Fãs LGBTs de Sandy e Junior contam como músicas ajudaram a superar bullying
28/07/2019 09h38Fonte Extra
Imagem: DivulgaçãoSandy e Junior
Em 1998, Davi Firmo, fã incondicional de Sandy e Junior, tinha apenas 12 anos quando viveu o que muitos jovens e crianças LGBTs fatalmente sofrem na época de escola. O adolescente chamava a atenção na pequena cidade de Mucuri, Sul da Bahia, de apenas 12 mil habitantes. Portando um verdadeiro arsenal de produtos licenciados da dupla que incluía lancheira, caderno, estojo, roupas, entre outros apetrechos, ele se destacava entre seus colegas por exibir, sem medo, sua paixão pelos irmãos.
Mais do que isso, Davi fazia cover de Sandy e Junior com uma amiga, se apresentando em diversos eventos pela cidade. Por esses motivos, era sempre o último a ser escolhido na Educação Física e o último a subir no ônibus escolar. Na hora do recreio, os colegas faziam fila para incomodá-lo no famoso corredor polonês. Tão cedo, ele já aprendeu o que muitos LGBTs sentem quando criança: a terem vergonha de quem são.
— Eu dançava "Vai ter que rebolar" até o chão, cantava as músicas o tempo todo e vivia rodeado de meninas. Era como eu me sentia à vontade. Mas isso incomodava os meus colegas, principalmente por vivermos numa cidade pequena e de interior que não tolera quem é diferente — lembra ele, hoje com 33 anos.
Todo o preconceito sofrido na infância virou munição para que Davi, que vai a nove shows da turnê "Nossa História", usasse a zombaria à seu favor. E as músicas de Sandy e Junior tiveram papel fundamental nesse contexto.
— Eu nunca me deixei abater. Chegava em casa e escutava Sandy e Junior e isso me dava forças para lidar com o bullying e voltar à escola no dia seguinte. Por sorte, em casa, minha mãe me sempre me apoiava e me levava aos shows. Tudo isso me fez crescer e me mostrou que sou capaz de muita coisa — relata ele, que transformou a paixão de criança pelas coreografias em ofício e hoje, é dono de um estúdio de dança em Minas Gerais.
O mesmo acontecia com o fã carioca Pedro Henrique Castro, de 30 anos. Mas no caso dele, era um "combo". Pedro era fanático por Sandy e Junior, Chiquititas, Xuxa e muitas outras estrelas POP da época.
Imagem: Arquivo pessoalO fã de Sandy e Junior, Pedro Henrique Castro exibe com orgulho a bandeira LGBT da turnê "Nossa História".
— Eu sempre fui a "criança viada" excluída do grupo dos meninos, que zombavam de mim dizendo que as coisas que eu gostava eram de menina. Mas nunca tive vergonha de ser quem eu era, apesar de só ter me aceitado como gay na adolescência — conta ele, que foi ao show da dupla em Brasília e irá no show do Rio de Janeiro, no próximo dia 2 de agosto.
Para a apresentação dos irmãos em Brasília, PH, como é chamado entre os amigos, fez questão de comprar uma bandeira que encontrou com as cores do arco-íris e Sandy e Junior estampado ao centro.
— Não devemos ter vergonha de quem somos. Hoje, eu virei o jogo e sou a própria Sandy — brinca.
Bullying na escola e na família
Sabe aquele famoso verso de "Imortal" que diz "Eu cresci e agora sou mulher"? O professor de Educação Física, Aerlon Bezerra, de 26 anos, lembra que vivia escutando pedidos cheios de más intenções dos amigos da escola que queriam que ele cantasse justamente essa parte para gargalharem da sua voz. Sem qualquer receio, ele cantava bem alto, com a voz mais fina que pudesse ter.
E o preconceito não era só na escola. O paraense também sofria incômodos em casa. Os pais não queriam que ele escutasse Sandy e Junior por medo de que o filho se tornasse gay.
— Meus pais ficavam preocupados porque eu só ouvia Sandy e Junior o dia inteiro e eles temiam que isso influenciasse a minha opção sexual. Tudo isso me deixava muito chateado e isolado. Uma vez, meu pai me levou no clube que a família frequentava e lá tinha um karaokê. Eu esperava meu pai ir jogar futebol e ia escondido cantar Sandy e Junior. Quando ele me via, brigava muito comigo e me deixou de castigo: parou de me levar ao clube — relata.
Aerlon também encontrou forças no repertório dos irmãos para dar a volta por cima.
— Eu agradeço eternamente a Sandy e Junior. Eles me ajudaram a ter orgulho de quem eu sou — conclui ele, que está ansioso para ver a dupla em São Paulo, no dia 25 de agosto — Mal posso esperar. Vai ser uma emoção muito grande lembrar de todos esses momentos. Sandy e Junior foram importantes na minha vida.
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