Ney Matogrosso aciona as antenas ao arquitetar álbum com músicas de Caetano Veloso, Raul Seixas
21/03/2021 09h02Fonte G1
ANÁLISE – Poucos cantores podem se dar ao luxo de construir discografia quase sem composições inéditas e, ainda assim, imprimir a própria assinatura nas músicas a que dão voz. Ney Matogrosso é um desses raros casos de intérpretes estilistas.A caminho dos 80 anos, a serem festejados em 1º de agosto, o cantor de origem sul mato-grossense prepara álbum com doze músicas já gravadas entre 1969 e 2020. Mais uma vez, Ney abre mão do ineditismo do repertório – armadilha do ego que atrapalha muitos intérpretes – para se deixar guiar somente pelo (apurado) senso estético. Tem sido assim sobretudo nas últimas três décadas.
Desde À flor da pele (1991), álbum gravado e assinado por Ney com o violonista Raphael Rabello (1962 – 1995) o cantor tem feito discos com repertórios já conhecidos. A exceção foi o álbum Olhos de farol, gravado em 1998 e lançado em janeiro de 1999. Nem por isso os discos deixam de ter conceito, um norte, ainda que o mote principal seja sempre o canto singular de Ney.
No álbum que prepara para este ano de 2021, o ano do 80º aniversário de vida, o repertório – revelado pelo jornalista Julio Maria, autor de ainda inédita biografia de Ney prevista para ser lançada até o fim deste ano de 2021 – inclui músicas de Accioly Neto (1950 – 2000) (Espumas ao vento, de 1997), Caetano Veloso (Nu com a minha música, de 1981), Felipe Rocha (Boca, de 2020), Herbert Vianna (Quase um segundo, de 1984), Itamar Assumpção (1949 – 2003) e Alice Ruiz (Sei dos caminhos, de 1991), Lenine e Lula Queiroga (Se não for amor, eu cegue, de 2011), Martins e PC Silva (Estranha toada, de 2019), Raul Seixas (1945 – 1989) e Paulo Coelho (Gita, de 1984), Roberto Carlos e Erasmo Carlos (Sua estupidez, 1969), Silvio Rodríguez (Unicornio, de 1982), Tom Zé e José Miguel Wisnik (Xique xique, tema da trilha sonora do espetáculo de balé Parabelo, de 1997) e Vitor Ramil (Noturno, de 2000).
Distribuído entre quatro arranjadores (o pianista Leandro Braga, o tecladista Sacha Amback, o violonista Marcello Gonçalves e o guitarrista Ricardo Silveira), esse repertório sinaliza que o intérprete – embora reitere o apreço pelos cancioneiros de compositores já presentes nos últimos discos e shows de Ney – continua atento aos sinais, dando voz à música do jovem e ascendente cantor e compositor pernambucano Martins, por exemplo.
Embora inclua ícones da MPB (Caetano Veloso), do rock brasileiro dos anos 1980 (Herbert Vianna) e da geração pop projetada na década de 1990 (Lenine), o time de compositores selecionados por Ney inclui nomes – Itamar Assumpção, Raul Seixas, Tom Zé, Vitor Ramil – que, em maior ou menor grau, foram marginalizados em algum momento no mercado da música brasileira, mas que transgrediram. Assim como um certo Ney de Souza Pereira, um cara meio estranho e, por isso mesmo, sempre sedutor, sobretudo quando está no palco ou dentro de um estúdio, dando a própria cara a canções alheias.
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