Pedro Carvalho fala sobre a transfobia de Abel: "O preconceito deseduca"
23/08/2019 15h51Fonte Revista Marie Claire
Imagem: Chico CerchiaroPedro Carvalho vive Abel em "A Dona do Pedaço".
A cena em que Abel repele as declarações de amor Britney em A Dona do Pedaço chamou a atenção do público e a transfobia com que o boleiro tratou assunto virou um dos assuntos mais comentados nas redes sociais. Pedro Carvalho, que interpreta o gajo português, diz que está muito feliz por fazer parte deste personagem que foi feito de uma forma tão inteligente por Walcyr Carrasco.
Ele elogia a forma como o texto traz um assunto tão sério com leveza e comédia, para que o público capte melhor a mensagem e veja com um novo olhar sobre a transexualidade.
“O Abel é um cara pouco culto, bom coração, ingênuo, romantizado, às antigas, bronco e isso traz a comicidade dele, mas é um reflexo de uma pessoa sem cultura. O preconceito dele já mostra essa falta de informação, o medo do desconhecido. Na evolução deste personagem você vai ver que isso é o que importa porque cada tem nossas preferências sexuais, algo normal, e não podemos interferir na liberdade das pessoas. Isso é preconceito”, avisa.
Ele ainda revela que o personagem vai se transformar e mudar de opinião depois de se sentir enganado porque este é um casal muito querido pelo público. Pedro tem certeza que o final dos dois será muito feliz.
“Acredito que o respeito ultrapasse o preconceito. O amor vai falar mais alto. Nós atores temos essa missão, com toda modéstia, de educar essa mentalidade. Se o Abel e a Britney conseguirem mudar a cabeça de uma pessoa, que antes via como algo anormal, já será uma vitória para nós. O preconceito deseduca e o Abel é o reflexo disso. A ideia da cena foi alterada do que era previsto porque este é um casal querido do público e, como todo romance, tem seus altos e baixos e todo mundo está torcendo para que os dois fiquem juntos, será uma mensagem muito bonita que se pode passar para as pessoas.”
A parceria entre Pedro e Glamour Garcia, intérprete de Britney, tem mostrado cada vez mais intensa, mas e o ator não contém os elogios para falar de sua colega de trabalho. Ele comenta que a atriz já tem uma graciosidade, é engraçada e transpõe isso para a personagem.
“Isso me ajudou muito. Em Portugal eu fazia novelas desde os 12 anos, cresci em frente às câmeras, fiz 13 novelas por lá e estou na terceira aqui, e sempre fiz muito mocinhos e vilões. Nos últimos anos que passei em novela, pedia muito para fazer personagem com uma veia cômica. Sempre fiz isso no teatro e é algo que eu sempre quis fazer na televisão e a Glamour ajuda muito nisso. A gente propõe cenas e se diverte o dia inteiro. A comédia tem de ser feita com muita verdade. A parceira de cena ajuda demais. Ficamos muito amigos e a Glamour é muito generosa como atriz. Fica mais fácil a coisa funcionar dessa forma”, fala.
O português diz que tem recebido um feedback muito imediato do público LGBTQI que agradece por falar sobre este assunto na televisão. O artista opina que isso é algo muito sério para ser dito e alerta que outros dilemas ainda aparecerão na trama, como quando Britney será impedida de usar o banheiro feminino por ser transexual.
“A partir de agora vão acontecer algumas cenas que serão reproduzidas do mundo real de transfobia com ela, a incompreensão da personagem e isso acontece na vida. Cada um tem seu tempo de aceitação e, para mim, como Pedro, todas as pessoas são iguais. Eu nunca tive a necessidade de fazer uma pesquisa sobre o universo transexual porque é normal para mim. Cresci numa família com mente aberta, não tinha distinção com ninguém e todos têm de ser felizes, não importa sua sexualidade”, acredita.
Por falar em sua infância, Pedro lembra que a transexualidade não é uma questão discutida em Portugal ou na Europa porque eles já passaram desta fase, mas salienta que em todos os lugares existe uma polêmica quando é abordada pela primeira vez.
“Aqui no Brasil estamos vivendo um momento político-social e até econômico que tem de tocar nestas feridas. Existem muitas trans que morrem todos os dias assassinadas e estamos falando de vidas humanas. Só porque eles ou elas decidem ser. Eu já conhecia pessoas transexuais antes, mas agora convivendo com a Glamour, eu realmente admiro mais a garra deste público e dessas pessoas. Imagina nascer com um corpo diferente do que se identifica? A gente já passa por tantos dilemas na vida, agora imagina passar por eles tendo este de lutar para que a sociedade a aceite? É preciso coragem, garra e sangue no olho. Admiro demais esta luta. Torço para que a gente encaminhe para uma sociedade em que a igualdade seja verdadeira, que não seja importante o que o outro goste.”