Aos 75 anos, o baiano Paulinho Boca de Cantor se renova em álbum autoral com músicas inéditas

20/08/2021 16h19


Fonte G1

Imagem: DivulgaçãoPaulinho Boca de Cantor(Imagem:Divulgação)Paulinho Boca de Cantor

É natural ouvir qualquer disco de Paulinho Boca de Cantor com a esperança de se deparar com som novo baiano que remeta às gravações originais de músicas como Swing de Campo Grande (Moraes Moreira, Paulinho Boca de Cantor e Luiz Galvão, 1972) e Mistério do planeta (Moraes Moreira e Luiz Galvão, 1972), standards do antológico álbum Acabou chorare (1972) eternizados na voz do cantor na obra-prima da discografia do grupo Novos Baianos.

Aos 75 anos, completados em 28 de junho, o baiano Paulo Roberto Figueiredo de Oliveira tem no passado a glória de ter integrado a jovial banda que marcou época na década de 1970, mas procura (e consegue) soar novo em Além da boca, álbum autoral com (onze) músicas inéditas que o artista lança nesta sexta-feira, 20 de agosto, em edição da gravadora Deck.

A recusa em ir atrás de trios elétricos já passados levou o cantor a se conectar com artistas de outras gerações no disco gravado com (primorosa) produção musical de Betão Aguiar, filho de Paulinho.

Por mais que haja eventuais tentativas de evocar a sonoridade histórica do grupo Novos Baianos, no ijexá Fé e festa (Paulinho Boca de Cantor e Jorge Alfredo) e sobretudo no aliciante samba O jogo é 90 minutos (Paulinho Boca de Cantor e Luiz Galvão), posto em campo com o cavaquinho de Jorge Gomes e o baixo (e o violão) de Didi Gomes, o cantor vai de fato além no álbum.

A conexão com músicos da atual cena indie paulistana – como os bateristas Curumin, Pupillo e Thomas Harres – contribui para a renovação pretendida por Paulinho Boca de Cantor. A sonoridade geralmente vibrante do disco valoriza o inédito repertório autoral.

Na abertura do álbum, Eu vou deixar essa canção no ar (Paulinho Boca de Cantor, Anelis Assumpção e Betão Aguiar) se equilibra entre o xote e o reggae. O toque do acordeom de Marcelo Jeneci tende para o ritmo nordestino, mas a entrada de Anelis Assumpção, para recitar versos, aponta para a levada jamaicana.

Um verso de amor, um universo de amor (Paulinho Boca de Cantor) transita pelo mundo do brega, na cadência do bolero, com os toques do piano e da percussão do músico cubano Pepe Cisneros e com luxuosa trama de violões de Manoel Cordeiro, autor do arranjo da faixa.

Em latitude próxima, Essa Patrícia (Paulinho Boca de Cantor e Luiz Galvão) faz o coração do poeta bater no compasso da latinidade das Américas, com o tempero da salsa, enquanto a balada Além do céu, das estrelas (Jair Luz e Paulinho Boca de Cantor) recorre ao lirismo popular para acentuar o romantismo de momento menos luminoso do álbum Além da boca.

Entre uma faixa e outra, há o samba Ah, Eugênio (Zeca Baleiro, Zélia Duncan e Paulinho Boca de Cantor), em que, ao lado do parceiro Zeca Baleiro, o cantor destila humor que remete à lira paulistana do grupo Premeditando o Breque, ícone da vanguarda de Sampa nos anos 1980. Aliás, há muito da sonoridade paulistana dos dias de hoje na baianidade do samba O céu da Bahia na boca do cantor, (Paulinho Boca de Cantor).

A gravação de Ligeiro demais (Paulinho Boca de Cantor) também se equilibra com certo peso na ponte Bahia-São Paulo, entre o samba e rock, por conta da bateria de Biel Basile e da guitarra de Tim Bernardes, que divide com Paulinho Boca de Cantor a interpretação da música, também gravada com o violão de Gustavo Ruiz.

Faixa que cita incidentalmente a música O amor, única saída (Chagas Nobre e Paulinho Boca de Cantor), a sonhadora Que nada (Paulinho Boca de Cantor) cai no suingue do norte do Brasil, levada pela guitarra(da) de Manoel Cordeiro. Esse suingue tropical também dita o ritmo caliente de Se você deixar, nada me segura (Chagas Nobre e Paulinho Boca de Cantor).

Enfim, o jogo até pode ter 90 minutos, mas bastam os 44 minutos de Além da boca para Paulinho ganhar o ouvinte com álbum que se impõe como o melhor título da discografia solo desse baiano que ainda se renova.

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