Tatiana Maranhão fala de sua trajetória ao lado de Xuxa e do documentário "Pra sempre paquitas"

06/09/2024 09h11


Fonte O Globo

Imagem: ReproduçãoTatiana Maranhão na época de paquita e atualmente.(Imagem:Reprodução)Tatiana Maranhão na época de paquita e atualmente.

Tatiana Maranhão vestiu o traje de Paquita pela primeira vez em 1987, aos 10 anos de idade. Desde então, sua vida sempre esteve ligada à figura da Xuxa. Hoje, aos 47, ela trabalha no time de comunicação da apresentadora e é, ao lado de Ana Paula Guimarães, idealizadora do documentário original Globoplay "Pra sempre Paquitas", que conta a trajetória das assistentes de palco da Rainha dos Baixinhos.

— Na minha época, no início, ainda não éramos reconhecidas na rua, não tínhamos protagonismo. Eu não cheguei a mandar carta para tentar ser Paquita nem nada. Minha irmã cantava em um conjunto, nos anos 80, chamado Afrodite Se Quiser. E ela fazia programas como Chacrinha, Silvio Santos, Xou da Xuxa. Uma vez ela me levou, e, quando estava cantando, eu comecei a dançar lá na frente. Marlene Mattos (diretora) me chamou para fazer um teste. Naquela época, o que queríamos era estar com a Xuxa. Ser Paquita ainda não era uma profissão.
Imagem: Blad MeneghelTatiana Maranhão(Imagem:Blad Meneghel)Tatiana Maranhão

Tatiana fez parte da geração que viu as Paquitas saírem do anonimato e alcançarem a fama, entrando no imaginário de inúmeras crianças.

— Dois acontecimentos ficaram marcados para mim: em 1989, lançamos o disco "É tão bom". Naquele ano, também lançamos o filme "Sonho de verão". A Xuxa nem estava no filme e lotamos as salas de cinema. Foi um recorde de bilheteria naquelas férias. Também fizemos um show em Niterói (RJ) que atraiu uma multidão. Devia ter umas 70 mil pessoas. Eu olhei e falei: "Que sucesso". Uma vez fomos a um parque de diversões e não conseguimos entrar. O parque todo estava em cima da gente. Foi divertido, porque na minha época não existia uma grande expectativa. Foi muito gostoso participar dessa mudança, de um grupo secundário que ganhou protagonismo e virou uma febre. Cada geração teve seu destaque, mas a minha teve essa coisa muito especial, uma virada de chave.

Aos 14 anos, Tatiana se aposentou do grupo, mas continuou trabalhando no meio artístico.

— Depois, comecei a trabalhar na Xuxa Produções. Fiz trabalhos para a Som Livre, coloquei voz na música da Priscila, da “TV colosso”, e no disco do Baby, da "Família dinossauro". Aos 17 anos, comecei a trabalhar como assistente de produção de shows. Quando terminei o colégio, a Xuxa pagou minha faculdade. Estudei jornalismo e já me encaminhei para a comunicação da Xuxa. Quando era menor, queria ser psicóloga, mas sou uma pessoa que sabe aproveitar as oportunidades. Pensei: "Escolhi isso para a minha vida desde criança, sou feliz aqui". Até hoje sou muito fascinada.
Imagem: Blad MeneghelXuxa com Tatiana Maranhão (à direita) e outras ex-paquitas nos bastidores do documentário Xuxa com Tatiana Maranhão (à direita) e outras ex-paquitas nos bastidores do documentário "Pra sempre Paquitas"

O documentário mostrará a vida das Paquitas de todos os ângulos e abordará temas como pressão estética e assédio.

— É um privilégio ter um espaço como esse para reviver e ressignificar a história. É muito forte e bonito, ainda mais quando se tem um time tão coeso de meninas fortes, determinadas, com uma história que nos une. A fala de uma complementa a da outra, então fica muito mais forte do que uma voz sozinha. Revirando o baú, essa história de 30 anos, às vezes eu paro e penso: "Como é que eu aturei tanta coisa? Eu não precisava". Minha família tinha uma estrutura, minha mãe nunca usou meu dinheiro. Eles guardavam tudo, foram muito especiais comigo. Com o dinheiro que ganhei como Paquita, comprei um apartamento. Minha mãe sempre guardou tudo para mim.

Ao ser perguntada sobre quais situações a desagradaram, Tatiana afirma que o público poderá entender melhor todo o contexto ao assistir ao documentário:

— Tem a parte doce e linda, e uma parte bem amarga. Prefiro deixar essa parte amarga para as pessoas assistirem no documentário. Fomos precursoras numa época super machista. Éramos mulheres, mas além de mulheres, éramos crianças. Eu tinha 10 anos de idade. A única coisa que posso dizer é que não era necessário passar por tudo o que passamos. Nenhum tipo de assédio moral é necessário. Escutar que era necessário me incomoda. Não tínhamos informações e não vivíamos em uma sociedade que abordasse essas questões. Isso está muito contextualizado no nosso documentário. Era uma época em que as pessoas pensavam daquela forma, mas dizer que era necessário, nunca foi e nunca será. É bom reforçar isso para que nunca mais aconteça. Para evoluirmos como sociedade, temos que nos debruçar sobre o que se passou. Não quero ficar contando casinhos para não ficar frágil.

Vanessa Melo e Diane Dantas foram as únicas ex-Paquitas que escolheram não participar do projeto. Já Andréa Sorvetão, cuja participação era uma dúvida, gravou seu depoimento. Tatiana reforça que nunca houve nenhum desentendimento entre as ausentes e o restante do grupo:

— É um presente estar todo mundo reunido. Entendo Vanessa e Diane. Elas não querem participar, mas não há nenhum problema por trás disso. É uma escolha porque têm uma vida mais reclusa, foram para outros caminhos. Elas acham que hoje em dia não cabe essa coisa pública. É um jeito de se posicionar, mas temos um vínculo muito forte, um amor pelo que vivemos. Isso é inabalável, nada destrói.

Trabalhando com Xuxa há tanto tempo, Tatiana conta que começou a se aproximar mais da apresentadora durante a pandemia:

— As pessoas acham que, como Paquitas, éramos muito amigas da Xuxa. Eu sou muito mais amiga dela hoje, porque a Xuxa sempre teve pessoas muito centralizadoras ao seu lado. Algumas, não foi uma só. Todo mundo que ficava perto dela era muito centralizador. Tínhamos um pouco de medo de chegar perto. Meu objetivo era ficar aqui, e foi difícil. Passei por várias gestões, muitas pessoas. Foi na pandemia que, de fato, a Xuxa resolveu não ter mais ninguém, não ter mais um empresário, cuidar mais da vida dela. E aí foi muito legal, porque ali descobri minha amiga. Descobri a amiga próxima que tenho hoje. Ela ficou mais acessível. Não havia mais ninguém no caminho, tudo passou a ser direto com ela, e eu desmistifiquei tanta coisa na minha cabeça. Sinto muito por não ter tido esse encontro com ela mais cedo, mas também sei que não era possível, porque ela dava esse poder a essas pessoas. Por isso, a frase que ela mais fala hoje em dia é que o maior erro dela foi ter acreditado muito nas pessoas. Da pandemia para cá, está sendo muito ressignificante, e temos feito coisas maravilhosas.

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