Kleiton & Kledir são tema de livro que mostra como a dupla pôs o pop gaúcho no mapa musical do Brasi

29/12/2022 14h35


Fonte G1

Imagem: DivulgaçãoKleiton & Kledir(Imagem:Divulgação)Kleiton & Kledir

Em janeiro de 1987, Kleiton foi chamado para ir à casa de Kledir conversar com o irmão. Lá, ouviu em choque que a dupla que se formara extraoficialmente em 1979, para defender a música Maria fumaça (Kleiton Ramil e Kledir Ramil) em festival da TV Tupi, tinha chegado ao fim por decisão unilateral de Kledir.

“Chorei, argumentei, mas não adiantou. Ele estava irredutível”, lembra Kleiton em depoimento reproduzido na página 215 da biografia da dupla.

A questão – como expõe logo a seguir o jornalista gaúcho Emílio Pacheco, autor do livro – é que, na memória de Kledir, o chamado e a conversa decisiva nunca aconteceram. “Esse é o ponto de vista dele (do Kleiton). Para mim, o que acabou com a dupla foi o clima pesado em que tinha se transformado nossa convivência. Não havia mais diálogo, era uma relação descontrolada”, lembra Kledir.

Com ou sem a tal conversa, o fim da dupla foi fato consumado e tornado público em fevereiro daquele ano de 1987. Os fãs precisaram esperar até 20 de agosto de 1995 para testemunhar a reunião dos irmãos, que haviam tentado em vão se firmar individualmente no mundo da música após o fim da dupla que pusera o pop gaúcho no mapa do Brasil na primeira metade dos anos 1980, década do auge artístico e comercial da trajetória musical dos irmãos de clã que gerou também o caçula Vitor Ramil.

Desde então, Kleiton & Kledir permanecem em atividade – e em harmonia – como documenta Emílio Pacheco na parte final do livro lançado em novembro pela editora Bestiário.

Kleiton & Kledir – A biografia é trabalho consistente que merece leitura. Através de depoimentos dos biografados, Pacheco reconstitui e contextualiza no tempo musical e político do Brasil a história de Kleiton Alves Ramil e Kledir Alves Ramil, irmãos nascidos em Pelotas (RS) em 23 de agosto de 1951 e em 21 de janeiro de 1953, respectivamente.

O foco do livro reside sobretudo na carreira musical da dupla. Ainda assim, o autor expõe no início da narrativa a formação da família Ramil em relato breve que destaca a morte do irmão gêmeo univitelino de Kleiton, Klauder, aos seis meses de vida, vítima de desidratação. Na época, Kleiton não teve consciência do que aconteceu, mas atribui à morte do irmão uma série de neuroses e a síndrome do pânico que teve já adulto, quando era famoso.

Ainda dentro do campo pessoal, merece menção a reprodução do sensível e até então inédito depoimento escrito por Kleiton para livro sobre Nara Leão (1942 – 1989), com quem o artista viveu história de amor nunca dimensionada corretamente nas biografias da cantora, na visão de Kleiton.

Contudo, a tônica da biografia de Kleiton & Kledir é mesmo a música dos irmãos, que entraram em cena nos anos 1970 como integrantes da banda Almôndegas. O grupo chegou a obter certo sucesso fora das fronteiras do sul do Brasil, mas foi mesmo como dupla, de formação oficializada em 1980, que Kleiton & Kledir mostraram que os gaúchos sabiam fazer pop radiofônico nos tempos de abertura política e musical, conquistando o país com repertório autoral que embutia referências sulistas em canções de apelo popular.

Seis anos antes de a banda Engenheiros do Hawaii proclamar o isolamento musical dos gaúchos no título do álbum inicial Longe demais das capitais (1986), os irmãos encurtaram a distância entre Porto Alegre (RS) e as capitais culturais do Brasil com músicas como Vira virou (Kleiton Ramil, 1980), Paixão (Kledir Ramil, 1981) e Deu pra ti (Kledir Ramil e Kleiton Ramil, 1981), ode à mesma Porto Alegre (RS) que abrigou os irmãos após a saída de Pelotas (RS) e antes da vinda para a cidade do Rio de Janeiro (RJ).

Escorado no conhecimento angariado como admirador assumido da dupla, nos depoimentos dos irmãos e nas reproduções de trechos de críticas (sem poupar resenhistas pouco informados sobre a história da dupla), Emílio Pacheco detalha a criação e a repercussão de cada álbum de Kleiton & Kledir (e também dos posteriores títulos das breves discografias individuais dos irmãos).

Fica documentado no livro que Kleiton & Kledir atingiram ponto de coesão no segundo e no quinto álbuns da dupla – lançados em 1981 e 1986, respectivamente, sendo que o último disco da fase inicial passou despercebido pelo público, o que contribuiu para o fim da dupla – e perderam o prumo no quarto álbum, o Kleiton & Kledir de 1984.

Com texto fluente, a biografia de Kleiton & Kledir é indicada para quem se interessa pela história da música brasileira e em especial pelo legado de artistas do sul que conseguem furar a bolha e se aproximam das capitais etnocêntricas que tentam dar o tom da produção cultural do país.

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