História apagou o quanto os africanos escravizados enriqueceram o Brasil, diz Laurentino Gomes

27/06/2021 14h50


Fonte G1

 
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Cerca de 2 milhões de pessoas foram arrancadas de suas terras na África, marcadas a ferro quente, embarcadas em navios, e comercializadas como se fossem produtos no Brasil ao longo de 100 anos.

Não à toa, esse movimento deixou profundas cicatrizes na sociedade brasileira até hoje, mas, mesmo com tamanha importância, ainda é insuficientemente discutido.

"A escravidão é o assunto mais importante da história do Brasil, sem ela você não consegue entender nenhum acontecimento histórico", diz Laurentino Gomes, sete vezes ganhador do Prêmio Jabuti de Literatura.
Prestes a lançar a segunda edição de uma trilogia sobre a escravidão no Brasil, Gomes conversou com a BBC News Brasil sobre o tema. Para o autor, que também já escreveu outros três best sellers sobre a história do Brasil, a escravidão não é assunto apenas para livros de história ou museus, mas ainda se demonstra na realidade do país em pleno século 21.

"A escravidão está nos indicadores sociais até hoje. Há um abismo entre números referentes ao Brasil branco e o Brasil negro, além do racismo, que é como uma ferida que fica abrindo a toda hora", afirma.

"A contribuição dos africanos é enorme, não só do ponto de vista econômico, mas na formação do caráter, do comportamento, das crenças religiosas, da culinária, da música, da dança, do jeito de as pessoas se relacionarem umas com as outras; eu diria que a raiz disso é africana", conta.

O livro Escravidão – Da corrida do ouro em Minas Gerais até a chegada da corte de Dom João ao Brasil concentra-se entre 1700 e 1800, auge do tráfico negreiro no Atlântico, motivado pela descoberta das minas de ouro e diamantes em território brasileiro e pela disseminação, em outras regiões da América, do cultivo de cana-de-açúcar, arroz, tabaco, algodão e outras lavouras e atividades de uso intensivo de mão-de-obra africana escravizada.

"As pessoas mais ricas do Brasil no final do século 18 não eram senhores de engenho, barões do café, já não eram mais os mineradores de ouro e diamante, mas sim os traficantes de escravos. A compra e venda de pessoas se tornou o maior negócio do Brasil e do mundo nessa época", afirma.


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