Aos 80, Ney Latorraca avalia ter sido ótimo filho e amigo: "E ator só acaba quando morre, né?"

27/07/2024 14h23


Fonte gshow

Imagem: Markos Fortes/DivulgaçãoNey Latorraca fez 80 anos nesta quinta (25).(Imagem:Markos Fortes/Divulgação)Ney Latorraca fez 80 anos nesta quinta (25).

O ano era 1974 quando o jovem santista, formado pela Escola de Arte Dramática (USP), se mudou para o Rio para trabalhar na TV Globo. Ney Latorraca estreava no ano seguinte sua primeira novela, Escalada. Escrita por Lauro César Muniz com direção de Régis Cardoso, o ator, então com 30 anos, dava vida a Felipe.

Desde então, são inúmeros e inesquecíveis os trabalhos de Ney na Globo, que no ano passado teve seu contrato renovado por mais 10 anos com a emissora.

A chegada dos 80 anos, nesta quinta-feira (25), veio calma, como vieram os 50, os 60 e os 70. Para ele, números não representam seu estado de espírito, sempre ávido em encarar desafios na arte e na vida.

“Até hoje estou no lucro. Não sei nem explicar como me sinto nessas datas redondas. Dizer que não sente nada é mentira. A gente sente o corpo. Não tem mais aquela vivacidade. Dar três voltas na Lagoa não dá mais. A gente fica querendo menos e vivência todas as etapas.”
Imagem: globoNey Latorraca em sua primeira novela, Escalada (1975).(Imagem:globo)Ney Latorraca em sua primeira novela, Escalada (1975).

Trabalhos

Na TV, Ney foi playboy (Estúpido Cúpido, 1977), anarquista (Anarquistas, Graças a Deus, 1984), um polígamo (Rabo de Saia, 1984), vampiro (O Beijo do Vampiro, 2003) e muitos outros personagens inesquecíveis. Como esquecer do Barbosa, do TV Pirata (1988 a 1992)? Ocuparíamos aqui todo esse espaço citando seus incríveis trabalhos, o que, para ele, foi revolucionário:

“Ser eclético na arte é uma delícia para mim. Não é aquela coisa acomodada no sentimento. É sempre uma coisa de risco, mas de nível. As comédias, os musicais... Tudo é uma maneira de eu me exercitar. Mesmo com 80 anos, me sinto como se estivesse na escola de teatro, começando tudo de novo”.

É o desafio que o alimenta: “Me mantém vivo! Claro, tem fases que estou com preguiça, que quero estar na minha casa. Tenho preguiça. O conforto que tenho conquistei com o meu trabalho”.

Vida caseira
Imagem: Reprodução/InstagramNey Latorraca mora numa cobertura na Lagoa, no Rio.(Imagem:Reprodução/Instagram)Ney Latorraca mora numa cobertura na Lagoa, no Rio.

O ator mora numa cobertura em frente à Lagoa Rodrigo de Freitas, na Zona Sul do Rio, com seu companheiro de 20 anos, o escritor, ator e diretor Edi Botelho, 64. É lá que Ney passa horas visitando suas orquídeas, tomando banho de piscina e devorando muitos livros. Atualmente ele está encantado com "Cine Subaé", obra com críticas de cinema feitas por Caetano Veloso entre 1960 e 2023.

“As pessoas falam que estou muito retraído, dentro de casa. Já fui arroz de festa. Eu gosto de estar na minha casa. Sou muito sincero. A pessoa convida, eu digo que não posso ir. E quando perguntam por que não vou, digo simplesmente: Porque não quero.”

O veterano também passa boa parte do seu tempo revendo os trabalhos que fez na Globo e que estão disponíveis no Globoplay. E, pasmem, não gosta do que assiste:

"Eu não tinha tempo de ver e hoje faria tudo diferente. Sou muito crítico. Me questiono porque fiz aquilo. Porque não fiz menos... Minha exuberância me leva para um caminho de realização que se eu danço tango, danço mesmo. Se é para chorar, eu choro. Vou com tudo! É uma delícia isso."
Imagem: DivulgaçãoEdi Botelho, marido de Ney há 20 anos.(Imagem:Divulgação)Edi Botelho, marido de Ney há 20 anos.

Ney não poderia ter um companheiro melhor do que Edi para acompanhá-lo ao longo da vida:

“Ele é uma pessoa que está preparada para ouvir todas as coisas que eu posso falar, entendeu? É um homem inteligente, educado agradável.”

O espelho
Imagem: Reprodução/InstagramNey Latorraca usa um boné e um óculos escuros quando não se acha bonito.(Imagem:Reprodução/Instagram)Ney Latorraca usa um boné e um óculos escuros quando não se acha bonito.

Encarar o espelho muitas vezes surpreende o ator que não é contra, mas não gosta de procedimentos estéticos. Ney encara sem medo as marcas novas que aparecem no rosto:

“Sabe que de vez em quando eu me olho no espelho e vejo rugas que eu não conhecia um dia antes? Elas aparecem de repente, quando olho para aquele espelho maior, com lente de aumento. Mas que loucura! Olho e me pergunto: O que é isso? Eu não tinha!. Mas têm dias que me olho e falo: Você está muito bem!. Também disfarço, né! Ponho um boné, um óculos escuros, e pronto!”

Amigos que partiram

Com duas biografias publicadas, “Em Muito Além do Script”, de Lucia Rito, e “Uma Celebração”, de Tania Carvalho, sua trajetória está muito bem eternizada. Mas há algo que o passar dos anos faz o coração de Ney doer e que não está escrito: a saudade.
Imagem: Reprodução/InstagramNey Latorraca com Miguel Falabella e Marília Pera, sua madrinha no teatro.(Imagem:Reprodução/Instagram)Ney Latorraca com Miguel Falabella e Marília Pera, sua madrinha no teatro.

Lidar com a partida dos amigos é o que mais o tortura. Ney criou um ritual próprio antes de dormir para apaziguar essa dor:

“Deito, rezo um Pai-Nosso, uma Ave-maria e começo a pensar nas pessoas que foram embora. Numa boa, sabe. Aí, vou indo, vou indo e pego no sono. Sonho muito com eles.”

De todos que já se foram, a morte de Marília Pera, em dezembro de 2015, o abalou. Ela é a sua madrinha do teatro e, durante 11 anos, a atriz o dirigiu junto com Marco Nanini na peça "O Mistério de Irma Vap". O espetáculo foi parar no "Guinness Book of Records" em 2003 como o mais longevo espetáculo teatral encenado até agora.

“Fiquei muito mal com sua morte. Fiquei de luto, triste. Eu ligava para a Marília todos os dias para falar as mesmas coisas. Falava sobre as peças que eu fazia e ela dizia: Já reparou que quando você liga para mim, só você fala? Eu falava, Tá bom, não vou ligar mais para você. E ligava um minuto depois.”
Imagem: Markos Fortes/DivulgaçãoNey Latorraca(Imagem:Markos Fortes/Divulgação)Ney Latorraca

Filho de um crooner e de uma corista que se apresentavam nos cassinos do Rio, Ney teve como padrinho de batismo o ator Grande Otelo. Na infância passou fome, mas eram os sonhos de menino que o alimentavam. Ao lançar um olhar para o garotinho que adorava representar para sobreviver, diz que valeu a pena:

“Ele (Ney menino) apostou e deu certo. Valeu a pena ter feito tudo isso com a maneira de ser como profissional. Sou um apaixonado pelo que faço no cinema, no teatro e na televisão. Tenho orgulho de ter sido um ótimo filho, um bom amigo e um bom ator. Mas ator só acaba quando morre, né?”

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Tópicos: ator, trabalhos, ney