Clara Nunes é enfocada pela lente do amor maternal da irmã ´dindinha´ em livro de memórias familiare
14/06/2020 08h16Fonte G1
Imagem: Reprodução
Treze anos após a edição da reveladora biografia Clara Nunes – Guerreira da utopia (2007), escrita por Vagner Fernandes sob a ótica da imparcialidade jornalística, surge outro livro sobre a cantora mineira nascida com o nome de Clara Francisca Gonçalves (12 de agosto de 1942 – 2 de abril de 1983).Lançado neste primeiro semestre de 2020, Clara Nunes nas memórias de sua irmã dindinha Mariquita oferece recorte literalmente mais familiar da artista. Trata-se de relato afetuoso de Maria Gonçalves da Silva (29 de janeiro de 1931 – 10 de maio de 2017), a Dona Mariquita, irmã mais velha da cantora que assumiu o papel de mãe na criação de Clara a partir dos quatro anos de idade da menina, órfã de mãe e pai já na infância.
Dindinha – como Dona Mariquita era carinhosamente chamada por Clara – morreu há três anos sem ter visto editado o livro que idealizara em 2006, mas tendo tido tempo de aprovar a organização final do texto assinado com Josemir Nogueira Teixeira.
Estruturado, revisado e formatado por Josemir para o livro viabilizado pelo Instituto Clara Nunes, o relato em primeira pessoa de Dona Mariquita foca Clara pela lente do amor maternal em narrativa estritamente pessoal, construída sem rigores biográficos, sem objetividade jornalística e sem a intenção de soar imparcial.
Com fotos raras do acervo da família, pesquisadas e selecionadas por Marlon de Souza Silva, o livro perpetua o jorro reverente das memórias de Dona Mariquita, imprecisas como, a rigor, são todas as memórias baseadas nas impressões capturadas (e editadas) pela mente humana.
Escrito com moderada fluidez, na primeira pessoa, o texto expõe fragmentos da vida e da família de Clara Nunes. Sem rígida cronologia, a autora conta passagens das vidas dos pais e dos irmãos (não somente de Clara), contextualizando a origem familiar e social da irmã que ganharia projeção na década de 1970 como uma das mais luminosas cantoras da história da música brasileira.
O nascimento de Clara – sétima filha de família numerosa – é assunto do sétimo dos 38 capítulos do livro, mas, antes de entrar nesse assunto, a narrativa já fala de ida do compositor Paulo César Pinheiro à cidade mineira de Cedro (atualmente Caetanópolis), terra natal de Clara, de quem Pinheiro foi marido e produtor de álbuns relevantes da cantora em conexão profissional iniciada com o disco Canto das três raças (1976), um ano após o casamento.
Nesse vaivém do tempo do relato de Dona Mariquita, a narrativa salpica detalhes da vida pré-fama de Clara, como o fato de ela ser “namoradeira” (nas palavras da autora) e como a aflorada vaidade adolescente da mineira louca por roupas, sem atenuar a impressão de que, sobretudo na primeira metade, o texto parece estar mais centrado no cotidiano da família Gonçalves do que na vida em si de Clara.
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