Da tanga ao puro luxo: a evolução das fantasias das rainhas de bateria

12/02/2012 13h38


Fonte Ego



Ai de Monique Evans - a primeira famosa a desfilar à frente de uma bateria na história do carnaval - se chegasse hoje à Marquês de Sapucaí, no Rio de Janeiro, usando o biquininho de strass e as cinco penas de faisão na cabeça que usou em seu primeiro desfile pela Mocidade Independente de Padre Miguel, em 1984. Ela sequer seria notada ou, na condição de rainha de bateria, seria chamada de “pobrinha”.

“Uma vez o Chacrinha me perguntou se eu já tinha desfilado em uma escola de samba e me disse pra ir na Mocidade Independente de Padre Miguel. Fui, tiraram minhas medidas e me pediram para ir com uma sandália prateada no dia do desfile. Cheguei mais cedo, não tinha visto ou provado a fantasia. Fui com uma sandália prateada alta, normal, e o carnavalesco Fernando Pinto me colocou num biquíni de strass, que tinha apenas umas plumas na cabeça! Eles me colocaram na frente da bateria. Eu não tinha ideia da responsabilidade”, lembra Monique.

A fantasia do passado de Monique e as atuais fantasias de rainhas de bateria mostram bem o grande negócio que o posto inaugurou, com fantasias que chegam a atingir valores similares a de um carro.

“Lembro da primeira rainha de bateria que fiz. Ela trouxe todo o material, cobrei o que hoje seria o equivalente a R$ 100 e ela ainda me deu mais R$ 100 de gorjeta”, lembra rindo Guilherme Alves, que tem 12 anos como estilista de carnaval e em 2011 assinou a fantasia de Andréa de Andrade - rainha de bateria na mesma Mocidade de Monique Evans -, orçada em R$ 60 mil reais.

“A dela era cara porque tinha muitos swarovskis e mais de 600 penas de faisão albino”, conta uma fonte que prefere não se identificar. No mercado das fantasias de luxo, as tais penas de faisão albino custam de R$ 40 a R$ 60 cada uma. As rainhas de bateria compram, usam e, no ano seguinte, tentam diminuir custo investido revendendo as peças para rainhas menos abastadas ou tingindo as peças para reaproveitar em novas fantasias.

Ainda de acordo com Guilherme Alves - que além de Andréa de Andrade, faz as fantasias de Viviane Araújo, do Salgueiro, no Rio de Janeiro, e de Valesca Popozuda, da Águia de Ouro, em São Paulo - , quem começou a usar fantasias mais elaboradas à frente de seus ritmistas foi Luma de Oliveira. A mesma Luma que em 1987 saiu com os seios de fora em seu primeiro ano como rainha na Caprichosos de Pilares.

“Hoje em dia virou uma guerra de cristais. Uma rainha não vai para a avenida se não tiver muitos cristais em sua roupa. Se bem que uma rainha não precisa disso para brilhar. Tem que ter uma belíssima roupa. A Luma, por exemplo, é o tipo de mulher que brilha até de vestido tubinho, mas gosta de investir em penas de faisão, rabo de galo e muitas cores”, diz Gigi, assistente do estilista Henrique Filho, que tem 25 anos de carnaval e é o atual responsável pelas fantasias de Sabrina Sato, no Rio e em São Paulo, e de Luma de Oliveira, que será tema do enredo na Estácio de Sá, também no Rio.

Em 2011, na estreia de Sabrina Sato na Vila Isabel, no Rio, o colunista Bruno Astuto cravou que a roupa da apresentadora, que inovou por não ter pena, mas crina de cavalo de raça, iria custar R$ 80 mil, o que não é confirmado por Filho.

“Não falamos em valores. Por segurança e também porque é deselegante”, diz ele lamentando a ausência de Adriane Galisteu no carnaval carioca. “Era uma rainha que vinha linda e sempre ousava no figurino”, diz.

"Acho que esses valores são mentirosos"
Outro nome que não pode ficar de fora quando se fala em luxo no carnaval é o de Carlinhos Barzellai. Com 13 anos de carnaval, ele já vestiu rainhas de bateria como Juliana Paes, Deborah Secco e Susana Vieira. Atualmente é praticamente exclusivo da Acadêmicos da Grande Rio, do Rio de Janeiro, que o contrata para vestir as famosas que costumam dar pinta em seu desfile. Será de Carlinhos a responsabilidade de confeccionar os figurinos de Ana Hickmann, Luciana Gimenez e da rainha de bateria da escola Ana Furtado. Mas o estilista ri quando ouve falar em fantasias caríssimas.

“Acho que esses valores são mentirosos. Vejo pessoas dizendo que a fantasia custou R$ 100, R$ 120 mil. Acho que é para aparecer. Não falo em valores, mas as roupas que faço não chegam a um quinto disso”, diz ele.

Carlinhos põe ainda mais lenha na fogueira quando diz que é possível fazer fantasias mais baratas com materiais mais em conta.

“Hoje em dia existem ótimos materiais de segunda linha, como pedras chinesas, que são tão bonitas quanto as austríacas. O importante é você ter uma ótima mão de obra para fazer a roupa”, diz.

Perguntado se recorre a esse tipo de material para suas fantasias, ele diz que não. “Faço fantasias para mulheres do primeiro time, e os dirigentes das escolas querem o melhor para elas. Até porque elas são muito fotografadas, e rola ciumeira se a roupa de uma for melhor que a de outra”, entrega.