Arrigo Barnabé dá o céu a quem aprecia subversões das canções de Roberto Carlos e Erasmo Carlos
09/05/2019 11h14Fonte G1
Imagem: Mauro Ferreira / G1Clique para ampliar
"Sou uma pessoa normal", gracejou Arrigo Barnabé no palco do clube carioca Manouche, justificando o gosto pelas canções de Roberto Carlos e Erasmo Carlos, mote do show Quero que vá tudo pro inferno.
Um dos expoentes da Vanguarda Paulista, movimento que apontou caminhos para a música brasileira na primeira metade da década de 1980, o paranaense Arrigo nunca seguiu a trilha da normalidade como artista.
O antenado público que foi conferir a estreia do show Quero que vá tudo pro inferno na cidade do Rio de Janeiro (RJ) na noite de ontem, 8 de maio de 2019, sabia que ouviria abordagem inusitada da obra de Roberto e Erasmo.
Atiçando a memória afetiva do adolescente que comprou o álbum Jovem Guarda (1965) na época do lançamento, na cidade natal de Londrina (PR), Arrigo satisfez esse público sem desconstruir a arquitetura melódica das canções dos compositores.
Com exceção de Eu te darei o céu (1966), joia pop romântica que perdeu quilates na leitura de Arrigo, as demais músicas tiveram preservadas a essência melódica em maior ou menor grau, mesmo ganhando o sabor do veneno desse intérprete nada convencional.
Muito bem acompanhado pelo pianista Paulo Braga e pelo violonista Sérgio Espíndola, Arrigo deu tratamento por vezes irônico ao repertório, com teatralidade evidenciada na máscara facial do cantor e na ênfase em determinados versos que, repetidos com outra entonação, deixaram aflorar sentimentos ocultos nas músicas – como, por exemplo, o desespero sugerido por Arrigo na canção bluesy Sua estupidez (1969) com a repetição do verso "Você tem que acreditar em mim".
Arrigo cantou Roberto e Erasmo com inquietude, já sem o traço vanguardista do álbum que o apresentou ao universo pop brasileiro, Clara Crocodilo (1980), disco emblemático por ter embalado neuroses urbanas com elementos de música atonal, dodecafonismo e falas coloquiais que se movimentavam na contramão da impostação do canto mais formal.
Em outro contexto musical, essas falas reverberaram no show Quero que vá tudo pro inferno, acentuando gracejos e outras intenções do cantor ao dar voz a Roberto e a Erasmo. Arrigo recitou os versos de 120...150...200 Km por hora (1970), como Roberto fez na gravação original, mas houve na fala do paranaense sugestões de emoções ausentes no registro do Rei.
Quando efetivamente cantou o repertório dos compositores, Arrigo geralmente alternou tons doces e guturais, como na acariciante canção Gatinha manhosa (1965), desgastando o recurso ao longo da apresentação.
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