Show de Arnaldo Antunes com pianista Vitor Araújo é oásis no deserto de emoções reais
05/04/2022 10h53Fonte G1
Imagem: Reprodução Um álbum apareceu no meio do caminho entre o show O real resiste – apresentado por Arnaldo Antunes com Vitor Araújo em 20 de outubro com 2020 em transmissão online feita do palco do Sesc Pompeia (SP) – e o recital de voz-e-piano feito pelos artistas no Teatro Riachuelo, na cidade do Rio de Janeiro (RJ), na noite de sábado, 2 de abril.Esse álbum, Lágrimas no mar (2021), motiva a turnê nacional feita pelo cantor e o pianista neste ano de 2022 e impede que o show atual seja idêntico ao da apresentação virtual de 2020. O que permanece inalterado, para sorte dos espectadores, é o clima interiorizado do recital.
Artista que pega o ouvinte / espectador pela palavra poética e (en)cantada, o paulistano Arnaldo Antunes concentra emoções no canto afinado com o estilo performático do toque de Vitor Araújo, prodigioso pianista pernambucano que explora todas as possibilidades de extrair sons do instrumento, seja manuseando as teclas com habilidade ímpar, seja percutindo a madeira do piano.
Show de arquitetura multimídia, que se vale de luzes e projeções para criar efeitos climáticos no palco, O real resiste / Lágrimas no mar é oásis no deserto de emoções reais na era dos sentimentos plastificados das redes sociais.
Aberto com Manhãs de love (2014), parceria de Erasmo Carlos com Arnaldo, o roteiro abarca as músicas do álbum Lágrimas no mar sem alterar a configuração e o sentido original do show. Até porque o disco representou mergulho interior dos artistas nas emoções de músicas que estão sobressaindo em cena, caso em especial de Enquanto passa outro verão (Cezar Mendes e Arnaldo Antunes, 2021), canção de beleza inebriante que versa sobre o imobilismo provocado pelo amor.
Outra parceria de Arnaldo com o melodista Cezar Mendes apresentada no álbum Lágrimas no mar, Umbigo (2021) marca no show a entrada em cena de Marcia Xavier, com quem Arnaldo baila e canta em tempo de delicadeza e harmonia.
Como no disco, a participação da artista também se estende no show ao dueto com Arnaldo em Como 2 e 2 (Caetano Veloso, 1971), flash de nublados tempos idos que assombram o Brasil em 2022 como fantasma de passado de autoritarismo.
Com adições de músicas como Socorro (Arnaldo Antunes e Alice Ruiz, 1994), lembrança oportuna em tempos pautados pela automação das emoções, o roteiro do show atual preserva acertos do recital de 2020 como a canção Lua vermelha (Arnaldo Antunes e Carlinhos Brown, 1996) – iluminada nos tons introspectivos da apresentação, em número climático, agora feito sem a citação da marcha Bandeira branca (Max Nunes e Laércio Alves, 1969) – e Saia de mim (Titãs, 1991), rock que faz pulsar a veia punk que há 40 anos injeta o sangue do inconformismo no coração e na cabeça do dinossauro do rock brasileiro.
Arnaldo Antunes soube evoluir ao longo desses 40 anos, como comprova a afinada parceria com Vitor Araújo nos estúdios e nos palcos.
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