Como os chutes a gol de Messi deram Ãmpeto a aulas de matemática no sertão de Alagoas
22/12/2021 11h59Fonte G1
Imagem: Reprodução
Em abril de 2019, para analisar o desempenho do jogador Lionel Messi em seu então clube, o Barcelona, o site de análise de dados FiveThirtyEight reuniu em um gráfico os mais de 120 chutes a gol feitos pelo craque argentino de fora da área, nas temporadas entre 2017 e 2019 da Liga Espanhola e da Liga dos Campeões.A conclusão dos analistas do FiveThirtyEight era de que Messi (hoje no PSG) era o "motor" dos gols e tentativas de gols de seu antigo clube, até mais do que quando o argentino estava no auge de sua carreira.
Agora, mais de dois anos depois, os erros e acertos de Messi no Barcelona estão servindo para reforçar as aulas de Matemática de alunos muito distantes do estádio do Camp Nou - em Santana de Ipanema, cidade de 48 mil habitantes no sertão de Alagoas.
Ao ver o gráfico do desempenho de Messi (abaixo), a professora Claricy Alves Silva enxergou uma oportunidade para engajar seus estudantes do 2° ano do ensino médio na Matemática da vida real, indo além de fórmulas e conceitos - e estimulando o raciocínio.
"Quando mostrei o gráfico, os alunos queriam uma resposta pronta sobre como interpretar aquilo; até começaram a pesquisar na internet. Quando viram que não era essa a finalidade, mergulharam na atividade", explica Claricy Silva à BBC News Brasil.
"A primeira conclusão é que se Messi erra tanto (foram cerca de 20 gols marcados entre os 120 chutes de fora da área), e mesmo assim é o melhor do mundo (o argentino recebeu o prêmio Bola de Ouro em novembro, pela sétima vez em sua carreira), é porque ele é muito persistente", conta a professora.
Mas a discussão na sala de aula foi além.
"A ideia central era trabalhar a importância dos dados - de ler e interpretá-los", prossegue Silva, que inicialmente descreveu sua experiência no site de educação Porvir.
"A Matemática está em todo lugar no dia-a-dia. E sentimos na pele, durante a pandemia, a dificuldade das pessoas em interpretar dados e como isso favoreceu (a disseminação de) notícias falsas."
O desempenho de Messi serviu, então, para discussões sobre probabilidade de erros e acertos nos chutes; sobre estatística - cujo ensino estava defasado em decorrência da pandemia, diz Silva -; e sobre quais ângulos ou posições o jogador foi mais ou menos eficiente em sua missão de marcar gols.
"Discutimos, por exemplo, para quem essas informações (sobre os chutes de Messi) eram importantes? Para seu técnico? Para o técnico do time adversário, ao armar sua defesa?"
Mas, para muitas das perguntas levantadas em sala, não havia uma resposta única. E respostas erradas também passaram a ser celebradas, como uma oportunidade para discutir hipóteses e permitir o aprendizado.
"O que prejudica o ensino da Matemática é a negatividade - é acreditar que não se é capaz, e isso vai se mantendo (perpetuando)", pondera a professora. "Me emociono quando um aluno me conta que errou e me explica por quê. Sei que se ele tivesse se sentindo reprimido em sala, não falaria."
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