Mell Muzzillo, a Ritinha de "Renascer", fala de racismo: "Meu perfil era um problema"

19/03/2024 09h44

Fonte Revista Quem

Mell Muzzillo, de 18 anos, tem feito sucesso como a audaciosa Ritinha da novela Renascer. Com a personagem, a atriz tem levantado questões importantes. Assim como sua personagem, ela também é afro-indígena. Nos seus dezesseis anos de carreira artística - ela começou a dançar aos dois anos - ouviu muitos "não" baseados nos seus traços.

"Já passei por algumas situações em minha vida, mas não conseguia identificar. Porém tinha o sentimento de não pertencimento; era o que prevalecia em meio a essas situações. O meu caminho (profissional) foi mais longo. Sempre ouvi sobre a dificuldade de me encaixar em algum lugar e sobre o quanto meu perfil era um problema. Mas estamos evoluindo dia após dia. Um sinal é de que hoje temos novos rostos na dramaturgia brasileira", celebra.

A personagem, que tem uma história de amor com Damião (Xamã), também aborda temas como liberdade sexual feminina e o empoderamento. "Ela é uma mulher de alma livre. Isso é muito nítido. Ela tem essa liberdade dentro dela, essa vontade de viver mesmo a vida dela como acredita. Ela sonha, impõe as suas opiniões e não faz questão de ficar isenta de nada", descreve.
Sua história com a arte começou na infância. Qual o impacto que a arte teve na sua vida e formação?
Comecei na dança muito cedo, aos dois anos de idade. Minha mãe me colocou no balé por um pedido médico; eu tinha os joelhos para dentro, e o médico disse que a dança iria melhorar. O balé me deu responsabilidade: eu tinha que estar com o coque e as roupas impecáveis e chegar no horário. Caso contrário, iria voltar para casa. Além disso, a determinação nos ensaios é fundamental. Costumamos dizer no balé que se não está doendo, algo está errado!

E quando você começou a se dedicar à atuação?
Comecei a me dedicar à dança no teatro musical. Eu já queria atuar; era um desejo íntimo mesmo. Depois do teatro musical, passei a estudar teatro e nunca mais parei.

Você é nilopolitana, de origem afro-indígena. Quando começou a entender e ter mais interesse por suas origens?
Minha família sempre teve essa forte ligação com a ancestralidade do lado materno, o que tornou natural discutir o assunto, ouvir histórias dos meus avós, bisavós e por aí vai. Agora, estou bem focada em estudar e compreender melhor isso, pois sei que há ainda mais a descobrir sobre o meu povo.

A Ritinha tem origens iguais às suas. Ela é afro-indígena. Como se sente ao poder dar voz a uma personagem assim, pouco retratada na TV?
Viver a Ritinha e testemunhar a identificação me enche de felicidade. É algo mágico sentir essa conexão com as pessoas que se enxergam na personagem. Saber que a história ressoa e impacta positivamente meninas que passam a se ver na TV é uma experiência única e recompensadora.

Como tem sido a construção desta personagem?
Primeiro entendi quem era a Ritinha. Uma menina mulher, que tem uma inocência do não saber de algumas coisas da vida, mas, ao mesmo tempo, é esperta, atenta e sensitiva. É uma mulher simples e faceira. Trouxe para ela um andar rebolativo e arrastando a sandália. Estudei também um pouco do jeito da Inácia (Edvana Carvalho) para ter essa semelhança de mãe e filha. E com certeza dou ênfase no olhar. Ritinha diz muito com os olhos.

A Ritinha protagoniza cenas mais quentes. Como é para você fazer essas cenas? Tem um segredo para não ficar nervosa?
Como vim da dança, já estava um pouco acostumada com essa coisa de ter que ficar nua ou de ter que trocar de roupa na frente dos outros. A gente também tem uma equipe muito sensível e muito cuidadosa. Temos confiança ali no elenco em si, da pessoa que vai estar trocando com você, e na equipe.

Muito se fala do clima da Ritinha com o Damião (Xamã). O que acha disso?
Tem sido demais receber essa resposta e essa aprovação do público. As pessoas estão gostando muito. A gente tem tido uma troca muito legal. Teve uma preparação nossa para que tudo funcionasse bem, como a gente queria e como a gente acreditava que era a relação da Ritinha e do Damião.

Como tem sido trabalhar com ele?
Ele é uma pessoa muito fácil de se trabalhar e muito entregue, então as coisas foram acontecendo de forma bem natural, com muita confiança também.

Como estava a sua vida profissional antes da Ritinha e o que mudou na sua vida após a Ritinha?
Com toda certeza, mudou praticamente tudo. Agora, com todo esse reconhecimento, vem a exposição e uma cautela maior para tudo que eu for fazer e falar. São muitas responsabilidades e uma vida muito mais corrida.

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