Camilly Victória abre o coração sobre música, amor e relação com os pais
29/11/2023 15h34Fonte Vogue
Imagem: DivulgaçãoCamilly Victoria
Nas memórias de Camilly Victória a música sempre esteve presente. Era ainda uma garotinha quando, aproveitando a acústica e a privacidade no banho, soltava a voz com hits de Ariana Grande e Rihanna. Com o ouvido colado na porta a mãe, Carla Perez, fazia as vezes de plateia - sem Camilly perceber -, já encantada com o talento da filha. Aos 8 anos a menina passou a dar "canjas" com a prima para a família, em um inglês inventado por ela. Evitava, no entanto, palinhas para o pai, Xanddy. "Eu morria de vergonha, achava que ele ia dizer que estava feio", lembra.
Foi assim até seus 15 quando surpreendeu o público ao cantar em sua festa. "Meus pais sempre falaram que me apoiariam, mas que eu teria que ir para a faculdade primeiro", diz Camilly. E assim ela fez. Nos Estados Unidos, onde mora desde a adolescência com os pais e o irmão dois anos mais novo, Victor Alexandre, formou-se em produção musical, em 2021. Passou então a se dedicar ao trabalho com a música, enquanto também se prepara para investir no mundo da beleza - Camilly é manicure formada, atua em um salão e planeja abrir seu próprio negócio.
Imagem: InstagramCamilly na infância em foto com os pais e o irmão.
Em 2023, no entanto, viu seu nome estampar notícias em vários veículos de imprensa brasileira ao assumir namoro com uma mulher. Rumores davam conta que os pais teriam ficados chateados. Ela nega. "Meus pais nunca foram do tipo de falar nada disso, mas a gente já sabe como o mundo é. Então forcei a barra por muito tempo para tentar ser algo que não sou", diz ela, sobre seu processo de descoberta. "Chegou a um ponto que eu não conseguia mais. Conversei com meus pais sobre isso (sua sexualidade) muito antes do relacionamento. Eles já sabiam antes de todo mundo".
Prestes a completar 22 anos, em dezembro, Camilly diz ainda estar se conhecendo. Musicalmente vive um novo momento com o lançamento de Vacation Love, cujo clipe foi gravado em Salvador, sua terra natal, e em Miami, 100% dirigido pela mãe, e com uma pegada mais sensual (veja o vídeo abaixo).
Em bate-papo com a Vogue Brasil em sua primeira grande entrevista, ela conta sobre sua infância, sonhos e descobertas. Reflete ainda sobre fama, amor e saúde mental. "Sonho ter minha família, uma casa perto da praia, ter meu estúdio em casa e poder lançar muitas músicas". Confira o bate-papo completo abaixo!
Imagem: InstagramXanddy, Carla Perez, Camilly e Victor.
Camilly Victoria Como uma mulher que só tem 21 anos, ainda estou me conhecendo. Cresci em uma família muito musical e sempre acompanhei meus pais, sou obcecada por música. É complicado responder quando você ainda está se aprendendo. Mas eu diria que sou uma pessoa que ama a família, que adora estar com os amigos, a natureza, passear no parque, e sempre com muita música.
Vogue Seus pais sempre dosaram a exposição de você e seu irmão. Mas ao mesmo tempo, o público que os acompanha viu você crescer e tem muito carinho pela família. Como foi para você crescer filha de pais famosos?
CV: Ao mesmo tempo que é muito bom, pode ser um pouco difícil. Para mim sempre foi um vai e volta de emoções. Você quer ser você mesma e poder mostrar quem é, e ao mesmo tempo fica se perguntando será que isso é muito?. É bastante para a cabeça de uma criança. Tem muita gente torcendo com muito amor, mas tem um pessoal que pega bem pesado. Não acho que é ruim, só que é diferente. Você só tem que saber lidar com tudo e ir aprendendo.
Vogue Na sua festa de 15 anos você surpreendeu a todos ao surgir cantando. Quando decidiu que queria cantar profissionalmente?
CV: Aquela foi a minha primeira vez cantando em um palco sozinha. Desde criança eu sonhava em fazer música, e meus pais sempre falaram que me apoiariam, mas que eu teria que ir para a faculdade primeiro. Quando terminasse os estudos, ok. Sempre soube que música era o que eu queria como carreira, mas não estava preparada para lançar nada até ficar mais velha.
Vogue Você tem memória de quando você era criança brincando de ser cantora?
CV: Minha mãe fala que eu ficava cantando no chuveiro e ela ficava na porta ouvindo. Eu não sabia disso até o dia que ela falou que eu havia parado e ela estava com saudade (risos). Na minha cabeça eu jurava que falava inglês, cresci ouvindo muita música em inglês, e lembro de uma vez que comecei a inventar umas palavras que não faziam sentido. Eu devia ter uns 8 anos de idade, eu fazia isso demais na frente da minha mãe e os meus tios, só meu pai que eu morria de vergonha, achava que ele ia dizer que estava feio.
Vogue Hoje você tem suas próprias músicas, as letras são composições suas?
CV: Todas as músicas que eu lancei até hoje foram 100% composições minhas. Já Vacation Love é minha com dois produtores que eu conheci aqui (EUA). A parte em português foi eu que escrevi. Essa música é sobre um relacionamento ioiô, que nunca fica sério mas também nunca acaba, sempre volta... Nós pegamos de coisas que já aconteceram com a gente, mas não é sobre um relacionamento ou pessoa específica.
Vogue Compor é passar seus sentimentos para o papel e todo mundo vai ouvir o que estava só em você. O que sente quando está compondo? Como é isso para você?
CV: É quase que uma terapia. Muitas vezes eu escrevo porque estou passando por aquilo e preciso colocar no papel, preciso cantar para poder desabafar, e ajuda muito . Tem músicas que são muito pessoais e às vezes não é sobre ninguém, e tem música que espero que o pessoal goste porque é sobre mim e eu vou ficar mal se não gostarem.
Vogue Onde você quer chegar com a música?
CV: Eu não gosto da fama, mas eu quero que conheçam o meu trabalho, que conheçam a arte. Eu quero que conheçam pela música e não por mim. É óbvio que todo artista quer ser famoso para as pessoas amarem as músicas deles tanto quanto eles amam e é a mesma coisa comigo, quero poder fazer show ao redor do mundo. Quero fazer shows no Brasil com as pessoas que me amam, com as minhas raízes. Mas ao mesmo tempo fico nervosa, tensa. Nunca realmente gostei muito dos holofotes, mas eu sou tão apaixonada pela música e eu quero tanto fazer a minha carreira, que nem a ansiedade me para, vale a pena. Quero ser a mais honesta possível com a minha música, com as minhas letras. Sou muito chata com videoclipe, quero que tudo seja perfeito.
Vogue Como você mesma disse, existe o ônus da exposição. Como lida com isso?
CV: Eu sou a melhor amiga do botão de bloquear (risos). Não vou mentir, como desde criança eu ouvia muita coisa tão boa como ruim, aprendi muitas formas de me proteger mentalmente. Com o tempo eu aprendi que cada um tem sua opinião e muitas vezes alguém que está ali não dando uma opinião construtiva, mas falando algo para te magoar porque eles estão mal consigo mesmos. Nunca conheci uma pessoa que estava feliz e tenta atacar outra pessoa.
Vogue Como foi o processo até assumir o namoro? Digo, desde admitir para si que estava apaixonada, até contar para seus pais e assumir publicamente...
CV: Comigo mesma foi um processo longo e muito chato, porque eu já sabia como eu era há muito tempo, mas eu não queria ter que assumir nada. Não queria ter que ouvir ninguém dando opinião ou decidindo a minha vida por mim. Meus pais nunca foram do tipo de falar nada disso, mas a gente já sabe como o mundo é. Então forcei a barra por muito tempo para tentar ser algo que não sou e chegou a um ponto que eu não conseguia mais. Foi quando eu conversei com meus pais sobre isso, muito antes do relacionamento. Eles já sabiam antes de todo mundo.
Vogue Em qual momento aconteceu essa conversa?
CV: Antes de eu me apaixonar, de me envolver, antes de tudo. Era algo que realmente eu não estava querendo botar para fora e chegou em um ponto que eu não aguentava mais. Sentei com minha mãe, conversei com ela sobre mim. Foi super de boa. Depois, conversei com meu pai. Quando acabamos a conversa ele voltou a cozinhar o feijão dele, estava tudo certo. Quase um ano depois comecei a me envolver com a pessoa que estou agora e entramos em um relacionamento sério. Quando saiu para o público não foi nem de propósito, vazou. Já estamos juntas há 11 meses, mas em junho foi quando saíram notas querendo atacar meu pai, falando eu que estava tendo problema com a família porque meu pai não aceitava. Tivemos que desmentir porque, obviamente, como eu disse, meus pais já sabiam há muito tempo. Mas ao mesmo tempo recebi muitas mensagens lindas, muita gente apoiando. A pessoa que eu estou namorando não é uma pessoa pública, colocaram ela em um holofote que ela não precisava estar. Tirando isso, foi tudo muito tranquilo.
Vogue Ela ficou assustada?
CV: No dia que saiu a notícia ela fez uma cirurgia no ombro de manhã, então ela estava o dia inteiro dormindo por conta da anestesia e acordou de noite com três mil seguidores a mais. Ela tomou um susto, me ligou e perguntou o que estava acontecendo. Na minha página muita gente veio com mensagens de homofobia, mas na página dela foram com racismo, além de homofobia. Foi algo muito pesado.
Vogue Sentiu algum tipo de cobrança ou preconceito maior por ser de família evangélica?
CV: A gente recebeu muita mensagem sobre isso também, mas eu acho que Deus sabe do coração de todo mundo. Não gosto de apontar o dedo a ninguém e eu acho que seria muito melhor se ninguém fizesse o mesmo. O que mais me magoou era mensagens do tipo "se fosse minha filha ou meu filho nunca que isso iria acontecer". Fico imaginando os filhos dessas pessoas vendo um negócio desses. É muito triste. É por isso que tem muita criança, muito adolescente da comunidade LGBT que acaba fazendo coisas ruins consigo mesmos. Você não precisa apoiar, mas respeitar é o mínimo. Graças ao senhor Jesus eu tenho uma família que não só me respeita, mas me apoia e me ama, não importa o que seja, está sempre aqui comigo. Sou sortuda, tem tantos por aí que passam por coisas que não consigo nem imaginar.
Vogue Você sempre foi assim de falar sobre tudo com seus pais sobre o que você estava sentindo?
CV: Sim, minha mãe é minha melhor amiga. Meu pai também é , mas eu converso com ela sobre tudo, todos os detalhes da minha vida. Também conto tudo para o meu irmão.
Vogue Como é a sua rotina nos Estados Unidos?
CV: Eu me formei na faculdade de produção musical em 2021, aos 19 anos. Fiz a forma mais intensiva para terminar mais cedo. Hoje eu faço música, trabalho na parte de produção musical, e também faço unhas. Diria que metade da minha semana é para unha e a outra é para a música, além de conteúdo digital também.
Vogue Por que você escolheu trabalhar como manicure também?
CV: Eu amo beleza, no futuro quero abrir meu próprio salão. Sempre fui obcecada por cabelo, cuidado de pele, unhas. Não sou a melhor pessoa para fazer cabelo, só sei cuidar do meu, e pele também era uma áre que não queria. Comecei a trabalhar como recepcionista em um salão só de unhas perto de casa e fui gostando mais. Aqui nos Estados Unidos você precisa de um certificado para fazer, voltei para escola e fui estudar para ser manicure, fazer alongamento e tal. Terminei no fim do ano passado e já comecei a trabalhar na área. No futuro, com fé em Deus, vou conseguir abrir meu salão. Amo beleza.
Vogue Tem ainda outros sonhos?
CV: Acho que meu maior sonho realmente é no futuro ter minha família, minha casa perto da praia, ter meu estúdio em casa, poder sempre estar gravando e lançando mais músicas. E ter saúde mental, ser uma pessoa bem calma e que consegue viver a vida de boa sem muito estresse. Sou muito chegada a meus pais, então eu quero sempre estar perto deles.
Vogue Vocês costuma vir com frequência ao Brasil?
CV: Eu e meu irmão ficamos mais por aqui por conta de trabalho e escola. Mas a gente tenta ir para o Brasil duas vezes ao ano, geralmente em junho no aniversário do meu pai, e em novembro para o aniversário da minha mãe. Já meu pai fica mais nesse vai e volta porque ele vem para cá para passar um tempinho com a gente e volta para trabalhar e para cuidar da nossa família no Brasil.
Vogue Você curte Carnaval?
CV: Eu adoro assistir, mas eu não sou muito fã de festa. Minhas amigas me chamam para sair e eu nunca quero, gosto de ficar em casa quietinha. Bate 22 horas eu já estou querendo dormir, me chamam de avó aqui em casa (risos). Eu lembro uma vez que fui com o meu pai e apaguei no camarim sem querer. Mas acho o Carnaval lindo, amo assistir.
Vogue Voltando a falar sobre Vacation Love, como está com o lançamento?
CV: Super animada, é algo novo pra mim também porque eu não tinha feito nenhuma música nesse estilo especifico. Meu tio Márcio fez a percussão da música, e minha mãe quem dirigiu o clipe. Está a coisa mais linda, foi gravado na ilha Bimbarras, em Salvador. Meu pai estava lá ajudando também. Eu sou bem tímida, mas no videoclipe em si é um pouco mais sensual, tem dança, tem os meninos que eram meus pares. O clipe conta uma história, é bem bonito.
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