Djonga toca em feridas sociais ao marcar posição e território no álbum "O dono do lugar"
01/11/2022 15h02Fonte G1
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No sexto álbum, O dono do lugar, Djonga continua basicamente afiando rimas que narram histórias da área e da vida desse rapper mineiro que começou a se fazer ouvir há cinco anos com o lançamento do primeiro álbum, Heresia (2017), e desde então vem marcando posição firme no universo do hip hop do Brasil.
Só que, desta vez, um dos alvos da artilharia vocal do artista é a indústria da música, habituada a moer ídolos e ideologias na máquina de fazer sucesso e dinheiro. Não por acaso, Djonga personifica Dom Quixote, na luta contra os moinhos de vento, na expressiva foto estampada na capa do disco lançado em 13 de outubro pelo do artista, A quadrilha.
No caso, os inimigos – não somente a indústria da música ávida do hit viral, mas sobretudo o racismo enraizado na sociedade brasileira – são reais e enquadrados por Djonga no disco sob a perspectiva de um homem preto que ascendeu socialmente sem perder de vista o mundo de onde veio e pelo qual luta em busca de justiça social e racial.
“Ganho como rico / Só que vivo como pobre”, ressalta o rapper em versos de Bode, marcando o mesmo território dos discos anteriores na faixa produzida por Coyote Beatz.
Com 12 músicas calcadas no rap, aditivado com toques eventuais de funk e trap, o álbum O dono do lugar flagra Djonga mais altivo e menos angustiado do que no disco antecessor, Nu (2021), retrato da introspecção do artista em tempos pandêmicos.
E, se os temas se repetem ao longo do disco, é porque os problemas do homem negro e periférico também se repetem no cotidiano.
As três primeiras músicas – Tôbem, Dom Quixote e Contadin, faixas feitas respectivamente com Coyote Beatz, com Rapaz do Dread e com Vulgo FK (e com o mesmo Rapaz do Dread) – põem logo as cartas de Djonga na mesa e se impõem como as mais potentes do álbum pela sincronia entre beats e versos.
À medida em que o disco avança, Djonga apresenta faixas com colaborações com nomes com o rapper Oruam (Do menor), Sarah Guedes (Penumbra) e a dupla Tasha & Tracie (Até sua alma) sem perder a contundência do discurso realista, calcado na vivência do artista.
Já o som, ainda que centrado nos beats de Coyote, passa a incorporar os toques de baixo, guitarra e teclados (a cargo do músico Thiago Braga), dando molde mais orgânico ao disco.
Dentre as letras do álbum O dono do lugar, a que tem causado mais reações é a de Conversa com uma menina branca, em cuja narrativa o rapper expõe a mulher branca como agente da violência dirigida ao homem negro após diálogo em que ambos relatos abusos sofridos na sociedade opressora.
Sem medo de dizer o que pensa, Djonga é um artista que tem mantido a voz levantada na luta contra o racismo dessa sociedade que tenta calar homens negros ao mesmo tempo em que incentiva a masculinidade nociva de homens negros e brancos, assunto dos versos do rap Em quase tudo.
Sob tal prisma, o álbum O dono do lugar pode soar incômodo por tocar mais uma vez em feridas sociais expostas pelo rapper de forma às vezes até repetitiva, mas ainda (muito) necessária no Brasil de 2022.
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