Celso Fonseca amplia obra com Ronaldo Bastos, sem a magia de antes, em EP com seis músicas inéditas
06/12/2020 20h28Fonte G1
Imagem: Reprodução
Apresentada há 35 anos nas vozes de Caetano Veloso e Gal Costa, intérpretes originais da balada pop Sorte (1985), a parceria de Celso Fonseca com Ronaldo Bastos injetou sopro de leveza na música brasileira sem necessariamente ter marcado época ou dividido águas.A obra dos compositores rendeu trilogia de álbuns iniciada com Sorte (1994), continuada com Paradiso (1997) – disco recriado com convidados, após 14 anos, em projeto fonográfico intitulado Liebe paradiso (2011) – e concluída com Juventude / Slow motion bossa nova (2001), álbum que representou pico de modernidade na parceria da dupla, sobretudo por conta do frescor da música-título Slow motion bossa nova, faixa em inglês de alcance global.
Mágica – EP produzido por Leonel Pereda e lançado na sexta-feira, 4 de dezembro, em edição da gravadora Dubas Música – amplia a parceria de Celso e Ronaldo com seis músicas inéditas. Três são sobras de discos anteriores que permaneciam inéditas há décadas. As outras três são novas e exemplificam o contínuo fluxo de criação dos compositores.
Novas ou antigas, as seis músicas se irmanam no tom cool de Mágica, disco que, contrariando o título, soa sem a magia da trilogia. O EP alinha seis sambas ambientados em clima de bossa nova e conduzidos pelo violão de Celso Fonseca, intérprete do repertório.
Fonseca também toca sutil percussão em Dora – samba meio buliçoso em que o cantor parece querer evocar a interpretação de um samba de Dorival Caymmi (1914 – 2008) por João Gilberto (1931 – 2019) – e em Samba do Lyra.
A despeito de nominar no título Carlos Lyra, compositor fundamental da bossa nova, Samba do Lyra tem letra que cita Rita Lee e que alude em verso à gíria do vocabulário da Jovem Guarda – “É a minha brasa, mora?” – em falta de sintonia musical, mas com conexão com a temática do samba que abre o disco, Erasmo, Rita e Roberto, de letra também destoante do universo da bossa.
Por mais que Rita Lee seja a roqueira mais bossa nova do Brasil, a letra de Bastos não se afina com o tom íntimo do samba, e não precisamente por ser alusiva ao universo pop do rock.
Esse clima íntimo é mantido ao longo do EP Mágica em sambas como Prova dos nove e Não enlouquecer, evidenciando a linearidade de disco cujas seis faixas foram gravadas com a mesma temperatura amena.
O canto cool de Celso Fonseca parece celebrar a todo tempo o legado de João neste EP que culmina com a paisagem carioca do samba Do lado ensolarado, flash poético de ausência amorosa que insiste em nublar a natureza da cidade do Rio de Janeiro (RJ), berço da bossa nova que Celso Fonseca e Ronaldo Bastos revisitam em slow motion, sem o frescor e a magia de tempos e discos idos.
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