Julia Lemmertz fala de primeira peça com a filha, da experiência como avó e de envelhecimento

10/11/2023 12h53


Fonte O Globo

Imagem: Arthur Henrique Bronzato RossiJulia Lemmertz(Imagem:Arthur Henrique Bronzato Rossi)Julia Lemmertz

Julia Lemmertz está colocando em prática o sonho antigo de dividir o palco com a filha Luiza Lemmertz, fruto do seu primeiro casamento, com o produtor Álvaro Osório. Até 17 de dezembro, as duas ficarão em cartaz no Teatro Poeira, em Botafogo, na Zona Sul do Rio, com a adaptação de "Tempestade", clássico de William Shakespeare. O encontro é simbólico e emocionante para a família, principalmente porque Julia não chegou a trabalhar com a própria mãe, a atriz Lílian Lemmertz.

— É normal que a gente fique querendo juntar as nossas experiências, trocar ideias e fazer coisas que nos interessam. Somos bem parceiras na vida também. A gente tinha planos de trabalhos e, no meio desse caminho, surgiu o convite para fazer "Tempestade". Pensamos em colocar em prática um desejo que já existia — conta ela.

Após o fim da temporada de "Tempestade", Julia poderá ser vista em duas séries em 2024. Uma delas é a segunda temporada de “Justiça”, escrita por Manuela Dias, com direção artística de Gustavo Fernandez. Na trama, prevista para ir ao ar no Globoplay, ela interpretará Júlia, mãe de Carolina (Alice Wegmann). Trata-se de uma mulher que depende financeiramente do irmão, Jayme (Murilo Benício), e descobre que ele abusou sexualmente da filha:

— Esta história é muito bem escrita porque dá o lado de quem sofre o abuso, o lado de quem abusa e o lado de quem vê, mas não quer enxergar. Isso existe muito. É tão real e dolorido. Confesso que fiquei devastada fazendo, sofria à beça vivendo essa mãe porque a entendi profundamente. Tem a ver com várias coisas: com informação, com dependência de toda uma família de um homem que é o provedor... Também fala sobre machismo e empoderamento feminino. A Julia não quer ver porque é uma mulher frágil e fraca de caráter. Ela é muito dependente da vida e daquela casa porque é simples e desprovida de rede de apoio.

Outro lançamento previsto para 2024 é “No ano que vem”, que será exibida Canal Brasil e no Globoplay. Dirigida por Maria Flor e Mari Macedo, a série aborda a história de duas mulheres em crise. Na produção, Julia interpretará Anna, uma médica especialista em reprodução humana que vive um casamento estável. Sua vida sofre uma reviravolta quando ela recebe um diagnóstico de câncer. Jeniffer Dias faz a outra protagonista.

— A história traz duas mulheres de idades diferentes e de vidas completamente distintas que se encontram num momento de transição e de loucura. Trata-se de uma travessia de duas mulheres que ficam amigas no meio de uma crise gigante. A Anna é muito carente de tudo e vai encontrar um artista plástico num aplicativo e se apaixonar por ele.

Separada desde 2015 do ator Alexandre Borges, com quem ficou por 22 anos, Julia reflete sobre as semelhanças com a nova personagem:

— A Anna, em uma certa medida, é muito diferente de mim, mas é muito próxima à mim nesse lugar da idade. De mudar a vida em um certo momento. Fiz várias conexões, mas a minha vida com o Alexandre não tinha nada a ver com a vida do casal, da Anna e do Miguel. Tem a ver nesse lugar do movimento que você faz de mudança, de separação, que também é muito doloroso, mesmo que você queira separar, ainda assim é uma pessoa que permeou a sua vida toda praticamente. É muito difícil.

Aos 60 anos, Julia também é mãe de Miguel Corrêa, de 21 anos, do casamento com Borges, e avó de Martim, de 7 anos, filha de Luiza. O neto é visto por ela como "a emoção mais forte da vida depois de ter filhos":

— Quando você é avó, você já está mais velha, então não tem que amamentar, ensinar várias coisinhas e se preocupar com a criação daquela criança. Você é mais livre. Não que não me preocupe com a criação do Martim o tempo todo, mas é um amor muito maluco, meio multiplicado e potencializado pelo tempo. Rejuvenesci com ele também, porque ele me faz, num dia de peça, no domingo, por exemplo, acordar cedo e levá-lo para brincar e tomar banho de piscina. Faço tudo por ele.

A atriz afirma não sentir medo de envelhecer. Pelo contrário, busca passar por esse processo com tranquilidade.

— Me sinto muito em cima do lance. E não estou falando no sentindo sexual. Estou falando de disposição, de vida. Apesar de que, quando fiz 60 anos, me peguei pensando: "Bom, passaram 60 anos. Não tenho mais 60 anos para viver. Não estou mais na metade da minha vida". E isso é um pouco assustador, porque a vida acaba. As pessoas morrem. Não somos eternos — diz Julia, que opina sobre procedimentos estéticos: — Acho tão bonito ver um ator com a sua idade, com as suas marcas de expressão. Não é que não faça procedimentos estéticos, mas resisto muito a fazer plásticas e botox. Uma coisa que me deixa muito aflita é a cara não condizer com o corpo. Não tenho medo do envelhecimento, tenho aflição. É inexorável. Não adianta a gente lutar contra algo que a gente vai perder. Quero envelhecer em paz, bem, com tranquilidade.

 

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