Livro explica as ramificações da árvore da música brasileira em 23 textos de alcance sociológico
21/10/2020 18h22Fonte G1
Resultante da mistura da matriz negra africana com os sons indígenas, as harmonias europeias e a influência incisiva da cultura norte-americana, a música do Brasil reflexe essa miscigenação na diversidade rítmica, melódica e lírica dos sons que brotam em todos os cantos do país.Editado pelo Sesc de São Paulo, o livro Uma árvore da música brasileira historia e explica as múltiplas ramificações dos sons produzidos em solo nacional a partir de 23 artigos apresentados com a organização do músico e produtor Guga Stroeter e da pesquisadora Elisa Mori.
Cada gênero da música do Brasil é apresentado sob a perspectiva de um artista ou pesquisador associado a esse gênero específico. Com diferentes alcances sociológicos e/ou musicais, os textos possuem valor oscilante, mas, no conjunto da obra, formam um todo interessante por fugir da abordagem acadêmica ao explicar cada estilo sob a ótica de quem faz parte da cadeia produtiva da música.
O texto do rapper paulistano Xis, por exemplo, sobressai no livro por mostrar como a cultura do hip hop molda a personalidade musical de jovens da periferia, permitindo ascensão social vinda após muita luta. O produtor e músico Alexandre Kassin também brilha ao expor com fluência a evolução da música eletrônica, mais antiga do que se supõe.
Se Paulo Catagna opta pelo didatismo formal ao discorrer (longamente) sobre a modinha e o lundu, gêneros seminais dos séculos XVIII e XIX, o ás do bandolim Izaias Bueno de Almeida explica o choro em texto breve, sucinto e certeiro. Compositor e escritor, o bamba Nei Lopes dá a habitual aula sobre o samba, montando bom painel evolutivo do gênero.
Já o baterista Luiz Franco Thomaz – o Netinho, músico do grupo Os Incríveis – peca por enfatizar mais a própria trajetória no texto em que contextualiza (mal) a explosão pop da Jovem Guarda de 1965 a 1967. Suzana Salles também parte da experiência pessoal – no caso, como jurada de festival de marchinhas – para escrever sobre o gênero carnavalesco sem a preocupação de oferecer precisa abordagem histórica da música de Carnaval.
Paulo Freire se destaca ao alinhar diferenças entre música caipira e sertaneja sem pré-conceitos, valorizando tanto os trabalhos dos pioneiros tradicionais quanto os artistas do sertanejo mais urbano, caso de Chitãozinho & Xororó, dupla exaltada por Freire.