Rennan da Penha fala de prisão, funk e filhos: "Quero que tenham uma profissão digna"
16/12/2019 12h17Fonte Extra
Imagem: DivulgaçãoClique para ampliar
Se pudesse trocar o nome de seu maior sucesso, Rennan da Penha o faria. “Hoje eu vou parar na gaiola” tem duas realidades para o DJ: uma delas foi projetar seu nome para um público ainda maior do que o de 25 mil pessoas reunidas a cada sábado no Complexo da Penha. A outra foi como uma profecia às avessas.Um mês após explodir como um dos nomes do carnaval com seu desenfreado 150 BPM (novo gênero de batidas por minuto), Rennan Santos da Silva, 25 anos, foi preso, acusado de associação ao tráfico com pena de seis anos e oito meses de prisão.
Ele passou sete meses engaiolado enquanto esteve em outro complexo, o penitenciário de Gericinó, onde ficam os pavilhões de Bangu. Solto há 20 dias, as palavras ainda são comedidas e a cabeça tenta processar, com a mesma velocidade do ritmo louco que ele criou, o que 2019 tocou em sua vida. “Não tem como tirar algo de positivo disso. Ninguém quer estar preso”, avalia.
"Tinha medo era de não passar o Natal em casa"
Na prisão, a rotina de Rennan da Penha foi uma aliada no passar das horas. “Eu trabalhava, prestava serviços gerais, voltava, almoçava, dormia...”, enumera.
A privação da liberdade não o deixou receber o troféu de Canção do Ano no Prêmio Multishow nem festejar a indicação ao Grammy Latino. Algo que envaidece, mas não foi o que preocupou Rennan na cadeia: “Sair todo mundo sabe que vai sair um dia. Mas eu tinha muito medo era de não passar o Natal em casa. Pedi muito a Deus que eu pudesse estar com a minha família. Por causa que eu vi lá dentro que as datas comemorativas para mim eram muito importantes”.
"Minha infância não foi fácil"
Criado na Penha, dentro da comunidade, Rennan teve contato com os bailes funk desde muito cedo. A infância passada nas vielas, em meio aos tiroteios e violência, porém era dedicada ao videogame, à TV e aos CDs que tocavam de tudo um pouco.
A música como profissão não passava pela visão do hoje produtor. “Minha infância não foi fácil. Comecei a trabalhar cedo, eu não tinha recursos para fazer as coisas que eu queria. Meu sonho era ser desenhista ou diretor de cinema. Mas minha mãe não tinha como bancar um curso. Nem imaginava que iria ser DJ um dia”, recorda.
No filme da vida, ele desenha agora o futuro com os pés bem fincados no chão. Quer retomar a carreira e o espaço que passou a ocupar como criador do funk aceleradão, e acaba de assinar um contrato de cinco anos com a Sony para que a gravadora distribua seu som pelo mundo.
“Foi algo que jamais esperei. Fizeram uma comemoraçao para me receber, pude contar a minha história, o que eu já tinha passado no funk e na minha vida, as pessoas se emocionaram nesse dia e eu estou feliz e agradecido de ter dado esse grande passo”, comemora.
Renan da Penha não acredita que foi preso por preconceito contra o funkRenan da Penha não acredita que foi preso por preconceito contra o funk Foto: reprodução/ instagram
"Não fui preso por ser DJ de funk"
O DJ vai continuar no funk que o revelou e não associa sua prisão ao ritmo, apesar de reconhecer o preconceito que o ronda.
“Não fui preso por ser DJ de funk. Se fosse cantor gospel também seria. A Justiça entendeu que eu era culpado por algo que não fiz. Acho que o funk é marginalizado, sim, mas ganhou um espaço grande. Você liga a TV e está lá o funk tocando num comercial, numa novela... Existe o preconceito ainda porque muita gente não vê que o funk pode ser o sustento de uma família. Isso não faz parte do mundo dela”, analisa.
Pai de dois filhos, um de 4 anos e outro de 2, Rennan quer um roteiro diferente para eles. “Quero que eles tenham uma profissão digna, não que a minha não seja. Mas todo pai sonha para os filhos uma profissão de renome como médico, advogado... E vou fazer de tudo para que eles tenham um futuro excelente, algo que eu não tive. Espero que eu consiga fazer isso”, planeja Rennan Da Silva. Mais um Silva. Funkeiro e pai de família.