Maitê Proença fala de relação abusiva com homem que "se instalou" em sua casa: "Pavor"
15/08/2023 14h18Fonte Revista Quem
Imagem: Felipe O"Neill/DivulgaçãoMaitê Proença
Maitê Proença, de 65 anos, "rasga" o coração em O Pior de Mim, monólogo que escreveu e no qual expõe suas vulnerabilidades e está em cartaz até 27 de agosto no Teatro das Artes, no Shopping da Gávea, Zona Sul do Rio de Janeiro. O espetáculo parte de confissões da atriz e autora, que, em maior ou menor grau, toca em questões existenciais referentes a dores do passado, sempre com muito humor. "É sobre aquela porta dos fundos por onde todos escapamos quando ninguém está olhando, e levantamos muros onde gostaríamos de ter construído pontes", filosofa Maitê.
No solo, dirigido por Rodrigo Portella, Maitê revisita tragédias pessoais e familiares e, em interlocução direta com a plateia, conta casos que partem de sua experiência particular, mas que são universais e falam de todos nós. "Assistindo à peça cada um vai, sem perceber, passando a limpo os seus próprios momentos. E sem dor. Sem que seja de forma pesada", adianta a artista, que, ano passado, lançou o livro O Pior de Mim, em que revisita sua história, mapeia sentimentos íntimos e reflete sobre os tempos atuais.
Viciada em paixão
Discreta, Maitê não revela se está solteira ou namorando após o anúncio do término de sua relação com a cantora Adriana Calcanhoto, de 57 anos, em agosto do ano passado. "Sou viciada em paixão, ela motiva e encanta", comenta, sem revelar se está apaixonada no momento.
Leia a entrevista completa com a atriz:
Em O Pior de Mim você conta casos que partem da sua experiência pessoal, mas atingem todos nós. E traz à tona questões atuais como etarismo, machismo, misoginia e outros preconceitos. Como se sente sabendo que suas histórias podem ajudar pessoas que talvez nunca tenham se dado conta que vivem situações emocionais delicadas?
Se estivesse defendendo uma tese, ou levantando uma bandeira com argumentos, muita gente não se interessaria, mas através de histórias contadas com arte e verdade e, sobretudo, sem melodramas, a ponto de permitir que as pessoas riam e se identifiquem, aí é uma bênção tocar o público dessa forma que você descreve.
Já teve algum retorno de espectador que repensou ou mudou a vida após assistir ao seu monólogo?
Todas as noites eu assino o livro que nasceu da peça (e não vice-versa), após o espetáculo. Dezenas de pessoas me contam a forma secreta e íntima onde foram tocadas. Não há uma noite em que eu não me comova e vá às lágrimas com esses relatos. As pessoas se sentem autorizadas a fracassar, e isso é libertador.
Você afirma no livro O pior de mim que "nossas histórias pessoais são distintas, mas a forma que reagimos quando fragilizados é muito semelhante". Acha que na dor somos todos iguais, mais vulneráveis?
Sim. Todos sentimos que somos os piores da espécie, ficamos tímidos e amedrontados ou então construímos um muro de arrogância para esconder nossas vergonhas. Assistindo à peça cada um vai, sem perceber, passando a limpo os seus próprios momentos. E sem dor. Sem que seja de forma pesada. As histórias mexem lá, sacodem, e ajudam a encarar. É o único jeito de se livrar de pesos que carregamos, muitas vezes desde a infância. E nos fazem cometer os mesmos erros de forma repetitiva e permanente.
Na peça você expõe suas dores familiares. Como se sente a cada vez que reconta sua história? É uma espécie de terapia para você?
Eu olho para minha história a cada mau passo que dou para tentar mudar, ando de olho bem aberto e com a coragem que a vida me deu. Hoje em dia também aprendi a reconhecer algumas vitórias. Passo por alguns eventos da minha vida, mas é quase de raspão, para chegar na sua. Nunca foi sobre mim, a peça é sobre você.
Como cuida da sua saúde mental? E da saúde física? O que faz para se manter com o corpo e a mente saudáveis?
Eu faço o que todo mundo já sabe que deve ser feito, mas faço todos os dias desde os meus 20 anos. Fazer três meses, parar seis e depois retomar não atinge o objetivo. O hábito, a constância e a disciplina são o que trazem saúde, inclusive mental, porque o corpo e mente são interligados. E a prática, por trazer recompensas visíveis, deságua no prazer, que por sua vez alimenta a disciplina, e assim por diante.
Quando você tinha 12 anos, você perdeu sua mãe de forma brutal. Hoje em dia, ao contrário da década de 1970, fala-se o tempo todo em feminicídio, relacionamentos tóxicos e violências sofridas pela mulher. Acredita que ter vivido uma história tão traumática na sua família fez com que você se tornasse mais atenta a qualquer sinal de violência/abuso em um relacionamento? Já viveu alguma relação abusiva?
Já vivi inúmeras relações abusivas, no trabalho e no amor. No amor, tive medo de estar repetindo a história do passado. Na pior das situações, emagreci vários quilos, e para me livrar da pessoa que havia se instalado em minha casa, me calei por dois meses, não falei, não retruquei, não respondi a qualquer das provocações, mas tinha pavor dele, e não fui grosseira nem agressiva no silêncio para não atiçá-lo. Foi um estudo fino de autocontrole. Finalmente ele partiu e meu prédio foi alertado para que nunca mais o deixasse colocar os pés nas imediações. No trabalho, via de regra me recolhi humilhada, a engrenagem era maior do que eu, não me sentia capaz de enfrentá-la. E quando enfrentei, me arrebentei profissionalmente e de novo e de novo. É difícil reagir, mas não podemos ficar caladas.
Quando você assumiu que teve relacionamento com uma mulher [a cantora Adriana Calcanhotto], ficou assustada com a repercussão. Você se considera bissexual?
Me considero livre! Não colocarei uma tarja na cabeça, o mundo que o faça se precisar disso. Sou livre, bem livre.
Você já declarou que vê diferença em se relacionar com homem e mulher. O que mais difere?
Eu me relaciono com pessoas, todas muito diferentes entre si. Entre homens e mulheres, há diferenças significativas nos corpos.
O sexo pode se tornar cada vez menos uma prioridade com o passar do tempo. O que melhorou na sua vida sexual com a maturidade?
O que faço entre quatro paredes fica entre quatro paredes.
Está namorando, sozinha? Qual a importância de estar apaixonada e amando na sua vida?
Sou viciada em paixão, ela motiva e encanta.
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