Manu Gavassi prega liberdade no Brasil de 2023 ao morder o "Fruto proibido" de Rita Lee em 1975

03/02/2023 14h41


Fonte G1

Imagem: DivulgaçãoClique para ampliarManu Gavassi(Imagem:Divulgação)Manu Gavassi

O álbum em que Manu Gavassi interpreta as músicas do disco Fruto proibido (1975) – o mais emblemático dos quatro álbuns gravados por Rita Lee com o grupo Tutti Frutti entre 1974 e 1978 – corre o risco de soar anacrônico ou mesmo inócuo para ouvintes que saborearam Fruto proibido na época em o disco foi lançado. Um disco de rock quando o gênero ainda simbolizava a rebeldia juvenil.

Em essência, Fruto proibido foi um manifesto de Rita Lee e Tutti Frutti a favor da liberdade e contra a caretice de um Brasil que, em 1975, ainda estava amordaçado pela ditadura e em processo lento de assimilação dos valores pregados pela revolução social e comportamental dos anos 1960.

O mundo mudou, as minorias ganharam voz ativa e a humanidade foi se liberando progressivamente dos dogmas e repressões da hipócrita sociedade patriarcal. Por isso mesmo, uma onda conservadora emergiu e saiu do armário nos últimos anos para tentar frear tanto progresso.

Nesse sentido, as recentes críticas sofridas por Anitta por conta das cenas de simulação de sexo oral no modelo Yuri Meirelles, durante a gravação de ainda inédito clipe, sinalizam que ainda há muita repressão no Brasil de 2023.

No contexto atual, em que a liberdade conquistada é confrontada diariamente, toda uma jovem geração talvez encontre ressonância no álbum em que Gavassi morde o Fruto proibido de Rita Lee no registro audiovisual de show captado em 1º de novembro de 2022, na cidade de São Paulo (SP), em apresentação feita na série Acústico MTV, sob direção musical de Lucas Silveira, com adesões de Liniker e Tim Bernardes (convidado da regravação de Gracinha, tema da lavra autoral de Gavassi).

A abordagem é reverente e resulta eficiente por Gavassi ter escapado da tentação de modernizar disco de valores e sons atemporais por mais que o rock já tenha perdido força como mola propulsora dos ideais da juventude.

Com o toque da banda apropriadamente feminina formada por Alana Ananias (bateria), Ana Karina Sebastião (contrabaixo), Juliana Vieira (violino), Mari Jacintho (teclados), Michelle Abu (percussão) e Monica Agena (violão), além dos vocais de Luana Jones e Paola Evangelista Lucio, Gavassi se ajusta ao compasso da liberdade que move Dançar para não dançar (Rita Lee, 1975), reitera a opção de ser livre em Agora só falta você (Rita Lee e Luiz Carlini, 1975) e em Pirataria (Lee Marcucci e Rita Lee, 1975), além de mandar Cartão postal (Rita Lee e Paulo Coelho, 1975) na pegada de um blues-rock que rejeita a sofrência, matéria-prima de boa parte do cancioneiro do universo pop.

Paulistana como Rita Lee, atualmente com 30 anos, Manu Gavassi já sinalizara no álbum anterior, Gracinha (2021), que vem procurando se distanciar da frivolidade que pauta o repertório consumido no mainstream do mundo pop. “Às vezes cansa minha beleza / Essa falta de emoção e de sensação”, dispara Gavassi, coerente com esse movimento anterior, ao dar voz a versos ainda atuais de Fruto proibido (Rita Lee, 1975) que parecem falar da plastificação dos sentimentos na era digital.

De repertório que reverbera anseios e ideais de rebeldia, sob prisma feminino, somente Esse tal de roque enrow (Rita Lee e Paulo Coelho, 1975) envelheceu porque o rock passou para o status quo, perdendo o caráter revolucionário de outrora, em função assumida pelo rap e pelo funk.

Já O toque (Rita Lee e Paulo Coelho, 1975) é dado com precisão enquanto Ovelha negra (Rita Lee, 1975) – hino geracional que atravessou décadas na voz de Rita Lee – reverbera atual no canto da convidada Liniker, ganhando novos sentidos na voz de uma artista trans em gravação salpicada com as notas do piano de Mari Jacintho.

Fora do repertório do álbum de 1975, Gavassi joga Lança perfume (Rita Lee e Roberto de Carvalho, 1980) na pista – lembrança sem razão de ser por se tratar de música de outra vibe e fase de Rita – e revive Mutante (Rita Lee e Roberto de Carvalho, 1980), tema de letra mais afinada com o espírito livre e feminino do álbum Fruto proibido.

E, justiça seja feita, regravar a própria Bossa nossa (Manu Gavassi, 2021) foi achado da artista, não somente por causa dos versos “Faço dançar, enquanto te faço rir / Nunca gostei dos mutantes sem a Rita Lee”, mas também porque esse samba-rock destila um deboche evocativo da verve que anima o espírito de Santa Rita de Sampa, padroeira da liberdade e da rebeldia que um dia moveu esse tal de roque enrow, mas que ainda move a juventude em 2023, dando sentido ao tributo de Manu Gavassi.

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