Harmonias e dissonâncias dos Novos Baianos voltam à tona em livro sobre a vida comunitária do grupo
19/11/2020 18h41Fonte G1
Imagem: Reprodução
Ao vir à tona, exposto na página 168 do livro Caí na estrada com os Novos Baianos, o caso de homofobia ajuda a diluir alguns mitos sobre o grupo musical soteropolitano que deu sacudida na MPB ao eletrificar e arejar o samba e choro com a linguagem pop do rock em revolução musical sintetizada no álbum Acabou chorare (1972).Quem conta o surpreendente caso é a produtora cultural Marília Aguiar, autora deste saboroso livro que descortina os bastidores do grupo que, nos 1970, agregou Moraes Moreira (1947 – 2020), Luiz Galvão, Baby do Brasil (então Baby Consuelo), Pepeu Gomes e Paulinho Boca de Cantor – os nomes fundamentais do núcleo dos Novos Baianos.
Poeta e principal letrista do grupo, Galvão já contou a história dos Novos Baianos, com o benefício de ser um dos protagonista dessa história, no livro Anos 70 – Novos e Baianos, lançado em 1997 e reapresentado em 2014, em edição ampliada e atualizada, com outra capa e outro título.
O alentado livro de Galvão se encaixa na moldura mais formal das biografias. Caí na estrada com os Novos Baianos oferece relato informal – e a informalidade e o descompromisso com o rigor biográfico são justamente os trunfos, e não deméritos, da narrativa – escrito na primeira pessoa, como já sinaliza o título do livro.
Trata-se da história dos Novos Baianos sob a perspectiva pessoal de Marília Aguiar, paulista que largou a confortável vida familiar para ir viver e constituir a própria família com Paulinho Boca de Cantor no estilo comunitário e hippie do grupo.
Ler o relato da produtora – transformado em livro por incentivo de Zélia Duncan, autora do prefácio – é como espiar os Novos Baianos pelo buraco da fechadura das muitas casas e do sítio carioca Cantinho do Vovô em que todos viveram juntos.
Sem o filtro das biografias mais cerimoniosas, a autora oferece visão feminina de história dominada por homens. Marília Aguiar deixa claro que existia machismo na comunidade nova baiana – comportamento exemplificado pela prioridade sempre dada ao sagrado futebol masculino e pela história de que, quando o grupo precisou comprar carros para viabilizar a logística das viagens profissionais dos músicos à Bahia, somente os nomes dos homens entraram no sorteio para ver em nome de quem os carros seriam postos.
Contudo, a exposição corajosa dessas dissonâncias sociológicas é encoberta pelas harmonias daquela comunidade. Sem romantizar a vida hippie (“Foi, durante todo o tempo, uma experiência única e surpreendente. Mas era também uma vida instável, inconstante e cheia de incertezas”, avalia a autora na página 206), Marília Aguiar recorda os perrengues na busca do pão nosso de cada dia – lembrados no livro em casos que se sucedem na narrativa – e exalta os entendimentos, a liberdade e o desapego material dos artistas.
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