Illy tenta sair da caixa no tom pop tropical do álbum "O que me cabe"
21/09/2022 16h12Fonte G1
Imagem: DivulgaçãoClique para ampliarIlly tenta sair da caixa no tom pop tropical do álbum "O que me cabe"
Dois anos após diluir densidades e sentidos do repertório de Elis Regina (1945 – 1982) no segundo álbum, Te adorando pelo avesso (2020), Illy lança O que me cabe (2022), terceiro álbum de discografia iniciada há seis anos com o EP Enquanto você não chega (2016).
Mesmo que nem sempre atinja a altitude do álbum de estreia Voo longe (2018) ao longo das 13 faixas formatadas por produtores musicais distintos (em time composto por Alexandre Kassin, Ana Frango Elétrico, Cezar Mendes, Gabriel Loddo, Guilherme Lírio, Guto Wirtti, Iuri Rio Branco, Marcelo Costa, Marcelo de Lamare, Marlon Sette, Moreno Veloso, Paulo Mutti e Pepê Monnerat), O que me cabe apaga a má impressão do álbum anterior e, diferentemente da maioria dos discos, vai soando mais sedutor à medida que avança.
Embora resida atualmente na cidade de São Paulo (SP), Illy nasceu e foi criada na Cidade Baixa, em Salvador (BA). A origem da cantora vem à tona na baianidade tropical que banha o samba-rock O conteúdo (Caetano Veloso, 1974), faixa em que o produtor Marlon Sette persegue o suingue de Jorge Ben Jor, mencionado na letra de Caetano.
É do mar da Bahia que emerge no colo de Yemanjá, com a devida serenidade, Acalanto pra Martim (Guina Santos, 2022), saudação de Illy ao filho que deu à luz em dezembro de 2019. A produção musical de Moreno Veloso na faixa é uma das mais bem acabadas do disco, fazendo do acalanto um dos pontos mais altos do repertório.
A faixa representa pico de beleza que se afina com a lembrança de Cabimento (Arnaldo Antunes e Paulo Tatit, 2004), canção cuja letra poetiza a dimensão das pessoas e das coisas no mundo em mutação. "Hoje eu caibo nesse mesmo corpo que já coube / Na minha mãe", reflete Illy, inserindo a voz do filho Martim na faixa muito bem produzida por Marcelo Costa com Guto Wirtti em acerto que nem sempre se repete ao longo do disco.
A propósito, o álbum O que me cabe por vezes deixa a sensação de pecar pelo excesso de produção. É como se no íntimo cada produtor convidado quisesse mostrar mais serviço do que o outro.
Da lavra fina de Adriana Calcanhotto, a canção-título O que me cabe se encaixa mais na moldura acústica da versão alocada como faixa-bônus – produzida por Cezar Mendes e Marcelo Costa com a adição da voz da própria Calcanhotto – do que na pegada de arrocha light da versão original produzida por Guilherme Lírio.
Com capa que expõe Illy em foto de Flora Negri, enquadrada na arte criada por Fernanda Queiroz e Fred Dietzsch, o álbum O que me cabe chegou ao mundo digital na sexta-feira, 16 de setembro, com nada menos do que sete das 13 faixas já apresentadas em singles.
Entre elas, há joias como Você só quer me comer (Jarbas Bittencourt, 2021) – irreverente estilização dos códigos da canção popular rotulada como brega, feita por Illy em faixa fluente formatada por Marlon Sette e Pepe Monnerat – e o reggae Réveillon (Chico César, 2021), de simplicidade envolvente, devidamente entendida pelo produtor Paulo Mutti.
O canto suave de Illy é mais vocacionado para dar voz à leveza good vibe de Réveillon – de versos como “Um dia assim de sol / Vivido com você / É o que me faz viver / Olhando o lado bom / Curtindo A Cor do Som / Regando a flor do ser / Sentindo florescer / O dom que tem o sim / Traz o melhor de mim” – do que para verbalizar as inquietações de Por dentro (Gustavo Caribé, J. Velloso e Mirella Medeiros), faixa de angústias abafadas tanto pelo canto da artista quanto pelo arranjo do produtor musical Iuri Rio Branco.
Por isso mesmo, o produtor Kassin poderia ter deixado a voz da cantora mais límpida na gravação da canção Ninguém manda no meu coração (Ed Wilson e Ronaldo Bastos, 2021).
Dentre as faixas até então inéditas, há Pra você não ir (Ray Gouveia), faixa produzida por Gabriel Loddo e apresentada como rock, embora na verdade soe como balada nas vozes de Illy e do convidado Erasmo Carlos.
Dentro de mim (Ana Frango Elétrico e Hilda Monteiro de Barros) abre o disco e o joga direto na pista, tentando fazer a festa ao evocar com beats sintéticos o balanço pop tropical de Rita Lee na fase com Roberto de Carvalho, influência da obra de Ana Frango Elétrico, produtora da faixa de ambiência eletrônica.
Música mais fraca do repertório, Nunca errou (Illy e Jorge Velloso) tem o mérito de passar a visão direta da falsidade entranhada nos elogios feitos em redes sociais, tema da letra cantada por Illy em tons sombrios.
Marcelo de Lamare assina a produção musical dessa faixa de O que me cabe, álbum em que Illy procura estar em sintonia com as demandas do mercado – e não por acaso Marina Sena é compositora e convidada de Quente e colorido (2021), pop tropical já lançado em single – sem sair totalmente do quadrado em que se inseriu no belo álbum de estreia Voo longe, ainda o cartão-de-visitas mais adequado para quem conhecer a voz e o som da nova baiana.
Veja mais notícias sobre Cultura, clique em florianonews.com/cultura