No Palco da Vida: artista exalta negritude com pinturas em Teresina

23/08/2023 23h33

Fonte ClubeNews

Valorizar a identidade e a importância da cultura negra é um dos propósitos mais marcantes dos trabalhos de Aline Guimarães. A teresinense de 25 anos, expressa, por meio de manifestações artísticas urbanas, como pinturas e grafites, seu orgulho de ser uma mulher preta, artista e reconhecida por fazer da arte um poderoso recurso para combater o racismo e outras formas de preconceito.

O universo artístico faz parte da sua vida desde que ela era criança. Antes de investir no grafite, Aline, também conhecida como Línea, praticou e se formou em dança aos 16 anos, na Escola Lenir Argento, onde também atua como arte-educadora.

Graças à dança, ela deu seus primeiros passos rumo às artes visuais. “Eu comecei a desenhar muito em 2017 por causa da dança, pois eu gostava muito de desenhar linhas que indicassem meus movimentos em cena. É por isso que sou chamada de Línea”, disse.

Agora, Línea Guimarães sobe ao Palco da Vida como homenageada na penúltima matéria desta série especial. Às vésperas do Dia do Artista, o Portal ClubeNews apresenta um exemplo de profissional que, além de proporcionar beleza e criatividade ao ambiente urbano, promove uma reflexão sobre a relevância da cultura negra para a sociedade.

ARTE E MILITÂNCIA

Além de dançarina e grafiteira, Línea também estuda Artes Visuais na Universidade Federal do Piauí (UFPI), a fim de reforçar seu compromisso com o trabalho artístico. Seu talento causa impacto no olhar e no pensamento de quem aprecia suas obras, nas quais o povo preto assume o protagonismo.

Segundo a profissional, cada produção conta uma história de luta contra a opressão dos negros e o preconceito racial.

“Considero essencial colocar, nos meus trabalhos, minha vivência enquanto mulher negra, assim como a vivência de inúmeras outras pessoas negras, tanto da nossa cultura, da nossa história, nossa educação, nossa espiritualidade e nossos sonhos”, afirmou.

Exaltar a negritude por meio da arte significa retirar este povo dos bastidores da marginalização para coloca-los sob a luz do palco, onde o abrir das cortinas revela a grandeza da cultura negra. À plateia, cabe aplaudir e reconhecer toda a contribuição histórica dos negros à diversidade artística e cultural do Brasil.

Por isso, Línea considera a arte um excelente instrumento de militância a favor do povo preto.

“A arte é uma forma da gente contar nossas histórias, falar da nossa própria forma. Esse direito foi, por muito tempo, tirado de nós, mas agora estamos retomando com mais força”, pontuou.

SER ARTISTA

O talento de Línea está espalhado por outras cidades. Em Fortaleza (CE), ela produziu uma empena (parte lateral de um prédio) com uma pintura denominada “Quintal”, em homenagem à sua avó.

Na capital piauiense, sua obra mais reconhecida é um mural no centro da cidade, próximo à Biblioteca Cromwell de Carvalho. Neste trabalho, a artista ressaltou o poder transformador da educação.

Diante da pouca valorização e incentivo financeiro do poder público, ela destaca o trabalho independente dos artistas.

“As políticas públicas para nossa área são bem escassas e, às vezes, é preciso ir a outros estados para conseguir algum retorno significativo. Apesar disso, eu percebo que há muita produção artística no Piauí e boa parte dos artistas estão se colocando na cena por conta própria”, frisou.

Dessa forma, Línea adota um conceito não romantizado sobre a profissão de artista, que exige dedicação e deve ser melhor remunerada para garantir o sustento dos profissionais.

“Ser artista é um modo de vida, mas também uma profissão, que precisa ser mais valorizada. Ser artista também leva tempo, muito estudo e trabalho”, concluiu.