Márcia Freire, ex-vocalista do Cheiro de Amor, fala sobre 30 anos de carreira
12/05/2021 10h55Fonte Revista Quem
Imagem: Reprodução/InstagramMárcia Freire
Márcia Freire na década de 90 levou o axé da Bahia para o mundo com sua voz doce cantando “É um auê-ê encontar você-ê pra poder fazer um carinho assim”, sucesso da banda Cheiro de Amor, da qual fez parte por 13 anos. Em carreira solo desde 2003, a cantora teve que pausar, por causa da pandemia, os shows, Carnaval e o projeto de celebrar os 30 anos de carreira.
“Não faço shows há mais de um ano praticamente. Consegui até fazer um Réveillon na casa de um cardiologista para 50 pessoas, mas depois disso nunca mais me apresentei. Está muito difícil para a gente que lida com arte, para os músicos... Um deles, que trabalha comigo, se formou em gastronomia e está vendendo feijoadas por delivery. Eu estou vivendo das economias. Fiz uma live, mas na pandemia mesmo, não consegui dinheiro algum. Até meu carro tive que vender para poder usar o dinheiro. Com a pandemia, estou ficando mais em casa e não estava usando mesmo. Mas ainda bem que tinha um carro para vender. Se precisar vender a casa, vendo. A gente vai dando um jeito até voltar com os shows”, conta.
Trabalhando pelas redes sociais seu EP Só Quero Te Fazer Feliz, com participação de Saulo Fernandes, Márcia relembra que essa nova realidade trazida pela Covid abalou seu emocional. No ano passado, ela chegou a ir para um hospital e teve a Síndrome do Pânico diagnosticada.
“Trabalho cantando em shows e Carnaval. Estava com uma demanda grande de shows para evento, ia me apresentar em Portugal, tinha acabado de lançar um EP e, de repente, tudo parou. Um dia, comecei a ter falta de ar, coração disparou e pensei que fosse morrer. Fui parar no hospital e descobri que estava tendo uma crise de pânico. Melhorei fazendo terapia, cuidando do espiritual, ouvindo Leandro Karnal e Monja Coen e fazendo as lives. Agora estou voltada aos cuidados com minha mãe, que fez duas cirurgias no coração e ficou na UTI. Cuido dela 24 horas e aos poucos vou retomando a minha carreira, planejando lives e pensando em como celebrar os 30 anos.”
Aos 51 anos, ela também cuida do físico com caminhadas pelo condomínio onde mora. “Eu sempre fiz muita academia e musculação. Corria 12 km também. Agora com a pandemia, evito sair de casa e não estou malhando. Minha mãe já tomou as duas doses da vacina, mas eu não tomei ainda. Estou apenas caminhando, fazendo jejum intermitente de 18 horas e mantendo a dieta equilibrada. Apesar que na pandemia aprendi a fazer bolo e às vezes como demais (risos). Mas são bolos sem farinha”, diz ela, que está solteira e é mãe de dois.
“Tenho um de 20 e outro de 30 anos, que são meus companheiros, assim como meus cachorros e minha mãe. Me separei em 2003 e não quero mais saber de casar! Não sinto falta de jeito nenhum. Quando a gente fica mais madura, não é qualquer coisa que a gente aceita. Me casei comigo mesma.”
PIONEIRA
Conhecida como Furacão Loiro, Márcia, ao lado de Sarajane e Daniela Mercury, abriu caminho para essa geração de grandes cantoras do axé. Ela diz que, apesar do sucesso, não teve o reconhecimento financeiro que se consegue atualmente com a música.
“Na minha época, não deu para ficar rica como Ivete e Claudia, que ganham muito dinheiro. Digo que a gente fez a cama para os cantores de hoje se deitarem. Tive muitos problemas financeiros. Aqui na Bahia tinha isso de acharem que porque tinham investido na banda, tinham que ganhar X e a gente não. Tive muitos problemas financeiros e tive que me posicionar. Depois, quando fiz sucesso solo com a música Vermelho, até ganhei um dinheiro, mas não consegui sustentar o sucesso e a queda veio muito grande financeiramente. Muita gente pede para baixar cachê. É complicado. Agora o desafio é maior de continuar cantando do que quando comecei”, explica.
Apesar de ter voltado com o trio no Carnaval antes da pandemia, Márcia destaca a dificuldade para conseguir um espaço nos dias de hoje.
“Não sinto que a gente seja valorizada. Era sempre uma batalha muito grande para estar no Carnaval e o trio que ofereciam era sempre meia boca. Daí o som não sai legal e dizem que a gente não canta bem. Não dá para fazer uma coisa sem qualidade. Mas nesses últimos quatro anos o ACM Neto ajudou muito para que a gente voltasse para o Carnaval.”
SONHOS
Atualmente, o sonho de Márcia é voltar para os palcos. Ela imagina que será um momento de grande emoção.
“Sonho em voltar para os palcos. Não vejo a hora e acho que vai ser muito emocionante este momento. Não sei quando e como. Talvez em 2022? As pessoas estão muito carentes de shows, abraços e aglomeração. Elas estão querendo isso, mas talvez a grana fique curta para os eventos artísticos no futuro. Não sei como será. É tudo muito incerto ainda, mas quero retomar os meus projetos e continuar investindo nas redes sociais”, avalia ela, que é artista independente.
“Antes tinha que ter gravadora, que detinha a palavra final, às vezes fazia a gente cantar certas coisas que a gente não queria gravar... Agora sou mais livre e com a internet consigo divulgar meu trabalho sem ter que pagar a fortuna que tinha com a gravadora”, diz Márcia, que recentemente gravou a música Vento Forte, com referências à cultura africana.
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