Halloween de Anitta, música de Cazuza, muito rock e pouca roupa: saiba como foi a passagem do Månesk

04/11/2023 22h55


Fonte O Globo

Imagem: DivulgaçãoO grupo italiano Måneskin, em show no Qualistage.(Imagem:Divulgação)O grupo italiano Måneskin, em show no Qualistage.

Nos seus estimados 70 e tantos anos de idade, a carcaça do rock"n"roll até que se apresenta em bom estado. Exercícios de futurologia talvez soassem ridículos se dissessem que, em 2023, o octogenário Mick Jagger estaria lançando um álbum de inéditas com os Rolling Stones. Ou que as pessoas viveriam seus dias na expectativa por uma música nova dos Beatles, produzida com o auxílio da inteligência artificial.

E, por fim, o que dizer de algo como o Måneskin, banda italiana que tocou na noite de quarta-feira no Qualistage (RJ)?

Recentemente, o próprio Jagger deu a letra de que esses garotos, nascidos na virada do milênio, são “a maior banda de rock do mundo”. Diante dos quatro, em rápida entrevista no camarim, antes do show, dá para ter uma ideia do que faz a multidão de adolescentes na frente do palco gritar.

Altamente instagramáveis, o vocalista Damiano David, a baixista Victoria De Angelis, o guitarrista Thomas Raggi e o baterista Ethan Torchio são a mais perfeita tradução do ideal rock para uma geração que cresceu numa era de inimaginável sobrecarga de informação.

Com suas roupas parte brechó, parte Mad Max, cabelos cuidadosamente desgrenhados, alguma maquiagem e uma magreza clássica, os músicos do Måneskin atualizam, com toques de moda italiana, uma iconografia que começa nos Stones, passa pelos New York Dolls e chega aos Strokes. Sua origem (a banda foi formada em 2016) não remonta exatamente a cenas do underground do rock, mas ao reality show X Factor e ao festival Eurovision, uma extravagância pop que em 1974 revelou os suecos do Abba para o mundo.

— Estamos interessados no que gostamos de fazer e, por acaso, isso parece rock — provoca Damiano. — Não estamos realmente focados em trazer de volta um gênero musical ou ser comparado às bandas do passado. Estamos apenas fazendo a música que gostamos e tentando nos desenvolver o máximo que pudermos. Então, ainda não sabemos se seremos rock pelo resto da nossa carreira. Talvez estejamos fazendo música clássica daqui a alguns anos. Hoje, a música pop é muito mais um caldeirão de diversos gêneros.
Imagem: DivulgaçãoO grupo italiano Måneskin, em show no Qualistage.(Imagem:Divulgação)O grupo italiano Måneskin, em show no Qualistage.

Uma das surpresas do Rock in Rio de 2022 (tocando na mesma noite que os ídolos do Guns"N"Roses), o Måneskin antecipou no camarim que iria presentear o público brasileiro com uma releitura acústica, feita por Damiano e Thomas, de “Exagerado” (1985), primeiro hit solo do ex-Barão Vermelho Cazuza (1958-1990). A música, segundo Damiano, foi escolhida com a ajuda de amigos brasileiros. E ele não teve muita dificuldade em cantar, já que “o italiano e o português têm muitas similaridades”.

Mas a grande referência do Måneskin no Brasil é mesmo Anitta. Um dia antes do show, no Rio, os quatro músicos (que chegaram a ter algumas lições de dança do quadradinho do funk) foram à festa de Haloween na casa da cantora e improvisaram fantasias.

Fantasias improvisadas

Damiano foi de Brad Pitt no filme “Clube da luta”, Ethan de Drácula, Thomas de Alex do “Laranja mecânica” e Victoria, em suas palavras, de “cowboy sexy”. Por esses dias, o Brasil inteiro sabe que Damiano é o objeto sexual que Anitta escolheu para estrelar com ela o fervilhante clipe da música “Mil veces” – algo que incendiou a imaginação do povo, mas que o cantor trata como se não fosse nada de mais.

— Ela estava procurando alguém para aparecer no vídeo, nós nos conhecemos e ela achou que eu era bom para o papel. Conversamos, e eu disse que topava. Foi muito divertido, passamos um bom dia gravando — conta ele, aparentemente surpreso com as reações que clipe despertou. — Acho que é muito mais o que as pessoas pensam que há por trás daquilo do que o que de fato há.

Enquanto isso, na plateia do Qualistage, as expectativas do público – predominantemente feminino e adolescente, com muita roupa preta, maquiagem e algumas clonagens do visual do grupo – iam às alturas. “Victoria gostosa!”, gritavam algumas meninas, referindo-se à baixista, que sempre deixou clara a sua ambiguidade sexual. “Vem, Dami!”, também gritavam elas.

E pouco depois das 22h, quando o Måneskin iniciou o primeiro show brasileiro da turnê de “RUSH!” (seu terceiro álbum, lançado este ano), o que se viu foi um convincente show de rock”n”roll (que chega a São Paulo esta sexta-feira).
Imagem: DivulgaçãoA baixista Victoria De Angelis, em show do grupo Måneskin, no Qualistage.(Imagem:Divulgação)A baixista Victoria De Angelis, em show do grupo Måneskin, no Qualistage.

Homem de frente que lembra um jovem Sidney Magal, só que coberto por tatuagens aleatórias, Damiano é o maestro da banda – um power trio coeso – ao longo do ataque inicial feito, sem intervalos, com “Don”t wanna sleep”, “Gossip”, “Zitti e buoni”, “Honey (are U coming?)” e “Supermodel”. São rocks dançantes, com frases de guitarra básicas mas muito eficientes, e refrões esculpidos. A dinâmica do vocalista com Victoria De Angelis e Thomas Raggi é a garantia de alta voltagem para a noite, que foi de muito rock, suor e pouca roupa.

O roteiro do show é fluido e funciona bem, mas alguns momentos se destacam, como “Beggin” (o cover de Frankie Vallie & The Four Seasons com o qual viralizaram no TikTok em 2021) e a pesada “Gasoline”, canção marcada pelo baixo tijolada de Victoria – um primor de simpatia e sensualidade, em suas frequentes incursões pelo meio da plateia.

Escoltados por seguranças, Damiano e Thomas caminharam em certa altura do show para um palco no meio da plateia e fizeram um número acústico com “Vent”anni”e “Exagerado”. Teve gente que chorou só de conseguir tocar no vocalista.

Na volta para o palco principal, o show foi retomado na mesma cadência em que havia sido deixado por lá, com “I wanna be your slave”, “Mammamia” e dois curiosos rap-rocks em italiano: “Lividi sui gomiti” e “In nome del padre”. Mas a apoteose se deu em “Kool kids”, rock cantado por Damiano com sotaque de cantor inglês de pós-punk e uma consentida invasão de meninas da plateia.

É certo que muito do jogo de cena do Måneskin não tem nada de novo e ainda cheira a artificialismo – da balbúrdia controlada do público no palco à vez em que o guitarrista se atirou do palco e seguiu tocando apoiado nos ombros da plateia e dos seguranças. Mas para quem via o seu primeiro grande show de rock na vida, até que estava de bom tamanho. Era uma banda de verdade, na medida do possível.

 

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Tópicos: rock, palco, show