MaurÃcio Barros brilha no contraste entre luz e sombra que rege o primeiro álbum solo do artista
30/12/2021 11h26Fonte G1
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Tudo está por um fio, mas ele está a mil no curso da vida que segue inabalável como um rio. Esse é o recado que Maurício Barros passa no canto de Mania, segunda das dez músicas inéditas na disposição do repertório de Não tá fácil pra ninguém, primeiro álbum solo desse cantor, compositor e tecladista carioca que há 40 anos vem prestando bons serviços ao rock brasileiro.Pop rock cheio de energia, Mania (Maurício Barros, Mauro Santa Cecília e Bruna Beber) vê luz no fim do túnel em contraste com a tempestade armada por Alô alô humanidade (Maurício Barros e Fausto Fawcett), apocalíptica balada ambientada no clima roqueiro do disco lançado por Barros em 26 de novembro.
O rock até pode aparecer envolto em atmosfera eletrônica, como em Senti que dancei (Maurício Barros e Patricia Polayne), mas continua sendo rock porque a atitude de Maurício Barros na vida é roqueira e essa vibe se impõe no bom disco, mesmo em baladas como Zanzando, parceria do artista com Arnaldo Antunes que soa como “acalanto no deserto”, como diz a letra.
Para quem não liga o nome ao som, Maurício Barros é o tecladista fundador do Barão Vermelho, banda que começou a ser gerada em 1981 e que irrompeu no universo pop em 1982, escorada no repertório composto por Roberto Frejat com Cazuza (1958 – 1990).
Em um dos períodos em que esteve fora do Barão Vermelho, Barros se arriscou como frontman da Buana 4, banda carioca que existiu de 1988 a 1991, revelando músicos relevantes como o guitarrista Billy Brandão e o baixista Gian Fabra.
A propósito, Gian figura no álbum como baixista e parceiro do colega solista em A rua e eu, balada de espírito blueseiro que evoca o fato de o currículo de Barros também ostentar passagem pela Midnight Blues Band.
Música que anunciou oficialmente a chegada ao mundo do álbum Não tá fácil pra ninguém ao ser lançada em single em 22 de outubro, Abra essa porta é folk-rock composto por Barros com Otto, presente no coro dessa faixa que exemplifica o azeitado acabamento instrumental do disco gravado com produção musical do próprio Maurício Barros, que arregimentou músicos como Fabrício Matos (violão e guitarra), Lourenço Monteiro (bateria), Maurício Negão (baixo e guitarra), além de ter se revezado nos toques dos teclados, do pandeiro e da guitarra.
Masterizado pelo norte-americano Brian Lucey no estúdio Magic Garden Mastering, o álbum Não tá fácil pra ninguém é raro caso de disco que vai ficando mais sedutor à medida que avança, em que pese a alocação da já citada Mania no início.
A partir da também já mencionada balada-blues A rua e eu (Maurício Barros e Gian Fabra), músicas interessantes vão se sucedendo, com menções honrosas para o samba-título Não tá fácil pra ninguém (Maurício Barros e Rogério Batalha) – bem-vindo ponto fora da curva no disco de ar roqueiro – e o ska pop Já me sinto bem (Maurício Barros e Bruno Levinson).
É como se o tempo fosse abrindo ao longo do disco, que termina muito bem no tom motivacional do rock-balada Não desista, uma das duas músicas compostas solitariamente por Maurício Barros.
A outra é Como você está?, rock de textura pop romântica condizente com o histórico de compositor que tem o nome nos créditos de canções como Por você (Roberto Frejat, Maurício Barros e Mauro Santa Cecília, 1998) – o maior sucesso do Barão Vermelho na década de 1990 – e Amor para recomeçar (Roberto Frejat, Maurício Barros e Mauro Santa Cecília, 2001), música-título do primeiro álbum solo de Frejat, lançado há 20 anos.
Não, não está fácil para ninguém, mas Maurício Barros está a mil e brilha em vários momentos no contraste entre luz e sombra que rege o primeiro álbum solo do artista em 40 anos de carreira.