Mulheres na economia global entram para vocabulário dos negócios
11/04/2021 16h26Fonte O globo
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Com mulheres no comando da economia global, empatia, cuidado e vulnerabilidade entram para o vocabulário das negociações. As mulheres agora têm alguns dos cargos mais importantes na maior economia do mundo — e estão tentando consertá-la. Janet Yellen, secretária do Tesouro; Gina Raimondo, secretária do Comércio; e Katherine Thai, representante comercial, têm cargos seniores no governo de Joe Biden. O democrata ainda têm muitas mulheres entre seus conselheiros econômicos, aliás, cerca de 48% de seu gabinete é formado por mulheres.
Essa mudança de rumo já está afeta a política econômica. O plano de US$ 2,3 trilhões apresentado por Biden na semana passada inclui US$ 400 bilhões para custear a "economia do cuidado", que são as tarefas realizadas em casa ou nas comunidades, como os cuidados com crianças e idosos. Um trabalho nomalmente feito pelas mulheres que, até agora, passava despercebido.
O plano do governo Biden também tem centenas de bilhões destinados a combater as desigualdades raciais e as desigualdades entre as zonas urbanas e rurais dos EUA — tudo isso foi criado, em parte, por políticas anteriores de comércio e trabalho.
Yellen diz que o foco na "infraestrutura humana" e também o primeiro pacote anunciado por Biden (um auxílio de US$ 1,9 trilhão) deverão resultar em melhoras significativas para as mulheres, cuja participação na força de trabalho atingiu o menor nível em 40 anos nos EUA, antes mesmo da crise.
"Ao final, pode ser que esse auxílio faça 80 anos de História: ele começa a corrigir problemas que atormentam a nossa economia há quatro décadas", escreveu Yellen no Twitter, complementando: "É apenas o começo."
Mulheres líderes podem trazer uma perspectiva nova para a política econômica, dizem especialistas.
— Quando você é diferente do resto do grupo, costuma ver as coisas de uma maneira diferente — diz Rebecca Henderson, professora da Harvard Business School e autora de "Reimagining Capitalism in a World on Fire", ainda sem tradução no Brasil. — Você tende a ser mais aberta a soluções diferentes. Estamos em um momento de enorme crise e precisamos de novas maneiras de pensar.
No último século, 57 mulheres foram presidentes ou primeiras-ministras de seus países, mas as instituições que tomam as decisões econômicas foram controladas por homens até recentemente.
Fora dos EUA, há Christine Lagarde, no Banco Central Europeu, com seu balancete de 2,4 trilhões de euros; Kristalina Georgieva, com US$ 1 trilhão para empréstimos no Fundo Monetário Internacional; e Ngozi Okonjo-Iweala na Organização Mundial do Comércio. Todas essas posições eram ocupadas por homens há 10 anos.
No geral, há mulheres no comando de ministérios das finanças em 16 países e em 14 bancos centrais, de acordo com um relatório anual do think tank OMFIF.
As medidas limitadas disponíveis sugerem que as mulheres têm um melhor histórico na administração de instituições complicadas durante períodos de crise.
— Quando as mulheres estão envolvidas, a prova é muito clara: as comunidades ficam melhores, as economias melhoram, o mundo é melhor — disse Georgieva, em janeiro, citando pesquisas do FMI e outras instituições. — As mulheres são grandes líderes porque mostram empatia e falam pelas pessoas mais vulneráveis. Elas são decisivas e mais empenhadas em chegar a um compromisso.
Um estudo da Associação Americana de Psicologia mostrou que os estados americanos com mulheres governadoras tiveram menos mortes por Covid-19 do que os liderados por homens. Já a Harvard Business Review publicou que as mulheres têm notas significativamente melhores nas avaliações de 60 mil líderes entre março e junho de 2020.
Elas são menos de 2% dos CEOs nas instituições financeiras e menos de 20% nos conselhos executivos, mas as instituições lideradas por elas mostram maior resiliência e estabilidade, diz uma pesquisa do FMI.
Eric LeCompte, conselheiro da Organização das Nações Unidas e diretor executivo de uma organização sem fins lucrativos que trabalha pelo alívio de dívidas, diz que notou uma diferença clara durante uma reunião realizada com Yellen e lideranças cristãs e judaicas no mês passado:
— Eu tenho me reunido com secretários do Tesouro americano por 20 anos, e os pontos abordados por Yellen foram completamente diferentes. Em todas as áreas que discutimos, ela colocou ênfase na empatia e no impacto das políticas nas comunidades mais vulneráveis.
LeCompte diz que os antecessores de Yellen, todos homens, tinham uma abordagem "dura" e focavam primeiro "em números, não em pessoas" e nunca mencionavam palavras como "vulnerável".
As apostas são altas. A recessão global relacionada à pandemia do coronavírus, segundo muitos economistas, atingiu mais as mulheres. Elas formam 39% da força de trabalho global, mas somam 54% das perdas de emprego, segundo um estudo recente da consultoria McKinsey. Nos EUA, as mulheres representam mais de metade dos 10 milhões de empregos perdidos durante a crise provocada pela Covid-19 e mais de 2 milhões de mulheres deixaram o mercado de trabalho.
Trazer essas mulheres de volta ao trabalho pode fazer o PIB crescer 5% nos EUA, 9% no Japão, 12% nos Emirados Árabes Unidos e incríveis 27% na Índia, a maior democracia do mundo, de acordo com uma estimativa do FMI.
— A ascensão de mulheres líderes deverá levar a uma resposta mais inclusiva aos muitos desafios deixados pela Covid-19 — diz Carmen Reinhart, economista-chefe do Banco Mundial.
Katherine Tai, a primeira mulher não-branca a chefiar o Escritório do Representante de Comércio dos EUA, disse a sua equipe para pensar "fora da caixa", abraçar a diversidade e falar com comunidades que têm sido ignoradas.
Okonjo-Iweala, primeira mulher e primeira africana a chefiar a Organização Internacional do Comércio, que regulou US$ 19 trilhões em trocas comerciais realizadas em 2019, afirmou que responder às necessidades das mulheres marcará um passo importante na retomada da fé nos governos e nas instituições globais.
— A lição para nós é termos certeza que não conduziremos os negócios da forma costumeira — afirma ela, que foi a primeira ministra das finanças da Nigéria. — Estamos tratando de gente, de inclusão e de trabalho decente para pessoas comuns.
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