Mercado fonográfico do Brasil dispara na pandemia; balanço global destaca Barões da Pisadinha

24/03/2021 15h30


Fonte G1

Imagem: DivulgaçãoBarões da Pisadinha(Imagem:Divulgação)Barões da Pisadinha

O mercado fonográfico do Brasil teve notável alta em ano de pandemia. Puxada pelo streaming, a renda com músicas gravadas no país subiu 24,5%. A alta mundial foi de 7,4%. Os dados foram divulgados pela Federação Internacional da Indústria Fonográfica (IFPI, na sigla em inglês).

É o maior crescimento da indústria fonográfica no Brasil em duas décadas, desde o tombo histórico com a revolução do MP3. A última subida maior foi lá em 1996 quando, puxados por CDs de Skank e É O Tchan, o faturamento com as músicas gravadas subiu 31,1% no país.

O índice de 2020 turbina o patamar de crescimento que já ocorria desde 2017, entre 13% e 17%. "Há quatro anos vinha subindo muito, de forma consistente", diz Paulo Junqueiro, presidente da Sony Music no Brasil.

"Acredito que, as pessoas em casa e com a falta de shows, tenha aumentado", diz o executivo. "E este ano, em janeiro e fevereiro, já notamos que continua subindo, neste patamar de 20%", ele adianta.

Para ele, o mais importante é a consistência mesmo antes de 2020. "O Brasil entrou tarde no mercado digital. Quando entrou, foi quase direto do CD para o streaming, porque o download não foi relevante. E o streaming teve uma acolhida enorme no Brasil", descreve Junqueiro.

Segundo o IFPI, a alta brasileira em 2020 é puxada pelo crescimento geral do streaming musical (37,1%), inclusive dos serviços pagos de música online (28,3%).

Executivos animados com Sonza e Barões

O relatório da IFPI destaca o crescimento acima da média do país com uma fala de Ángel Kaminsky, executivo da Universal Music Latin America. "Karminsky está especialmente animado com o crescimento e potencial do Brasil", diz o relatório.

"Nós acreditamos fortemente na riqueza cultural, no talento e na música brasileira como uma enorme fonte de hits globais e de artistas", diz o executivo da Universal.

Ele cita Luisa Sonza entre os artistas latinos com potencial. Uma foto dos Barões da Pisadinha, ilustra o relatório global da IFPI, principal registro anual da indústria musical no mundo.

"Há dois anos os Barões da Pisadinha estavam fazendo shows no interior do país e hoje estão no relatório do IFPI. É emocionante e importante, mesmo que não fossem artistas da Sony. Espero que o Brasil continue a aparecer todo ano lá", comemora Paulo Junqueiro.
Imagem: Iwi Onodera e Manuela Scarpa/Brazil NewsShow da cantora Luísa Sonza durante o Festival Teen, em São Paulo.(Imagem:Iwi Onodera e Manuela Scarpa/Brazil News)Show da cantora Luísa Sonza durante o Festival Teen, em São Paulo.

Foram divulgadas apenas as porcentagens de crescimento, sem os valores brutos. Um cálculo que aplica os índices às receitas anteriores indica um faturamento fonográfico do Brasil em 2020 de US$ 420,7 milhões (R$ 2,3 bilhões).

Em 2019, o Brasil saiu da lista de 10 maiores mercados musicais do mundo. Em 2020, o país continua fora desse ranking, mesmo com a alta acima da média. A Pro-Música Brasil, associação de gravadoras no país, ainda vai lançar seu relatório anual detalhando os dados brasileiros de 2020.

Streaming em alta, shows em "apagão"

A alta em plena pandemia é uma boa notícia, mas o setor musical sofre, por outro lado, com o apagão nos shows.

"O mercado de shows e eventos teve uma queda brusca no ano passado. Em comparação com anos anteriores, mais de 100 milhões de reais deixaram de ser arrecadados em 2020 devido ao cancelamento dos shows", diz ao G1 Isabel Amorim, superintendente do Ecad.

Os números de Isabel são apenas da arrecadação de direitos autorais em shows. Ainda não há um estudo comparativo entre ganhos com o streaming e perdas totais com shows de música no Brasil.

No mundo, a revista especializada "Pollstar" apontou um prejuízo global de US$ 30 bilhões no mercado de shows em 2020 com a pandemia. Essa perda estimada nos eventos é maior que todo o faturamento da indústria fonográfica mundial no ano passado, de US$ 21,6 bilhões.

Independentes turbinam indústria

O crescimento mostrado no relatório da entidade que reúne grandes gravadoras está turbinado pela música independente, aponta Dani Ribas, pesquisadora e diretora da Sonar Cultural Consultoria.

As gravadoras estão atuando com braços de agregadoras digitais, que distribuem as músicas em streaming. Vários artistas fazem toda a produção do fonograma de forma independente, e usam essas agregadoras que pertencem às "majors" para distribuição, explica Dani. Isso se reflete nos números.

O Brasil tem hoje uma explosão de sucesso de produções eletrônicas simples, até caseiras, em estilos como a pisadinha e a bregadeira. Os próprios Barões da Pisadinha, destacados no relatório, têm um modelo híbrido de produção musical própria e contrato com a Sony Music.

Brasil já crescia

Os números de 2020 seguem uma boa trajetória do setor no Brasil nos últimos anos, graças ao digital.

Veja os índices anuais nos últimos 25 anos no Brasil, que passam pelo boom dos CDs nos anos 90, o desastre na indústria com a cultura de compartilhamento gratuito de MP3 e a retomada atual com o streaming.

Antes de desabar entre 1999 e 2007, a indústria fonográfica do Brasil chegava a faturar mais de US$ 1 bilhão por ano (pico de US$ 1,3 bilhão em 1996). A recuperação atual é relevante, mas leva o mercado ainda está longe desse auge (US$ 420 milhões em 2020).

Plataformas (e vinis) em alta no mundo

Em 2020, outro número global que seguiu crescendo foi do faturamento do vinil, com alta de 23,5%, enquanto o CD segue em queda (-11,9%). Mas é o streaming (+18,5%) que segue puxando a indústria fonográfica global.

As plataformas como Spotify, Apple e Deezer já representam 62,1% da receita global de música, com cerca de 443 milhões de assinantes pagos.

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Tópicos: brasil, shows, streaming