Alcione recorda álbum que a projetou em 1975 como a voz do samba
28/02/2021 21h13Fonte G1 Cultura
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Embora a maranhense Alcione Dias Nazareth estivesse desde 1968 no Rio de Janeiro (RJ), cidade onde cantou na noite e debutou no mercado fonográfico com single editado em 1972 pela gravadora Philips, a Marrom – como a artista ficaria conhecida – somente ganharia projeção nacional em 1975.O sucesso veio com o álbum no qual a cantora foi apresentada, já no título do LP, como A voz do samba. Editado pela mesma Philips e impulsionado pelo sucesso radiofônico dos sambas Não deixe o samba morrer (Edson Conceição e Aloísio Silva, 1975) e O surdo (Totonho e Paulinho Rezende, 1975), o álbum de estreia de Alcione é tema do quarto episódio da série Muito prazer, meu primeiro disco, disponível desde as 20h de sábado, 27 de fevereiro, no canal do Sesc Pinheiros no YouTube.
Alcione contextualiza a gravação do LP de 1975 em conversa com os jornalistas Lucas Nobile e Adriana Couto. Nobile é o idealizador da série, cuja curadoria dividia com Zuza Homem de Mello (1933 – 2020) até a morte do escritor e pesquisador musical no ano passado.
Com título inspirado no samba A voz do morro (Zé Kétti, 1955), gravado por Alcione no LP, o álbum de 1975 é o tema do primeiro episódio da série Muito prazer, meu primeiro disco neste ano de 2021 (os três episódios anteriores – com Gilberto Gil, Chico Buarque e João Bosco – continuam disponíveis no mesmo canal de vídeo).
No papo com Adriana e Nobile, Alcione rememora a formação musical na cidade natal de São Luís (MA) e sustenta que, ao gravar o primeiro LP, discutiu sem pressão o repertório do disco com o produtor musical Roberto Santana e com Roberto Menescal, diretor artístico da Philips.
Com ou sem liberdade, o conceito e o repertório do álbum A voz do samba foram arquitetados por Menescal por conta da explosão de Clara Nunes (1942 – 1983), no ano anterior, com o álbum Alvorecer (1974). O estouro de Clara na gravadora Odeon motivou as outras companhias fonográficas a investirem em cantoras de samba.
O que o quarto episódio da série omite, pelo provável desconhecimento dos jornalistas a respeito de obscura história dos bastidores da indústria fonográfica, é que a Philips tentou tirar Clara Nunes da Odeon em 1975.
Como Clara recusou a oferta e permaneceu na Odeon, gravadora da qual jamais sairia, a Philips então decidiu investir em Alcione para transformá-la na “voz do samba”, ainda que, nos tempos em que cantava em boates cariocas, a artista tivesse posto a voz grave e volumosa, da tessitura dos contraltos, a serviço de repertório pautado pela diversidade rítmica.
A estratégia de marketing surtiu efeito no mercado. Alcione estourou, construiu carreira de sucesso e se tornou amiga de Clara Nunes, jamais alimentando rivalidade que era somente das gravadoras. E o fato é a que caminhada de Alcione para o sucesso ganhou impulso com o álbum A voz do samba, fruto da competição entre as companhias fonográficas.