7 ensinamentos de "Jojo Rabbit" sobre o nazismo
06/02/2020 10h00Fonte Revista Galileu
Imagem: Reprodução/metroNo filme Jojo Rabbit, que estreia dia 6 de fevereiro nos cinemas, o protagonista tem Hitler como seu melhor amigo
Jojo Rabbit, filme dirigido por Taika Waititi, é uma comédia dramática que conta a história de um menino alemão que tem Hitler como amigo imaginário e deseja fazer parte da juventude hitlerista, no contexto da Segunda Guerra Mundial. Tudo vai bem até que um dia ele encontra uma garota judia no porão de sua casa.
Com estreia nos cinemas brasileiros marcada para esta quinta-feira (6), a produção norte-americana foi indicada a seis categorias do Oscar 2020: Melhor Filme, Melhor Atriz Coadjuvante, Melhor Roteiro Adaptado, Melhor Figurino, Melhor Direção de Arte e Melhor Montagem. O longa um elenco de peso: Roman Griffin Davis, Scarlett Johansson, Thomasin McKenzie, Sam Rockwell, Rebel Wilson e Alfie Owen-Allen compõem o corpo de atores.
A seguir, veja os diferentes pontos históricos tratados por Jojo Rabbit sobre a Alemanha nazista. E atenção: há spoilers!
1. Juventude Hitlerista
A principal ferramenta usada pelos nazistas para disseminar seus ideais aos jovens alemães e unificá-los foi a Juventude Hitlerista. Assim como no filme, a organização tinha o objetivo de treinar os jovens para integrarem as forças armadas. Em 1936, a associação aos grupos de jovens nazistas tornou-se compulsória para todos os meninos com idades entre 10 e 17 anos.
"No olhar da historiografia, o comportamento dos jovens é refletido pela educação da época, que sofreu um controle muito forte. Eles passaram a agir com a mentalidade sugerida pelo governo", afirma Adriana Ralejo, coordenadora de história do Sistema Positivo de Ensino.
Até setembro de 1939, mais de 765 mil garotos ocuparam cargos de liderança nessas organizações. "A educação nas escolas eram voltadas para a questão física, aquele que não correspondia ao porte de guerra, era marginalizado", conta Adriana.
2. Demonização de judeus
O racismo e o anti-semitismo foram ingredientes básicos para motivar os alemães que implementaram o genocídio dos judeus na Europa. No filme, a construção demonizada desses grupos como uma ameaça à raça ariana é representada pelo livro criado pelo protagonista. Esse olhar xenofóbico foi espalhado em cartazes, nos livros didáticos e até mesmo em estudos científicos.
Os filmes daquela época retratavam os judeus como seres "sub-humanos" que haviam se infiltrado na sociedade ariana para destruí-la. Alguns, como "O Triunfo da Vontade" (1935), de Leni Riefenstahl, exaltavam Hitler e o movimento nazista. Jornais alemães também publicavam caricaturas para descrever os judeus e destruir sua condição humana.
Para a historiadora, mais do que o aspecto físico, cultural e religioso, as motivações desse ódio eram econômicas. "A comunidade judia na Alemanha era mais fechada. Assim, o dinheiro não circulava e isso era visto como algo errado pelo país. Porém, como isso não era suficiente para mover a população, os nazistas precisaram criar outros aspectos para atingi-la", declara.
3. Queima de livros
No dia 10 de maio de 1933, foram queimadas em praça pública, em várias cidades da Alemanha, as obras de escritores inconvenientes ao regime. Os livros, de autores alemães ou estrangeiros, eram recolhidos pelo governo com a proposta de uma "limpeza" da literatura.
Com isso, o mestre da propaganda – Joseph Goebbels – pretendia destruir todos os fundamentos intelectuais. Stefan Zweig, Thomas Mann, Sigmund Freud, Erich Kästner, Erich Maria Remarque e Ricarda Huch foram alguns dos nomes perseguidos na época.
No longa-metragem, Taika Waititi propõe um contraponto a essa ideia ao exaltar exemplos da cultura judaica. Um exemplo é o gosto de Elsa, a garota judia que se esconde na casa de Jojo, pelo poeta judeu de origem austríaca Rainer Marie Rilke. No final do filme, aparece um trecho do poema Go to the Limits of Your Longing (Vá para os limites do seu desejo, em tradução livre), escrito por Rilke.
4. Resistência alemã
Era possível se opor ao sistema nazista no centro dessa sociedade? Segundo Adriana, sim. Existiram resistências, e o filme retrata algumas delas dentro da própria Alemanha. “Alguns alemães se mostraram humanos frente à violência simbólica e física contra os judeus, como é o caso da própria mãe de Jojo”, afirma.
A professora lembra, ainda, que esse fato remete a episódios explorados dentro do ensino de história, como o caso de Anne Frank. “Contudo, cabe ressaltar que a resistência não é somente vista em sua beleza, mas também são apresentadas as consequências a quem se colocava contra esse sistema, como os enforcamentos em praça pública”, salienta.
Em Munique, em 1942, estudantes universitários que faziam parte dessa corrente, criaram um grupo de resistência chamado “Rosa Branca”. Porém, em 1943, seus líderes foram presos e executados por distribuírem panfletos antinazistas.
5. Figura feminina
Na Alemanha nazista, o papel da mulher foi diversificado. Elas atuaram nos bastidores e também nas frentes de combate. Também prestavam socorros, foram operárias nas fábricas de armamentos e eram donas de casa. Entretanto, apesar de participarem ativamente na sociedade, em 1930 elas ainda não tinham direito ao voto.
No filme, a figura feminina é inicialmente retratada pelo olhar patriarcal, com suas funções sociais reduzidas à criação de garotos para serem soldados. Em Jojo Rabbit, porém, a personagem Rosie — interpretada por Scarlett Johansson — apresenta o empoderamento feminino ao tomar frente da gestão familiar e personificar a resistência à sociedade nazista.
6. Carisma de Hitler
Uma das características do regime totalitarista era a aproximação entre seu líder e o público. "A Alemanha estava devastada pela Primeira Guerra Mundial e as pessoas estavam vulneráveis. Diante disso, Hitler passava uma imagem de confiança para a população", relata Adriana.
Hitler foi o arquétipo do líder carismático. Quase que de maneira religiosa, ele oferecia a salvação para os alemães. "As pessoas tinham fotos dele em casa, como se fosse um membro da família", conta a historiadora.
7. Paralelo com os dias atuais
"A produção parte da demanda do presente. Os produtores viram algo na sociedade atual que incomoda. Assim, buscaram um exemplo do passado para mostrar o que aconteceu e servir como aprendizado", afirma Adriana.
No contexto moderno, ainda há casos de xenofobia, adoração de líderes políticos, de supremacia das forças armadas e de preconceitos. Ainda em 2019, uma pesquisa de antropologia social da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) investigou 334 grupos de inspiração nazista em atividade no Brasil.
Mas os horrores inspirados na época de Hitler, ainda bem, são pribidos por lei. No Brasil, a xenofobia é um crime tipificado na lei 9.459, de 1997. Seu primeiro artigo diz: serão punidos, na forma desta lei, os crimes resultantes de discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional. Já a intolerância, seja qual for, por princípio jurídico universal, fere o artigo 7º da Declaração Universal dos Direitos Humanos, o qual afirma que todos são iguais perante a lei.
E que bom que, além da legislação, podemos contar também com produções como Jojo Rabbit, que nos lembra, ainda que de forma leve, que não há espaço para retrocessos históricos.
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