Carolina Dieckmann: "Vivo o amor e o sexo com Tiago de uma maneira plena e emocionante"

27/11/2022 12h26


Fonte O Globo

Imagem: Catarina RibeiroCarolina Dieckmann abre o jogo sobre volta às novelas, casamento, aborto, luto, etarismo e mais.(Imagem:Catarina Ribeiro)Carolina Dieckmann abre o jogo sobre volta às novelas, casamento, aborto, luto, etarismo e mais.

Com um coque no alto da cabeça, cara lavada e visual despojado, Carolina Dieckmann gesticula bastante enquanto concede esta entrevista, por chamada de vídeo. Os trejeitos, ela explica, vieram ao observar a advogada Gabriela Prioli, sua referência para a personagem Lumiar, da novela “Vai na fé”, próxima do horário das sete da TV Globo.

“Ela tem esse gestual com as mãos para falar, e peguei um pouco disso. O Direito sempre foi algo distante da minha vida, e esse tem sido um dos meus trabalhos mais desafiadores. O texto traz referências e palavras que não fazem parte do meu dia a dia”, conta.

Para compor Lumiar, uma mulher metódica e pragmática, Carol está de visual novo. Pintou os fios com um tom mel acobreado e deixou o comprimento bem mais curto. Também adotou uma prática curiosa: lavar os cabelos somente com sabonete.

“Por ser muito liso, é difícil dar volume. Como o sabonete não tem emolientes, consigo essa textura, um aspecto mais rústico”, aponta.

A trama de Rosane Svartman marca o retorno definitivo da atriz de 44 anos ao Brasil, após seis anos morando nos Estados Unidos. Estar de volta ao Rio, sua cidade natal, é um dos motivos de maior felicidade para Carol, que não se arrepende ao ter abdicado, momentaneamente, da carreira.

Tomou a decisão para acompanhar o executivo Tiago Worcman, seu marido há 19 anos, em uma nova etapa profissional.

“Quando decidi ir, foi para valer. Valeu cada milímetro de entrega. Hoje, nossa relação é abençoada por termos ficado mais unidos, senti que cresci. Foi bom ter dado esse respiro, olhar para a minha história. Trabalho desde os 13 anos e, que bom, tive a coragem e a sorte de ter esse parceiro incrível”, revela a mãe de José, de 15 anos, seu filho com Tiago, e Davi, de 23, do casamento com o ator Marcos Frota.

Com 30 anos de carreira recém-completados, Carolina é intensa, tem opiniões contundentes e não foge de nenhum assunto. Durante duas horas de bate-papo, falou sobre o incômodo com a fama de antipática e admitiu que ainda manda nudes para o marido, mesmo após o episódio do vazamento de suas fotos nuas em 2012. Conta também como viveu o luto após a morte da mãe, Maíra Dieckmann, em 2019; o quanto acha “horroroso” ouvir que está muito bem para a idade e que, apesar de gostar, não tem tido tempo para usar vibradores.

“Prefiro pele, boca, língua, abraço, amor e gozar junto. Isso pra mim é o paraíso.”

Sente que seu retorno às novelas é como um recomeço na vida e na TV?

Soa mais como um reencontro. No tempo em que morei fora, fiz a novela “O Sétimo Guardião” e a série “Treze dias longe do Sol” e ficava 15 dias em cada país. Sentia que tinha duas vidas, gostava de estar aqui, mas me culpava por não estar lá. Estava emocionalmente cansada. Agora, sinto uma paz.

Você vai viver uma advogada, e mesmo sem ter familiaridade com o direito, foi criada uma lei com o seu nome após o vazamento de suas fotos nuas em 2012. inspirou-se em algo daquela época?

Só me lembrei do horror que tenho de tudo isso (risos ) e que estava em guerra com a minha civilidade. Na época, eu falando que aqueles caras tinham roubado minhas fotos, e ao mesmo tempo, ficando com pena deles. Eu já tinha perdoado. Mas precisava continuar a brigar porque era o certo a se fazer.

Se isso acontecesse hoje, seria menos julgada?

Sim, teria sido totalmente diferente. Tive que explicar tudo, coisas que hoje eu não precisaria, como a razão de ter mandado as fotos ao meu marido, porque tinha feito aquilo. Havia uma polícia destinada a crimes cibernéticos, mas não tinha lei. Sempre me senti um pouco vítima disso tudo. Mas continuo mandando nudes para ele. Se as fotos vazarem de novo, o que fazer? Foda-se.

Falando em julgamento, você carrega a fama de antipática. Isso te incomoda?

Claro. Tenho um jeito veemente, gostaria de ser mais suave, mas isso não é antipatia. Quando alguém fala comigo e diz, “ah, mas eu achei que você fosse antipática”, eu logo penso: será que agi bem? É como se eu precisasse do outro me dizendo o que eu sou pra eu acreditar, porque uma mentira contada muitas vezes vira verdade. Falam para eu não ligar, mas eu acho errado, não combina comigo.

Você está à frente do espetáculo “Karolkê”, um projeto musical. o que significa cantar?

Um desafio e, ao mesmo tempo, algo que amo. A peça nasceu quando assisti à montagem de “Bacantes”, do Zé Celso Martinez. Era uma festa, todo mundo ficava junto. O teatro foi muito questionado nos últimos anos, então quis fazer algo que quebrasse essa resistência.

Nas redes sociais, você sempre recebe elogios pela beleza. O etarismo já te atingiu ?

Várias vezes. Escuto sempre: “Como você está bem para a sua idade”. É horroroso, mas também presto atenção em como julgamos o outro. Quando alguém fala algo errado com uma intenção boa, tem que ser levado em conta. Não posso julgar se eu posso errar, se estou ainda aprendendo.

Ao que se refere?

A tudo. Sou uma machista em desconstrução. Está todo o mundo se reconstruindo em novas bases. Não tenho interesse em julgamento e não acho que temos que viver em bolhas, falando só com quem pensa igual.

Faz procedimentos estéticos?

Já fiz milhões de lasers para estimular colágeno... Fiz botox uma vez, mas me achei estranha, não posso me dar ao luxo de não marcar a expressão sendo uma atriz. E tenho horror a preenchimentos! Não é um problema envelhecer, mas quero que isso aconteça da melhor forma.

Você já teve duras perdas na vida: a morte da sua mãe, um aborto espontâneo... como lida com o luto?

Tinha 20 anos quando sofri um aborto, aos três meses. E é normal, mas na época não tinha tanta informação. Sofri e achei que só tivesse acontecido comigo. Já a perda da minha mãe foi a maior dor que senti. Ela morreu dormindo, teve um mal súbito. E o presente mais bonito que a passagem dela me deu foi a consciência de agradecer ao acordar todos os dias.

É à favor do aborto?

Sou a favor da mulher decidir o que fazer com seu corpo e contra a banalização. Outras coisas precisam ser ensinadas: o uso da camisinha, pílula, métodos contraceptivos. Não é simplesmente ir lá e tirar.

Faz terapia?

Fiz uma vez, quando achei que iria me separar do Marcos, e de fato aconteceu. A terapia é muito legal, mas me incomoda o uso como bengala. De forma alguma sou contra, mas ninguém quer se frustrar, sentir dor. Todos os dias antes de dormir eu penso, me julgo e me critico. Você tem que tentar enfrentar o que é possível. Hoje, para tudo se toma um remédio. Isso, muitas vezes, pode ser um escapismo.

Estar casada há tanto tempo tem mais a ver com amor ou com escolha?

As duas coisas. Amo o Tiago, escolho estar com ele todos os dias e investir na nossa relação. Se o casamento terminasse hoje, tudo o que vivemos me transformou em uma pessoa mais próxima do que quero ser. Alguém que acredita no amor. Não me imagino com nenhum outro homem. Vivo o amor e o sexo com ele de uma maneira plena e emocionante.

E em que momentos o bicho pega?

Todo dia! Meus amigos falam que a gente tem uma eletricidade. Não temos uma relação com espaço para mágoa, quando brigamos, resolvemos na hora.

É adepta do vibrador?

Eu gosto, acho legal, mas não tenho muito tempo de usá-lo porque tenho uma vida sexual ativa e raramente a gente coloca na brincadeira. Meu desejo sexual está muito ligado ao Tiago. Prefiro pele, boca, língua, abraço, amor, gozar junto. Isso pra mim é o paraíso.

Você já entrou na menopausa? Caso não, está se preparando para isso?

Eu ainda menstruo e meus índices não estão nem na pré-menopausa. A menopausa, assim como todos os ciclos da vida, tem um tempo para acontecer e não é à toa. Você começa a ter sinais. Estar atenta a eles é uma maneira de se preparar.

Como é criar dois filhos homens em um mundo machista?

Acho que essa geração já está se ajudando. Temos menos trabalho como pais ao ter que desconstruir coisas, porque eles já pegaram o mundo diferente. Já lidam com questões como racismo e gênero de forma diferente. Em casa, discutimos de forma aberta sobre tudo.

Conversa com eles sobre qualquer assunto, como sexo, por exemplo?

Sobre sexo, acho que eles falam mais com os pais. Tenho a sensação de que existe um incômodo, é normal. E cada um tem sua individualidade, nem tudo precisa ser falado. Mas somos uma família que tem diálogo, e se meu filho fizer alguma besteira na frente de outra pessoa, ele será chamado a atenção na mesma hora. Não tem essa coisa de que na rua somos perfeitos e em casa lavamos roupa suja.

Em 30 anos de carreira, você já sentiu dificuldades por ser mulher? Já foi assediada?

Há essa discussão da remuneração. Sempre tive oportunidades e nunca me senti desvalorizada, por mais que eu saiba que sou, porque tem homens com o mesmo papel e que ganham mais dinheiro. Nunca fui assediada, mas não é porque não aconteceu comigo que não vou sentir a dor da outra e ter empatia. Essa discussões são importantes para todas. Porque o mundo tem mostrado que é no coletivo que a gente vai se transformar.


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Tópicos: mulher, vida, amor