Tragédia com Gerson Brenner completa 25 anos: Estava no auge da carreira; é justo isso?, diz esposa

17/08/2023 10h05

Fonte gshow

Sentada em uma poltrona da sala de estar da casa onde mora na Zona Sul de São Paulo, a psicóloga Marta Mendonça recebe com exclusividade o gshow e repassa as mais de duas décadas vividas ao lado do marido, o ator Gerson Brenner, de 63 anos, cercada por fotos do passado com um dos principais galãs de novela da década de 1990.

Há exatos 25 anos, no dia 17 de agosto de 1998, Brenner viajava de São Paulo ao Rio de Janeiro para gravar o último capítulo da novela Corpo Dourado, da TV Globo. Jorginho, seu personagem na trama, fazia par romântico com a atriz Danielle Winits. Às 4h da manhã, a viagem foi interrompida. Na estrada, Gerson foi vítima de uma emboscada criminosa.

O ator foi encontrado caído ao lado do carro pela Polícia Rodoviária Estadual. Os policiais constataram pedras na pista próximo ao local onde estava o veículo dele. Os dois pneus do lado esquerdo do automóvel estavam estourados. Um deles chegou a ser trocado - na ocasião, foi verificado que Gerson tinha graxa nas mãos.

O intuito dos bandidos era obrigar motoristas encostarem o carro para assaltar. Não se sabe ao certo se o ator reagiu à abordagem, no entanto, Brenner levou um tiro na cabeça, perdeu massa encefálica e acabou sendo levado primeiramente para a Santa Casa de Misericórdia de Jacareí (SP).

Depois, foi transferido para o Hospital Albert Einstein, na capital paulista, onde ficou na UTI (Unidade de Tratamento Intensivo) em coma por 16 dias. Dinheiro e objetos de valores que estavam no interior do veículo de Gerson não foram levados pelos bandidos. Hoje, 25 anos depois, o ator ainda luta para se movimentar, falar e se alimentar.

"Acham que anulei minha vida"

Marta fez parte da equipe de profissionais que cuidava da reabilitação de Gerson. Como especialista, ela contribuía para o bem-estar psicológico e emocional do ator após a tragédia. Com o passar do tempo, ao sentir que Brenner já havia virado seu maior confidente, a psicóloga logo tratou de colocar um ponto final no trabalho que vinha fazendo.

“Quando percebi que alguma coisa podia acontecer, passei o caso para outro profissional”, relembra. “As pessoas sempre me perguntam se eu era fã dele. Eu não era fã dele. Pouco assistia televisão por causa do meu trabalho”, acrescenta.

Naquela época, Gerson ainda se comunicava, pois a parte cognitiva não chegou a ser afetada no assalto. “Ele me falou que queria reconstruir a vida dele. Então eu disse: Vamos lá. Um amigo dele dizia que éramos almas gêmeas (risos). Acho que foi aquela coisa de olhar, sabe? E eu já sabia tudo o que iria enfrentar: preconceito social, familiar, profissional", diz.

"Meu irmão não fala comigo até hoje. No início, foi tudo muito difícil. Mas costumo dizer que foi um encontro realizado por Deus. Isso que as pessoas não entendem. Elas acham que anulei a minha vida, e não foi isso”, completa a psicóloga.

E Marta prossegue imaginando o que costuma passar na cabeça das pessoas. “Como é que você tem isso com deficiente? O amor é você querer ficar junto, é você tentar fazer o melhor possível, adivinhar o que ele está sentindo, saber o que ele está precisando. É você não querer que ele sofra. Isso é amor. Se você me perguntar se eu faria tudo de novo, eu faria tudo de novo”, fala.

Doze convulsões consecutivas

Ao longo desses 25 anos, Gerson Brenner passou pelos mais diversos e sofisticados tratamentos de reabilitação. O lado direito do corpo foi todo prejudicado. “Isso é uma coisa irreversível”, conta Marta. Já as habilidades cognitivas que abrangem a memória, atenção e a percepção auditiva foram preservadas. “Ele compreende tudo o que você fala”. Para a psicóloga, o mais difícil para o ator foi perder a deglutição.

Até dez anos atrás, Brenner ainda conseguia mastigar, contudo, por causa de um quadro sério de pneumonia, o artista acabou tendo uma série de 12 convulsões consecutivas, que o fez regredir de forma significativa. Hoje, o ator se alimenta com a ajuda de uma sonda colocada no estômago. A mesma fica acessível por meio da pele do abdômen. São seis refeições ao longo do dia, incluindo a madrugada.

“Ele adorava sair para comer, amava um churrasco, uma xícara de café. Tanto é que eu não faço café desde a época que colocamos a gastrostomia nele. Não faço que é para ele não sentir o cheiro”, conta Marta, demonstrando um dos cuidados que têm o marido.

Pandemia

Em março de 2020, quando a Covid-19 foi caracterizada pela OMS (Organização Mundial da Saúde) como uma pandemia, a atenção da psicóloga sobre Brenner foi redobrada.

“O entra e sai de amigos e familiares que tínhamos em casa acabou, não deixei. Fui supercriticada por isso. As pessoas diziam que era egoísmo meu. Os únicos que entravam eram os cuidadores e enfermeiros, e mesmo assim, um dos banheiros de casa se transformou em vestiário. Eles ainda chegam, trocam de roupa, trocam o sapato e se higienizam. Fui muito chata mesmo e não me arrependo disso porque Gé (como ela carinhosamente costuma chamar o marido) não pegou Covid-19. E eu dou graças a Deus”, conta.

O adeus a Aracy Balabanian

Na semana passada, a psicóloga ficou encarregada de contar a Gerson sobre a morte da atriz Aracy Balabanian. Os dois trabalharam juntos em Rainha da Sucata (1990) e em Deus Nos Acuda (1992). Em ambas, Aracy e Brenner foram mãe e filho. Ela, interpretando a impagável Dona Armênia e, ele, como um de suas “filhinhas”, ao lado dos atores Marcello Novaes e Jandir Ferrari, seus irmãos nas histórias escritas por Silvio de Abreu.

“Ele fechou os olhos e ficou calado. Deixo a televisão ligada, não escondo absolutamente nada dele. Só tive o cuidado de falar. Eu vinha já dizendo para ele que ela não estava muito bem, e acho que ele estava esperando também”, diz. “Ela era uma gracinha, dava bom dia para nós todos os dias. Todo dia no WhatsApp tinha um bom dia dela”, lamenta Marta.

Justiça com os criminosos

Em 2017, Luzimar Sabino dos Santos, um dos três homens acusados pelo crime ocorrido em agosto de 1998, havia deixado a cadeia após cumprir pena de quase 20 anos pela tentativa de latrocínio (assalto seguido de morte) contra Brenner. No ano seguinte, o bandido foi preso novamente por cometer um segundo crime. Desta vez, homicídio e acusação de estupro.

Questionada se houve Justiça sobre o marido, Marta responde de modo firme:

“Sou muito católica, acho que o único que pode fazer Justiça é Deus. Lembro da história dele ser solto, e aí depois ele aprontou e foi preso de novo. Acho que a injustiça está aí. De repente uma pessoa dessa ser solta? Ser solta de novo e acabar com uma outra pessoa, acabar com uma outra família? Justiça é só Deus quem faz mesmo. Causa um inconformismo. Gerson estava no auge da carreira dele. E tudo isso foi cortado. É justo isso?”, pondera.

Modelo, garoto-propaganda e galã de novela

Antes de ganhar fama como galã de novela, Gerson passou pelo teatro e foi modelo. Participou de diversos desfiles e ensaios fotográficos no Brasil e no exterior. Chegou a desfilar para o estilista francês Jean Paul Gaultier.

Na telinha, virou garoto-propaganda da margarina Alpina estrelando diversas peças publicitárias do produto. Na Globo, além das novelas já citadas acima, o ator integrou o elenco de Top Model (1989), Lua Cheia de Amor (1990), Olho no Olho (1993) e Vira Lata (1996).

As mulheres da vida de Gerson Brenner

Gerson Brenner é pai de Anna Haas, fruto de seu primeiro casamento com a modelo Ana Cristina Haas. O ator também é pai de Vitória, de sua relação com a bailarina Denize Taccto, que estava grávida de oito meses da filha do casal quando o crime aconteceu.

Sem qualquer julgamento, Marta comenta como é hoje a relação das ex-mulheres com o ator. “Não existe, não tem. Acho que foi um ciclo da vida delas que passou. Ele hoje está em um ciclo diferente, e elas também devem estar vivendo outros momentos. Acho que isso faz parte da vida. Todos nós temos perdas durante nossa caminhada”.

A psicóloga encerra a entrevista contando quais ensinamentos ganhou vivendo ao lado de Gerson Brenner em 23 anos.

“Garra. E ele tem isso. Quando você acha que ele está desanimando, não sei de onde vem, entende? Falo que ele é um guerreiro. A cada internação, quando penso que ele não vai aguentar, ele se supera. Ele luta e sai vencendo”, conclui Marta Mendonça.