Camila Pitanga: estrela de "Aruanas", ela pretende rever padrões em "Superbonita"
04/07/2019 10h52Fonte Revista Marie Claire
Imagem: Bruna Castanheira (GROUPART)Clique para ampliarCamila Pitanga segura foto em que aparece com a mãe, Vera Manhães.
Após três anos longe dos holofotes, Camila Pitanga, estrela da capa de Marie Claire de julho, volta em três novos projetos. A partir desta quarta (3 de julho), estará em cartaz no Centro Cultural Banco do Brasil, no Rio, com a peça Por Que Não Vivemos?.
Ao mesmo tempo, estreia em Aruanas, série da Globoplay – cujo primeiro episódio será exibido também nesta terça (dia 3), na TV aberta –, na qual interpreta Olga, uma advogada do agronegócio que antagoniza com um grupo de ativistas em defesa da Amazônia, formado pelas atrizes Taís Araujo, Leandra Leal e Débora Falabella. Em agosto, assume a apresentação da nova temporada do programa Superbonita, no GNT, com a missão de repensar padrões de beleza e de comportamento.
Em entrevista exclusiva para edição de julho de Marie Claire, a atriz relembrou com detalhes a tragédia no rio São Francisco, em 2016, quando o ator Domingos Montagner se afogou; falou sobre o retorno à TV e o relacionamento com sua mãe, a atriz e bailarina Vera Manhães.
Retorno à televisão
“Minha volta ao trabalho, no ano passado, também foi tocante. O início das gravações coincidiu com o dia seguinte ao segundo turno das eleições, então o set de filmagem estava com a bola bem baixa. Só que a minha personagem, a Olga, fura isso. Foi um esforço imenso como atriz ter a tenacidade e a força suficientes para ela se impor àquela energia à minha volta. Além disso, num mesmo dia eu tinha de gravar a apresentação da Olga, uma cena lá do oitavo episódio e outra do meio da trama. É aí que você, como atriz, tem de evocar os deuses, Dionísio, tudo o que é fé cênica para não sucumbir. Comecei meio derrapando, parece que você não sabe falar o texto direito, mas terminamos com aquela virada deliciosa e todo mundo empolgado. No fim do dia, o diretor Bruno Safadi e eu conversamos sobre como a luta e o trabalho continuam. Perdemos uma batalha, mas não a guerra.”
Um elenco feminino
Uma das coisa que me fez querer fazer a série é o protagonismo feminino. Além de ter a Estela [Renner] como diretora geral, todos os principais papéis são de mulheres. Minha personagem, a Olga, é uma advogada do agronegócio contratada pelo dono de uma mineradora [Luiz Carlos Vasconcellos]. Ela atua como uma articuladora sem compaixão, uma jogadora sem freio, defensora do capital. Ela não está nem aí para a Amazônia. Nem pisa lá. Por ela, desmataria tudo [risos]. Foi divertido interpretá-la porque ela é o meu oposto. Sou muito passional, daquelas que se arrepia, já a Olga se defende bastante para não demonstrar quem é. Mas não há ninguém que não tenha uma dor, que não tenha seus mistérios. Isso, no entanto, a gente só vai descobrir na segunda temporada [em 2020], quando teremos a chance de entender quem é a mulher por trás dessa aparente isenção e frieza.
Aruanas e o governo
A série é um projeto do Marcos Nisti e da Estela Renner, dois ativistas do meio ambiente, e existe há uns quatro, cinco anos. O tema já era importante na época em que foi gestado, mas, agora, à luz –ou às trevas– do que estamos vivendo, desse governo demolidor do meio ambiente e das políticas institucionais de preservação, de respeito às comunidades indígenas e à natureza, Aruanas criou um novo sentido. O Brasil é um dos países que mais matam ativistas no mundo, principalmente nos conflitos de terra. Por causa do meu envolvimento com [a ONG] Movimento Humanos Direitos, tive contato com muitas pessoas ameaçadas. O desenvolvimento sustentável, que a gente vê como utopia e não como necessidade, conversa com uma série de desrespeitos aos direitos humanos, às comunidades quilombolas, indígenas, às pessoas que vivem num Brasil mais profundo e estão lutando para estarem vivas. Por isso, quando entendi que essa série era uma estratégia de ativismo, falei: Porra, que do caralho isso!. Ao mesmo tempo, Aruanas não é um panfleto. Tem uma história bem contada e interessante, uma narrativa ágil... Não perde para nenhuma dessas séries que a gente vê e gosta.
Retorno aos palcos
Há muito tempo, estou atrás do [diretor de teatro] Marcio Abreu, acompanhando tudo o que ele faz e falando: "Oh Márcio, quando você tiver uma leitura, estamos aí!" [risos]. E acho que, de tanto eu me lançar, o Márcio me convidou para fazer um espetáculo do [russo Anton] Chekhov. É uma adaptação da primeira peça dele, Platonov, que vai se chamar Por Que Não Vivemos?, título que faz referência a uma frase do texto que é: "Por que não vivemos o que poderíamos ter vivido?". Minha personagem, Ana Petrov, é uma viúva que tem grana e um espírito libertário resignado, de conformidade a um status social e, por isso, vive um grande vazio. Ela não vê sentido na vida, porque tem um monte de coisas, mas não vive.
O mito da beleza
“Aceitei apresentar o Superbonita por ser um programa que tem uma história e um público cativo mas, principalmente, porque quem vai dirigir é a Susanna Lira, que já fez documentários sobre gordofobia, por exemplo, e questiona essa ideia de "superbonita". Por enquanto, a temática não tem novidades. O diferencial está em como vamos lidar com pautas como menstruação, menopausa, assumir a naturalidade dos cabelos, entendendo que há questões geracionais, de comportamento. Mais do que falar sobre coisas utilitárias, ensinando, por exemplo, a usar um delineador, queremos repensar padrões. Temos esse desejo de provocar, de falar sobre diferentes modos de ser. Como ainda estou no processo de ensaios e estreia da peça, chamei Milly Lacombe para estar comigo, porque ela me conhece muito bem e tem uma visão de mundo muito parecida com a minha.”
Corpo, mente e idade
Tenho uma dermatologista que é mais conservadora, não instiga a fazer preenchimento, por exemplo. Ela me dá as orientações básicas do dia-a-dia, e confesso que não sou tão disciplinada, mas limpo e tonifico o rosto diariamente e, de tempos em tempos, faço laser. Nunca fiz plástica nem nada mais radical, porque gosto da naturalidade. Os vincos, quando tiverem que aparecer, não pretendo mexer. Respeito total as escolhas de qualquer pessoa, mas, quando vejo a Fernanda Montenegro... Para mim, aquilo é um horizonte de que a máscara do ator é necessária. Também acho que existe uma dimensão política em deixar o tempo aparecer. De resto, sou uma pessoa ativa. A cada temporada da vida, faço um trabalho, uma atividade física. Estava com mais regularidade na ioga e tenho uma nova paixão: minha linda e querida bicicleta. Depois de muitas tentativas, consegui pedalar até a Vista Chinesa [floresta de Tijuca], um percurso pequeno, mas muito íngreme. Foi uma conquista
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