"Não vai me derrubar, me dá mais força para lutar", afirma Miss São Paulo, alvo de ataques racistas

01/08/2024 10h31


Fonte G1

“Primeiro sentimento foi choque. Depois foi indignação”, afirmou a modelo Milla Vieira, recém-eleita Miss Universe São Paulo, em entrevista ao jornal “Edição das 18h", da GloboNews, nessa quarta-feira (31).

Ela foi alvo de ataques racistas em comentários nas redes sociais após a divulgação do resultado do concurso, realizado na última quarta-feira (24). Representante de São Bernardo do Campo, no ABC Paulista, a modelo deve representar o estado no concurso nacional, em setembro deste ano.

“Eu ganhei um concurso que era meu sonho participar. No dia seguinte, quando eu abri a minha rede social, eu já comecei a entender e ver os ataques direcionados a mim de forma gratuita”, relatou a miss.
Imagem: ReproduçãoMilla Vieira foi eleita Milla Vieira foi eleita "Miss Universe São Paulo"

Diversos usuários escreveram comentários contestando a vitória de Milla, uma mulher negra. Entre as frases, estão:

— Ganhou pela cota, só pode.
— Calado eu me deito, sem processo me levanto.
— Por que agora tem cota reservada nestes concursos?
— Perderam a noção de beleza mesmo, lacração tá f... hoje em dia.

“Eu percebi que estou em todas as redes sociais, mas não de uma forma positiva. Infelizmente, de uma maneira bem negativa, as pessoas me comparando a animais”, relatou Mila depois que começou a ler os ataques racistas.

Também há comentários desse cunho nas fotos dela publicadas pela agência de modelos para a qual trabalha e nas postagens dos organizadores do concurso.

“Se entre as 31 candidatas, todas tinham as mesmas chances, e eu fui fazendo meu trabalho dia após dia, me dedicando muito, me preparando muito. Era aula de comunicação, oratória. Eu ganho o concurso e não sou merecedora? Conversando com os meus coordenadores, eles me contaram que a minha vitória foi unanimidade entre os jurados”, relatou a miss.

“Por que agora tantos ataques de ódio me difamando, como se eu não fosse merecedora? Por que tanto incômodo? É tão difícil aceitar?”, completou.

Racismo

Gerson Antonelli, presidente do Miss Universe Brasil, afirmou que os autores de comentários racistas serão punidos de acordo com a Lei do Racismo.

"Venho, por meio desta, expressar minha indignação e repúdio contra certos indivíduos que usam as redes sociais para cometer crimes, incluindo racismo, pensando que ficarão ilesos de punição. Estou ciente sobre o assédio e bullying cometidos contra a Miss Universe São Paulo, Milla Vieira, através de comentários racistas que podem ser enquadrados na Lei 7.716/89", disse ele.

Mila registrou um boletim de ocorrência e um inquérito foi aberto para apurar o caso. Responsável pelo Instagram, a Meta disse ao g1, em nota, que não vai comentar o caso.

A advogada Shirley Candido Claudino, membro da Comissão de Igualdade Racial e da Mulher Advogada da OAB-SP, Subseção Santo Amaro, disse que o caso de Milla "ilustra claramente as consequências do racismo estrutural e da hipocrisia social que permeiam nossa sociedade".

“Isso não vai me derrubar. Me dá mais força para eu lutar pelos meus objetivos”, afirmou. “A gente não pode se calar diante da injustiça e da maldade. Essa mensagem que eu quero deixar: que nada possa parar os nossos sonhos”, finalizou Milla Vieira, recém-eleita Miss Universe São Paulo

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Tópicos: racismo, concurso, universe