Ana Cláudia Lomelino estende o cordão umbilical em segundo álbum sobre a maternidade

04/07/2021 14h06


Fonte G1


Na expressiva foto de Ana Alexandrino exposta na capa do álbum Mãeana 2, Ana Cláudia Lomelino parece o sol que irradia luz e calor ao redor dos filhos, Dom Lomelino Gil e Sereno Lomelino Gil, frutos da união da artista baiana com o compositor e músico Bem Gil.

A capa de Mãeana 2 traduz o conceito desse disco que gravita em torno da maternidade e da feminilidade, estendendo cordão umbilical que começou a ser puxado quando a vocalista do grupo carioca Tono assumiu a persona artística de Mãeana e iniciou carreira solo com álbum editado em 2015 com músicas inéditas de Adriana Calcanhotto e Caetano Veloso, entre outros nomes.

Com menos pompa e alarde, o álbum Mãeana 2 aterrissou nos players digitais na sexta-feira, 2 de julho, com 14 composições inéditas gravadas com produção musical de Bem Gil. O disco soa coeso e superior ao álbum matricial de 2015.

Traço da identidade artística de Mãeana, o canto cool de Lomelino está em sintonia com o convite de Vida interior (João Bernardo, Emerson Leal, Ana Clara Horta e Gabriel Pondé), música cujo refrão parece querer ir atrás do trio elétrico, contrariando a proposta zen da letra.

Introduzido pelos tambores percutidos por Bem Gil e Domenico Lancelloti em Quando Oxum dá (Amora Pêra), música que abre Mãeana 2, o disco inicia com mergulho nas águas doces do orixá Oxum, em conexão com o medley que abria o show inspirado pelo álbum anterior Mãeana (2015) e eternizado no DVD Mãeana no MAM (2016).

Música composta por Rafael Rocha (integrante do Tono) em tributo a Dom, um dos dois filhos de Lomelino, Tudo Dom parece estar à beira-mar, como se o toque da guitarra de Domenico Lancellotti fosse desaguar a qualquer momento no surf rock.

Já Sê rei (Luana Carvalho) é samba em homenagem ao outro rebento da artista, Sereno, cuja fala encerra a faixa (os dois filhos participam de Tudo Dom). Embasada pela marcação da bateria e da percussão de Thomas Harres, mas pontuada pelo toque nordestino da sanfona de Mestrinho, Pra mainha (Mateus Torreão) reforça o conceito maternal do álbum.

Canção de alma feminina, levada ao violão de Bem Gil, com a percussão de Domenico Lancellotti, Se tudo é relativo (Ana Cláudia Lomelino e Ruben Jacobina) versa sobre o universo da maternidade.

Na sequência, Abseduzida é música de Letícia Novaes – a cantora e compositora carioca conhecida como Letrux – conduz Mãeana 2 para clima mais espacial, reforçado pela fala da autora na faixa. Contudo, os sopros do trompete de Diogo Gomes e do sax barítono de Thiago Queiroz bafejam o suingue que trazem Abseduzida para a Terra.

Música menos inspirada no conjunto da obra, Menina neon (Bruno Capinan) também entra no clima. A marcha Do véu – mais uma prova da inspiração da dupla de compositores Alberto Continentino e Domenico Lancellotti – também procura arrancar a venda terrena para vislumbrar no universo o que há além do que o Homem convencionou chamar de vida.

A presença recorrente de mulheres no time de compositores do repertório de Mãeeana 2 – Cecília Kushnir (arquiteta de Morada, obra sustentada pela bateria e percussão de Pedro Fonte), Giulia Drummond (autora da marota Piscadela) e Luz Marina (criadora de Eleoela), além das já mencionadas Amora Pêra, Letícia Novaes e Luana Carvalho) – contribui para que, com maior ou menor inspiração, a feminilidade jorre farta ao longo das 14 faixas como leite no peito materno.

Embora destoe do conceito central da maternidade que pauta o disco, a melancolia solitária da Canção de ontem (Domenico Lancellotti) – cuja letra versa sobre “coração sem calor” – se afina com o canto cool de Lomelino.

No fim da viagem ao redor da luz da maternidade, a voz ancestral de Mateus Aleluia se harmoniza com o canto suave de Ana Cláudia Lomelino em Reverso universo (Mãe Ana II) (João Bernardo e Ruben Jacobina) em gravação que ecoa milenares forças vitais que habitam a natureza.

A faixa sintetiza o universo particular que gerou Mãeana 2, álbum que estica o cordão umbilical que mantém Ana Cláudia Lomelino ligada à sensibilidade intrinsecamente feminina da maternidade, mote da discografia solo da artista.