56 anos do golpe: livro traz cartas para Jango guardadas por 40 anos
31/03/2020 09h26Fonte Cidade Verde
Imagem: ReproduçãoClique para ampliarLivro de Juremir Machado resgata cartas para João Goulart e revela o funcionamento da política brasileira
De 1964 até sua morte, em 2003, Wamba Guimarães guardou um valioso tesouro. Foram quatro décadas de segredo e cuidado. Isso porque quando o golpe de 31 de março – que hoje completa 56 anos – tomou conta do poder em Brasília, Wamba era oficial de gabinete da Presidência da República. Três dias depois da quartelada ele deixaria a capital federal carregando duas malas. Dentro, quase mil itens da correspondência do presidente João Goulart. Eram cartas, cartões, convites, relatórios, telegramas. Esse material precioso acaba de dar forma ao livro A Memória e o Guardião, de Juremir Machado.Mas não é só um livro de correspondência. Não. Vai muito além, como tradução de um momento da vida nacional e revelação do modo de fazer política bem próprio do país, que mescla personalismo, clientelismo e oportunismo em um mesmo caldeirão. O livro ganha forma a partir dois 917 itens que Wanba Guimarães carregou nas duas malas, por tanto tempo guardadas no interior de São Paulo. Juremir Machado teve acesso aos documentos através do neto de Wamba, anos depois da morte do homem que vem a ser o Guardião do título do livro.
O texto é um tratado de cultura política brasileira. Mostra o clientelismo, na troca de favores por apoios políticos. Aí, tem até carga de Juscelino Kubitschek e de Magalhães Pinto agradecendo pelo atendimento a pedidos pessoais de aliados. Há os pedidos de anônimos, que desejam conhecer o presidente; ou apelos como o de uma garota de 14 anos que sonha com uma cirurgia para correção dos lábios. Tudo tradutor de uma relação política onde o ocupante do cargo de presidente é visto como o poder personificado e senhor pleno das ações que deveriam ser institucionais.
Ainda como tradutor da mistura entre o público e o privado, o livro traz carta de Janet Leigh, atriz de Hollywood que estrelou Psicose (de Alfred Hitchcock). Na correspondência – em papel timbrado do Copacabana Palace – ela agradece o avião (oficial) que Jango emprestara para o deslocamento da estrela. Há muito mais, e muitas revelações de importância histórica: a correspondência vai, entre trapaças e traições, dando pistas da construção do golpe que acabaria por tirar João Goulart do Planalto.
Ficha técnica
A MEMÓRIA E O GUARDIÃO
Em comunicação com o presidente da República: Relação, influência, reciprocidade e conspiração no governo João Goulart
Autor: Juremir Machado
Páginas: 364
Preço: R$59,90
Editora: Civilização Brasileira
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