Isabelle Drummond: Fui aprendendo a lidar com muitos tipos de assédio, perseguição e abuso de poder

25/09/2024 08h25


Fonte Revista Quem

Imagem: Reprodução/InstagramIsabelle Drummond(Imagem:Reprodução/Instagram)Isabelle Drummond

Isabelle Drummond volta ao teatro movida por um propósito para além de expressar a própria arte. Ela quer cada vez mais priorizar a função social do seu trabalho. O que se conecta totalmente com o protagonismo de Tina - Respeito, peça que marca o retorno ao papel da jovem moderna daTurma da Mônica, inspirada na Graphic Novel de Fefe Torquato. A convite do diretor e produtor Mauro Sousa, a atriz reassume a personagem vivida nos cinemas como uma jornalista em uma trama sobre assédio.

O espetáculo que gira em torno das questões do machismo chega em um momento de reafirmação da artista com os seus ideais de empoderamento e independência. A atriz assume suportar abusos de poder do mercado de trabalho desde cedo e também confessa não passar ilesa das rudes cobranças sociais sobre casamento e maternidade por conta da chegada dos 30 anos.

A artista fala à Quem sobre a identificação com a abordagem da obra, a importância da volta ao teatro, levanta referências feministas da arte e reflete sobre os julgamentos ainda muito atuais por ser mulher na sociedade.

"[O assédio] É um assunto que atravessa todas as mulheres e a mim particularmente muito, porque sempre fui muito independente desde cedo, queria andar sozinha, queria me descobrir", afirmou.

Ela relembra a primeira viagem sozinha, feita aos 15 anos, quando decidiu ir para Londres, na Inglaterra, sem o domínio da língua inglesa, mas com a sede de independência. "Sempre tive esse lugar de me colocar no mundo da maneira que acredito. Obviamente, sem saber que era desafiador, mais do que viajar, falar outra língua, mas sendo mulher e se virando", recordou.
Imagem: Reprodução/InstagramIsabelle Drummond (Imagem:Reprodução/Instagram)Isabelle Drummond 

Assédio e abuso de poder

Isabelle diz que precisou enfrentar muito machismo ao longo da vida e, consequentemente, na carreira, iniciada ainda na infância em meio ao fenômeno Emília, de Sítio do Picapau Amarelo. Passando por novelas globais como Caras & Bocas (2009), Cheias de Charme (2012) e Novo Mundo (2017), campanhas publicitárias, filmes, produção e também o cargo de empresária no currículo.

"Fui aprendendo a lidar com muito preconceito, tipos de assédio e perseguição. Até mesmo no ambiente de trabalho, muita opressão, muito abuso de poder e a mulher tende a imprimir como se fosse mais frágil. É mais propício esse tipo de atitude com mulher do que com homem, mesmo criança, adolescente, qualquer idade, é mais propício mesmo. Isso está em todos os lugares, entranhado em nós como sociedade", relatou.

"Hoje, a gente consegue perceber mais. Mas, nos anos 2000, quando comecei a trabalhar, não se dava nome a esse tipo de comportamento. Muitas coisas foram expostas 10, 15 anos depois. É autoritarismo, abuso de poder, assédios no ambiente de trabalho", completou.

Ela ainda exalta o alcance da tecnologia das redes sociais para colocar o assunto em pauta atualmente. "A gente tinha medo de falar, porque as estruturas eram tão maiores do que nós e nós não tínhamos essa liberdade. A tecnologia trouxe uma voz para isso, ajudou nesse ponto da exposição, de você gravar rápido, pegar e expor uma situação, como o caso da Tina [personagem]. Acho que a gente tem mais ferramentas para se defender hoje. Esse assunto me atravessa de todos os lados", declarou.
Imagem: Andy Santana/ Brazil NewsIsabelle Drummond (Imagem:Andy Santana/ Brazil News)Isabelle Drummond 

Função social da arte

Isabelle conta que estava "namorando" retornar aos palcos há um tempo, envolvida com estudos de textos focados em mulheres, o que calhou com a proposta de Mauro. "Quando falou que seria sobre assédio, sobretudo, me conectou com o projeto. Acho que o artista está sempre meio conectado e tem essa necessidade de fazer parte dos movimentos sociais, dar voz, trazer reflexão", disse.

"Hoje, mais do que nunca, quero dar voz a causas que acredito, ser uma ponte, uma ferramenta, para questões sociais"

A atriz reforça a conexão de propósitos pessoais com os trabalhos atuais. "É um momento que também quero mais. Meus projetos para o audiosivual, para cinema, que estou produzindo, são todos de mulheres. Já estava nesse movimento. Foi tudo meio que alinhando atmosfericamente".

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Tópicos: trabalho, atriz, mulheres