João de Ana cruza influências do Vale do Jequitinhonha na rota mineira do álbum "Dignidade"

15/12/2021 16h14


Fonte G1

Imagem: Joasiane SoaresClique para ampliarJoão de Ana cruza influências do Vale do Jequitinhonha na rota mineira do álbum João de Ana cruza influências do Vale do Jequitinhonha na rota mineira do álbum "Dignidade"

Há algum tempo, João de Ana se sentiu ferido quando um amigo lhe disse friamente para guardar a viola no saco porque ele jamais teria chance no mercado da música com a obra que construía a partir da mistura de influências de sons do sertão, da seresta, do Clube da Esquina, do rock rural e da música de câmara.

A dor impulsionou o cantor, compositor e músico mineiro – nascido em 31 de janeiro de 1973 em Pedra Azul (MG), cidade situada no Vale do Jequitinhonha – a fazer uma música, Dignidade.

É essa música que acabou dando nome ao primeiro álbum do artista, Dignidade, lançado em edição digital e em CD via Lobo Kuarup, selo nascido da parceria do violeiro Chico Lobo com a gravadora Kuarup.

Na certidão de nascimento, João de Ana é João Alves dos Santos. Na vida e na arte, João virou de Ana por ser filho de Ana das Neves Santos, a mãe que homenageia postumamente no álbum Dignidade através da canção Donana, uma das 12 músicas do repertório essencialmente autoral do disco produzido por Ricardo Gomes.

A única música de lavra alheia no cancioneiro do álbum Dignidade é Banco de feira (Roberto Andrade e Waltinho, 1973), música apresentada pela Banda de Pau & Corda no álbum Vivência (1973) – no ano em que João nasceu – e revivida pelo artista mineiro em gravação feita com as adesões da cantora Bárbara Barcellos e do violeiro Chico Lobo.

A composição Banco de feira tem significado especial para João porque o pai do artista, Valvídio Alves dos Santos, tem até hoje uma banca na feira de Pedra Azul, a já mencionada cidade mineira em que João veio ao mundo há quase 49 anos.

A vivência de João de Ana no Vale do Jequitinhonha pautou a criação e a gravação de músicas como Canção do Vale (João de Ana e Gilberto Guimarães), Sinfonia (João de Ana, Zé Henrique e Gilberto Guimarães) e Cantador de lua cheia (João de Ana a partir de letra do poeta Voltaire Lemos).

Dignidade é álbum entranhado nas matas e nas esquinas de Minas Gerais, como reiteram composições como Minas canções (João de Ana e Zé Henrique), mas há também ecos das passagens de João pela Bahia, cenário que inspirou a criação de Cantador do tempo (João de Ana e Gilberto Guimarães), faixa que também conta com a presença de Chico Lobo, a exemplo da já citada faixa Banco de feira.

O mercado da música é de fato cruel com quem se recusa a seguir as tendências da indústria, mas o álbum Dignidade mostra que João de Ana fez bem em ignorar o conselho do amigo.

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