Nando Reis abre o jogo sobre os oito anos de sobriedade e relembra que vício quase o "matou"

30/11/2024 08h59

Fonte gshow

Uma vez, Nando Reis disse que “é bom olhar pra trás, e admirar a vida que soubemos fazer”. Isso foi em seu segundo disco, no ano de 2000. Mais de duas décadas depois, o Ruivão olha para o passado com uma admiração parecida - especialmente os últimos oito anos, vividos em sobriedade.

“É uma mudança tão drástica, tão boa em minha vida”, descreve Nando, em entrevista ao gshow. “De certa maneira é muito diferente e, por outro lado, não, nada é diferente. Porque a própria bebida, o uso de drogas, ela não interfere na criatividade. Isso é um engano, um mito. É claro que álcool e drogas foram utilizados por mim, falando sobre meu trabalho, de uma forma, às vezes, que tiveram uma função de ser um desinibidor”.

O artista de 61 anos ainda se define como uma pessoa “insegura, tímida e retraída”, e diz que daí vinha a necessidade de algo para dar ignição ao seu processo criativo. Nando, no entanto, pontua que sempre se manteve lúcido no rigor crítico com suas próprias obras.

"Em nenhum momento o estar ou não alterado é o determinante ou garante a qualidade em geral, porque, é o seguinte: em tudo que eu fiz, que publiquei, todas as canções que eu resolvi gravar, independentemente de como o estado que eu as compus, sempre tive o rigor crítico de entendê-las, de analisá-las, e ver se elas prestaram ou não. Lúcido", justifica Nando.

"No entanto, o uso abusivo quase me matou e trouxe muito sofrimento. Além de chegar a um ponto que aquilo é um desastre para todas as áreas da sua vida", continua.
Nando celebra sua nova versão no disco “Uma Estrela Misteriosa”, lançado neste ano. O trabalho “mais ambicioso” de sua carreira até então, como ele mesmo define, conta com 26 músicas inéditas e quatro regravações no total. O artista passa com a turnê do disco pelo Rio de Janeiro neste sábado (30), com show na Farmasi Arena.

Repertório reflete nova fase

Ao gshow, Nando também reflete sobre o desafio de apresentar tantas músicas novas em um repertório de show. Na setlist são 12 novas no total, combinadas com clássicos dos 42 anos de carreira. Mas ele está ciente do que é necessário para se conectar com o público.

“Pelo fato de serem minhas [canções], sei exatamente o que elas significam para mim. Consequentemente, eu posso interpretá-las com um grau de clareza emocional, que acho que tem uma força”, aponta.

É nesse mesmo repertório que estão duas canções que marcam a relação de Nando com a sobriedade. Em “Daqui por Diante”, ele revisita um sentimento parecido com o de “Por Onde Andei” (2004), um pedido de desculpas, novamente feito à família.

“É quase no sentido de reparação, uma canção que escrevi para a minha família como presente de Natal, e ela é muito descritiva dessa questão do pacto, esse tsunami, como eu uso ali, do alcoolismo, da dependência química”, conta.

A outra faixa é “Des-Mente”, em que discute consigo mesmo a dualidade da vontade de "cheirar/fumar/beber", e a vontade de viver.

“Cansado de destruição”

Nando Reis foi um dos artistas bastante vocais nas críticas ao governo Bolsonaro, e por conta disso diz até que: “muita gente deixou de gostar de mim porque me posicionei, me posiciono”. O Ruivão segue interessado em política, mas quer conversar sobre questões que geram integração.

Para além do alcoolismo, assunto que traz à tona em suas apresentações, Nando também tem demonstrado muito interesse na área de acessibilidade em shows, ponto de atenção em sua turnê.

“Estou muito mais disposto, mais interessado no sentido da integração, tanto pessoal, interna, quanto disso: falar de alcoolismo não depende de que partido você vota", defende.

"É um assunto que me sinto mais confortável, que eu falo com a propriedade, ao lugar de fala, sei tudo, sou membro do AA [Alcoólicos Anônimos], sou mesmo. Já publiquei, já me manifestei, fiz vídeo, escrevi texto, e acho que isso é um serviço, falo como serviço de saúde pública. É bom estar nesse lugar de figura pública e tratar de coisas mais interessantes, mais construtivas. Estou muito cansado de destruição, de agressão", reflete Nando.

Show Nando Reis – Uma Estrela Misteriosa:
Rio de Janeiro - sábado, 30 de novembro
Abertura dos portões: 20h
Inicio do show: 22h
Ingressos: a partir de R$ 60 (arquibancada nível 3), até R$ 250 (mesa premium)

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