta-voz, Federico Lombardi, Bento XVI repassou seus quase oito anos de pontificado e assegurou que nunca se sentiu só, que sempre se sentiu protegido por Deus e que renunciou ao pontificado não por seu bem, mas pelo da Igreja, ao notar que já não tinha forças para guiar a barca de Pedro.

'Minha decisão de renunciar ao Ministério petrino não revoga a decisão que tomei em 19 de abril de 2005 (quando foi eleito papa). Não retorno à vida privada, a uma vida de viagens, encontros, conferências. Não abandono a Cruz, sigo de uma maneira nova com o Senhor Crucificado. Sigo a seu serviço no recinto de São Pedro', afirmou.

Joseph Ratzinger assegurou que desde o momento em que se aceita ser papa, a vida privada desaparece e se pertence 'totalmente a toda a Igreja', e que ele, embora não irá mais governá-la, seguirá servindo a ela com suas preces.

Sobre o pontificado afirmou que 'o Senhor nos deu muitos dias de sol e ligeira brisa, dias nos quais a pesca foi abundante, mas também momentos nos quais as águas estiveram muito agitadas e o vento contrário, como em toda a história da Igreja, e o Senhor parecia dormir'.

Bento XVI disse que se sentiu em alguns momentos como são Pedro com os apóstolos na barca no lago da Galiléia e que sempre soube que o Senhor estava o acompanhando.

'E sempre soube que a barca da Igreja não é minha, não é nossa, mas sua e Ele não a deixa afundar. É quem a conduz através dos homens que elegeu. Esta é uma certeza que nada pode ofuscar e é por isso que meu coração está cheio de agradecimento a Deus, porque não me faltou e a toda a Igreja com seu consolo, sua luz e seu amor', discursou.

Bento XVI, que antes de ser eleito papa denunciou que a Igreja era uma barca que 'fazia água' e que havia sujeira entre seus membros, afirmou que Deus guia sua Igreja e atua 'sobretudo nos momentos difíceis', por isso não se deve perder jamais 'esta visão de fé'.

Os analistas do Vaticano observaram estas palavras como uma referência aos escândalos que recentemente atingiram o Vaticano.

Bento XVI insistiu que a Igreja tem que ser um 'corpo vivo, uma unidade de irmãos', e pediu que os fiéis levassem uma vida cristã 'coerente'.

Sobre o motivo de sua renúncia, admitiu que não tinha mais forças (Bento XVI tem quase 86 anos) e contou que 'pediu' a Deus 'com insistência' que o 'iluminasse' para tomar a decisão 'mais justa', não para ele, 'mas para o bem da Igreja'.

'Tomei esta decisão sabendo da importância da mesma e da novidade que representa, mas com uma profunda serenidade de ânimo. Amar a Igreja significa também ter coragem de tomar decisões difíceis, sofridas, tendo sempre presente o bem da Igreja e não o de um', manifestou.

Bento XVI pediu que rezem por ele e pelos cardeais, 'chamados à delicada tarefa de escolher um novo Sucessor de Pedro'.

A audiência foi acompanhada por fiéis de todo mundo, que não pararam de cantar 'benedicto, benedicto' e 'viva o papa', assim como personalidades políticas, como o presidente da Eslováquia, Ivan Gasparovic.

Este foi o último ato público de Joseph Ratzinger no Vaticano. Bento XVI se despedirá amanhã dos cardeais que desejarem falar com o papa e à tarde irá para a residência de Castel Gandolfo, onde cumprimentará os moradores do pequeno povoado. Às 20h de Roma (16h de Brasília) deixará de ser papa.

Não haverá cerimônia alguma e o único sinal visível que anunciará que Bento XVI não é mais pontífice ocorrerá quando a Guarda Suíça fechar as portas do palácio do Vaticano.

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