Rafaela Cocal, a Yandara de "Terra e paixão", se declara ao ex: "Amo demais"
08/10/2023 09h42Fonte Extra
Imagem: Gustavo PaixãoRafaela Cocal, a Yandara de "Terra e paixão"
O VLT (Veículo Leve sobre Trilhos) que cruza o Centro do Rio é o transporte menos poluente da cidade. Além disso, os modernos bondes passam próximos a áreas verdes, que servem como um pulmão, aliviando a carga de uma metrópole. Foi por ali que Rafaela Cocal, de 19 anos, a Yandara de “Terra e paixão”, fotografou para este ensaio de moda, exaltando o respeito à natureza e a importância da alternativa ao consumo desenfreado.
Comprometida com a sustentabilidade como ferramenta de transformação, a atriz exibe nestas páginas roupas que são frutos da ecomoda, com traços de reutilização, materiais biodegradáveis e até ressignificação do que poderia ter ido para o lixo, como brincos feitos com cabeças de boneca.
— Minha avó sempre usou pneu velho para fazer a mesa da sala, então cresci sabendo reutilizar coisas. Não tenho obsessão por compras... Durante a vida, todas as primas me deram roupas usadas que não serviam mais nelas — exemplifica a intérprete da indígena do horário nobre, que na trama é aspirante a modelo e trabalha como vendedora da butique mais chique de Nova Primavera.
Foi num concurso de passarela promovido justamente pela loja de Graça (Agatha Moreira) que a moça ganhou o primeiro lugar e o título de Garota Hello Grace. Exatamente como aconteceu com a atriz alagoana, que se tornou modelo profissional após ser selecionada numa disputa como a da novela, em Maceió (AL), sua cidade natal. Mas esta não é a única coincidência entre atriz e personagem.
Imagem: Gustavo PaixãoRafaela Cocal
Prometida em casamento a um indígena, Yandara se apaixonou pelo gerente de banco Franco (Gil Coelho) e até namorou o rapaz. Mas a razão falou mais alto que a emoção e ela rompeu o romance para ficar noiva do escolhido de seu avô, Jurecê (Daniel Munduruku). Na vida real, Rafaela também desfez um relacionamento recentemente.
Infelizmente tive que terminar meu namoro, não porque eu quis, mas.... Eu estou vivendo uma vida totalmente diferente da que eu vivia com meu namorado. A gente se ama! Amo ele de paixão, mas estou em outro momento. Por muito tempo eu não ligava tanto pra mim, agora eu estou me colocando como prioridade. O término foi uma atitude racional, porque, se fosse pelo coração, eu estaria namorando ainda — detalha a capricorniana, solteira há um mês.
Nova fase
Com um passado de baixa autoestima, Rafaela conta que seu processo de “cura” começou aos 15 anos, quando a então adolescente estudou numa escola particular e observou colegas que se preocupavam com a aparência.
— Eu nunca fui uma menina vaidosa. Sempre entrei nos lugares sabendo que eu era diferente. Nunca soube o que era me olhar no espelho e gostar do que eu estava vendo. Não tinha um estilo próprio, que me fizesse me sentir bem. Passei por uma época de me procurar e me encontrar. De olhar meu melhor ângulo, do que mais gosto em mim. A Rafaela de anos atrás estaria chocada de eu estar trabalhando na televisão. Eu odiaria me ver na TV — conta.
Depois de inserida no universo da moda, a atriz teve que largar a faculdade de Biomedicina e se mudar para São Paulo por conta de trabalhos nesse meio. No dia a dia nas cidades grandes, a jovem busca em seus figurinos a sua ancestralidade, misturando looks de tons claros com colares, cordões e brincos indígenas. Filha de pai negro e mãe indígena, a conexão com os povos originários surgiu há cinco anos, quando o avô materno dela morreu.
— As pessoas sempre me paravam na rua e me diziam que eu parecia a Pocahontas. Tinha a curiosidade de saber a minha origem e senti vontade de pesquisar. Acabamos chegando na aldeia (Cocal, no interior de Alagoas) e descobri todos os meus ancestrais. Tive sentimentos de inclusão, de pertencimento mesmo — relembra.
Imagem: Gustavo PaixãoRafaela Cocal, a Yandara de "Terra e paixão"
Ancestralidade indígena
Neta de um pajé na novela das nove, Rafaela acredita que Yandara é o exemplo do jovem indígena atual, que consegue estar ligado à contemporaneidade, sem perder a sua cultura e o respeito ao seu povo. Na história de Walcyr Carrasco, a personagem tem uma forte ligação com a família, assim como sua intérprete.
— Principalmente agora que eu vivo longe. Já tem um ano, então estou o tempo todo no telefone falando com eles, que continuam em Maceió. Sempre fui muito amiga dos meus pais, acho que isso é o mais importante. Nunca tivemos só uma relação de respeito e hierarquia. Os dois foram as pessoas que mais me apoiaram na carreira. A resistência foi muito mais minha do que deles. Sou muito apegada e sinto uma falta enorme do convívio. Antes eu chorava todos os dias de saudade. Acho que eles se fizeram fortes para não me verem sofrer ainda mais — conta a atriz, que tem três irmãos mais velhos.
Se Rafaela usou o trabalho como forma de driblar a saudade da família, a conquista do papel de Yandara serviu como coração para uma nova fase em sua trajetória. Em menos de um ano estudando teatro em São Paulo, ela foi chamada para o teste de “Terra e paixão” e nem acreditou quando recebeu o resultado positivo para sua primeira novela, que a fez se mudar temporariamente para o Rio.
— É legal mostrar uma garota indígena dos dias atuais que é antenada, tem celular, vai a festas. Essa história de que o indígena só anda nu e só tem cabelo liso é coisa dos colonizadores — analisa a moça, que hoje em dia usa a autoestima elevada como um mantra para viver em paz por todos os caminhos que percorre, seja de bicicleta, a pé ou de VLT.