Juliana Alves relata separação dolorosa: "Minha filha precisava saber que a mãe tinha amor próprio"
19/10/2024 11h30Fonte Revista Marie Claire
O sonho de Juliana Alves está se realizando: estrelando a nova novela das 19h da TV Globo, Volta por Cima, a atriz, que tem mais de 20 anos de folhetins no currículo, olha para o lado e não se vê mais sozinha. Isso porque a trama de Claudia Souto é marcada por protagonismo negro e diversidade, algo pelo que a artista luta desde o início de sua carreira. "Eu cobrava muito para que não estivesse sozinha nos espaços. Cada programa que eu fazia, cada novela, eu via poucas pessoas pretas", lembra a intérprete de 42 anos. "Hoje reconheço que tenho um respeito que não tinha antes".Quase dois anos depois da separação do seu ex-marido, Ernani Nunes, com quem ficou casada por 5 anos, ela conta que efrentou o doloroso processo doloroso de divórcio com orgulho pelo legado que deixa para a sua filha, Yolanda, de 7 anos. "Uma das coisas que me deu força foi a necessidade de ser uma inspiração, um exemplo positivo para a minha filha. A melhor lição é o exemplo e ela precisava saber que a mãe dela têm amor próprio, respeito por ela mesma", relata, em entrevista exclusiva à Marie Claire.
Imagem: Reprodução/InstagramJuliana Alves comenta separação de Ernani Nunes e relembra críticas racistas no início de sua carreira de atriz.
Nesta conversa, ela também revisita as críticas racistas que recebeu por seguir a carreira de atriz depois de participar do Big Brother Brasil e discute a importância de movimentos sociais para garantir mais representatividade nas produções audiovisuais.
Leia os melhores trechos:
MARIE CLAIRE: Você é natural de Bento Ribeiro, na Zona Oeste do Rio de Janeiro, e cresceu no subúrbio carioca. Como é atuar em uma novela que retrata esse cenário?
JULIANA ALVES: Nasci em Bento Ribeiro, fui para a Favela do Rebu e, aos 3 anos, fui para o Engenho de Dentro, onde passei a maior parte da infância. Aos 12, me mudei para a Tijuca, então conheci muitos bairros diferentes. Fico muito feliz de ver a novela realmente querendo trazer esses bairros do subúrbio.
MC: Você sempre cobrou mais representatividade na TV. Agora, como é para você fazer uma novela com protagonismo negro?
JA: É um sonho se realizando. Gosto sempre de lembrar que esse sonho foi construído com um movimento que aconteceu há muitos anos –movimentos sociais mesmo, não só artísticos– e que muitas vezes foram discriminados, ridicularizados. E, somado a isso, existe hoje toda uma geração de atores e atrizes, criadores e diretores que estão antenados com essa força de fazer pressão por mudanças e toda uma população que mostra que se sente contemplada com essas mudanças. Esse respaldo de você poder saber que existe um movimento de pessoas que estão ali amparando nesse desejo foi fundamental para que as mudanças acontecessem.
Imagem: Divulgação/Márcio FariasJuliana Alves, primeira ex-BBB a se tornar atriz, avalia críticas a influenciadores e antigos participantes de realities entrando para a carreira na atuação.
MC: Você sofreu muitas críticas por ter saído de um reality show e engatado na carreira de atriz. Hoje vemos que esse posicionamento do público com ex-participantes de programas se mantém e se intensifica com a chegada dos influenciadores no ramo. Hoje, como enxerga isso?
JA: Fui uma das primeiras a construir uma carreira com visibilidade até hoje e atribuo isso ao fato de eu ter sido criada em um ambiente muito fértil artisticamente. Quando cheguei [à TV Globo], já fazia teatro amador e formação de dança, e tive a oportunidade de fazer testes, então estava inserida no universo artístico. Não tinha previsão de ser atriz de televisão, até porque eu achava algo totalmente distante. Quando as oportunidades começaram a aparecer, a única coisa que eu sabia era que, para fazer isso bem, precisava estudar muito. Me perguntavam se eu era atriz e dizia que era estudante de teatro. Então, o que para a mídia pareceu imediato e repentino, para mim não foi. Segui com muita dedicação, perseverança e seriedade, muito respeito pela profissão, sem querer colher os louros antes da hora. Entendia que era a hora de construir, então não fiz aquela agenda midiática pós-reality, porque queria, a partir daquela oportunidade, ser reconhecida pelo meu trabalho. Procurei seguir dessa maneira porque eu sabia que estava representando muitas pessoas.
MC: Na época, você também recebeu muitas críticas racistas desmerecendo o seu trabalho. Como lidou com isso naquele momento e como lida hoje?
JA: É verdade. Os meus próprios colegas de profissão desconfiavam da minha vocação. Lido com as críticas mantendo uma postura séria e respeitosa. Não tenho a pretensão de ser melhor do que ninguém. Agora, procuro sim, no meu trabalho, entregar o meu melhor. Sempre haverá algo além do que o que me é apresentado. Procuro fazer sempre. A única ambição que eu tenho é realmente buscar algo além do que apareceu para a gente no primeiro momento. Acho que esse é o trabalho do artista: transformar e sempre buscar algo que alcance as pessoas de uma forma profunda. Às vezes você vai alcançar algumas pessoas e outras vezes não vai alcançar. Às vezes, a gente precisa de um outro instrumento que não nos é dado, que não depende só da gente e da nossa carreira. Então, é [sobre] reconhecer todas essas coisas e, pelo menos, ser honesta comigo nos meus trabalhos. Agora, não construí minha carreira muito pautada por essas dificuldades. Elas existem, claro, e desde lá atrás eu cobrava muito para que eu não estivesse sozinha nos espaços. Cada programa que eu fazia, cada novela, eu via poucas pessoas pretas, por exemplo. Então, sempre tive essa fala, esse questionamento. Mas a gente precisa entender que essa é uma questão de toda a sociedade. E fico feliz porque uma das coisas que eu mais reconheço hoje, nos meus ambientes de trabalho, é um respeito que eu não tinha antes. Tenho muito consciência de que isso foi conquistado como a minha forma de lidar com as pessoas e com respeito por aquele texto, por aquela direção. Isso é muito importante.
Imagem: Globo/Fábio RochaJuliana Alves celebra maior representatividade negra nas novelas; na foto, atriz está caracterizada como Cida, em "Volta Por Cima".
MC: Em relação à autocobrança que você falou há pouco tempo, hoje em dia ela ainda se coloca? É algo que atravessa a sua saúde mental, ou você está mais consolidada e, com o tempo e o seu trabalho, isso foi ficando para trás?
JA: Reconheço que, em alguns trabalhos, minha autocobrança e minha autocrítica me atrapalharam muito. Hoje, lembro dessa sensação e penso: Nossa, se eu tivesse me permitido me divertir mais, se eu não tivesse me criticado tanto, eu teria entregado melhor para aquele personagem. Mas tem muitos fatores que mudam tudo. Às vezes, no nosso ambiente de trabalho, tem alguém que vai te diminuir, ou vai duvidar de você. Reconheço que me deixei abalar muito por pessoas que me subestimaram, que me rotularam. Então, eu queria propor alguma coisa para o personagem por exemplo, e me diziam para não fazer daquela forma. Foi um trabalho de muitos anos para conseguir propor e falar quando acredito que a personagem tem uma outra camada importante.
Imagem: Reprodução/InstagramJuliana Alves admite ter sentido necessidade de ser uma inspiração para a filha, Yolanda, em meio à separação de Ernani Nunes.
MC: Depois de se separar do seu ex-marido, Ernani Nunes, em 2022, você revelou ter passado por um processo de aprendizado sobre como você vivia em função do seu parceiro, de seu casamento. De que forma esses aprendizados te mudaram?
JA: Uma das coisas mais importantes para vivenciar com convicção esse meu processo de superar a separação, que é algo muito doloroso, foi justamente a necessidade de ser uma inspiração, um exemplo positivo para a minha filha. Primeiro, ela precisava saber que a mãe têm amor próprio, respeito por ela mesma. A melhor lição é o exemplo. Eu sempre falo para ela: Filha, estou buscando trabalhar e fazer o meu melhor no meu trabalho, porque é muito importante que a gente faça o melhor onde a gente estiver. Percebo que a minha filha é uma criança que aprendeu a se autovalorizar e a ter o seu desejo respeitado. Tenho certeza que ela aprendeu isso também por observar esse meu processo de dizer: Aqui temos um limite. Também procurei mostrar para ela que a gente pode discordar e continuar se amando, sendo uma família com todas as diferenças. Tem algumas coisas que eu percebo que foram importantes para eu superar [a separação] e me ver bem. Uma delas foi eu me permitir me sentir bem. Uma vez, conversei com ela e falei: Você percebe que a mamãe fez isso para se sentir melhor para cuidar de você?. E vi que ela compreendeu e isso foi importante e bonito de ver.
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