Marco Pigossi fala do namoro com cineasta italiano e lembra medo de se declarar gay
06/10/2022 10h21Fonte O Globo
Imagem: Reprodução/InstagramMarco Pigossi e o namorado, o diretor Marco Calvani.
Marco Pigossi falou, em entrevista, sobre como ter se declarado gay ajudou a deixá-lo mais seguro e o potencializou profissionalmente. Um dos resultados desse processo é o documentário “Corpolítica”, sobre candidaturas LGBTQIAP+ nas eleições municipais do Rio em 2020. O filme é dirigido e roteirizado por Pedro Henrique França e tem Pigossi como produtor.
— O mais importante foi fazer as pazes comigo mesmo, sabe? E esse projeto está num lugar muito especial no meu coração porque durante toda a minha carreira, no alto do meu privilégio, esse privilégio que tem um homem cis, branco, classe média etc., eu sempre tive no meu coração uma vontade de falar sobre isso, de colocar essa questão. Eu nunca tive uma referência, por exemplo. Nunca tive um ator legal que pudesse me inspirar nesse lugar. Sempre foi um lugar de muita solidão. Então, eu tinha essa culpa, essa dívida com a comunidade. E eu sempre dividi isso com o Pedro. Falei: "Pedro, eu preciso fazer alguma coisa por isso. Eu preciso falar disso. E acho que a gente vive um momento que está todo mundo... É muito interessante e muito importante, claro, o posicionamento, as redes sociais, internet etc., mas acho que a gente realmente toca as pessoas através da arte. Através da arte a gente acessa o coração de cada um ali e que a gente consegue fazer essa transformação. Então, queria muito falar sobre isso através da minha arte, seja como ator, como produtor... — explicou Pigossi, em entrevista ao podcast "Calcinha larga", do Spotify.
Marco Pigossi comentou também sobre o seu namoro com o diretor italiano Marco Calvani, brincou com o que aconteceu quando os dois se conheceram e falou da repercussão positiva de quando anunciou o relacionamento nas redes sociais:
— Quando eu o conheci, ele falou: "Eu me chamo Marco". E eu falei: "Putz... Isso não vai dar certo, não dá" (risos). Foi uma surpresa (a recepção dos internautas ter sido boa), mas... É o padrão, né? São dois homens brancos, bonitos, que podem ter uma casinha... Isso a gente até aceita, né? (...) Meu processo foi muito diferente. Eu criei esse termo que é o "privilégio do armário". Eu vivi no armário muito tempo.
O ator explica que omitir a sexualidade o mantinha confortável perante à sociedade, já que ele não sofria discriminação por raça nem classe social, por exemplo:
— Eu nunca vou conseguir sentir o que a Erika (Hilton, deputada trans) sentiu. Cada um tem o seu processo nesse lugar (...) Sempre usufruí desse "privilégio do armário", as pessoas não sabiam (que ele era gay). Me descobri gay muito cedo e veio uma fama muito grande para mim também, né? Eu era conhecido, mas tinha o peso da coisa do armário. E tinha a coisa do galã. Então, sair do armário, para mim, não era para minha mãe e para os meus amigos. Era para milhões e milhões de pessoas. Isso tomou uma proporção tão grande... E me escondi dentro desse privilégio, dentro desse armário, por muitos anos porque eu não tinha condição, tinha muito pânico de qualquer coisa acontecer. E isso envolve a minha carreira também. Não é que "ai, vou sair do armário mas ali no meu escritório de advocacia ninguém sabe", entende? Era uma coisa que era nacional.
Pigossi lembra que também temia pelas possibilidades profissionais:
— Uma frase muito replicada na época era que se as pessoas sabem que você é gay, elas não vão acreditar nos seus personagens, se eles se apaixonarem por uma mulher. As pessoas vão ver em casa e vão falar: "Ah, ele gosta de homem, não acredito nisso". Isso era o que era falado, o que era exposto. Então, para mim teve esse processo. Não era uma questão pequena dentro da família e dos amigos. Era tudo: o meu trabalho, sair do armário nacionalmente. Demorou muito para eu me sentir forte o suficiente para colocar isso.
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