Karol Conká vira o jogo, muda o disco e apaga com "Urucum" a má impressão do álbum anterior
04/04/2022 15h02Fonte G1
“Tô acostumada a andar na mira / Tô pelo certo, o universo conspira / Quando menos perceber, o jogo vira”, avisa Karol Conká nos versos de Mal nenhum (2021), terceira das onze músicas na disposição do álbum Urucum.
Karoline dos Santos de Oliveira versa na música sobre o cancelamento, a rejeição e o ódio que gerou em todo o Brasil pelo comportamento controvertido adotado pela rapper quando estava confinada na casa do Big Brother Brasil 2021. O cancelamento de Karol é o assunto principal do repertório autoral do terceiro álbum da artista, lançado na noite de quinta-feira, 31 de março.
Contudo, a virada de jogo pode ser estendida à música da cantora e compositora curitibana. Com Urucum, disco batizado com nome de planta de efeito antioxidante, Karol Conká apaga a má impressão do anêmico álbum anterior da artista, Ambulante (2019), disco prejudicado pelo tom egocêntrico do repertório autorreferente gravado com produção musical pouco inspirada de Boss in Drama, DJ chamado para assumir a gravação quando Karol e o duo Tropkillaz passaram a atuar em frequências diferentes.
Álbum criado por Karol com RDD, nome artístico do produtor musical baiano Rafa Dias (mentor do grupo soteropolitano ÀTTØØXXÁ), Urucum se situa no mesmo bom nível do primeiro álbum da artista, Batuk freak (2013).
A presença de Rafa Dias na criação e formatação das onze músicas – cujas letras em maioria foram escritas por Karol com base nas experiências vividas pela artista após a saída do BBB 2021 em fevereiro do ano passado – joga naturalmente o disco por vezes na praia do pagode baiano.
Entranhado nas bases de músicas como Calma e Vejo o bem, o gênero musical também já aparecera na arquitetura de Subida (2021), música – gravada com a participação de RDD e apresentada em single lançado em 30 de setembro – que também embute células rítmicas de reggae e dub.
Dentre a safra de oito músicas inéditas reveladas por Urucum, álbum de repertório completado por três faixas já lançadas em singles em 2021, caso de Louca & sagaz, os destaques são Fuzuê, Se sai e Cê não pode.
Fuzuê tem temperatura quente e toque de berimbau. Se sai é conduzida em levada jamaicana. Já Cê não pode é trap com a adrenalina e a pressão mencionadas em letra que versa sobre a cultura do cancelamento.
Na segunda metade do álbum, Urucum perde eletricidade e soa com temperatura mais amena, como já sinalizam os títulos das músicas Slow (tema de sensualidade latente) e Sossego (faixa situada entre o trap e o funk).
Com mix potente de rap com reggae (presente na cadência de Por inteira), R&B e pagode baiano, gêneros fundidos sobre o batuk sintético em que Urucum está embasado, o álbum dialoga com o Brasil, sobretudo com a Bahia, terra também do arrocha e do samba-reggae, sem perder tom pop contemporâneo que se afina com a música negra que domina o mundo.
Com Urucum, Karol Conká muda o disco e vira o jogo.
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